“A cultura do estupro faz com que uma vítima de uma violência sexual seja mais punida que o autor do estupro”. Essa é a fala da delegada Jozirlethe Magalhães Criveletto, titular da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher em Cuiabá. O termo é usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas e normaliza o comportamento violento dos homens.
“Ainda vivenciamos a cultura do estupro, que faz com que a vítima tenha medo de denunciar. Por exemplo, uma mulher vai em uma festa, bebe algo alcoólico. Muitas vezes não é a bebida alcoólica que vai fazer que ela fique dopada, é o remédio, substância que foi colocada naquela bebida”, explica a delegada.
“Mas depois que ela acorda e percebe que alguém a violentou, ela começa a se sentir culpada por ter tomado aquele gole de cerveja. Ela começa a pensar que os próprios familiares e amigos não vão acreditar nessa história. Ou seja, é a cultura do estupro que faz com que uma vítima de uma violência sexual seja mais punida que o autor do estupro”, salienta.
Na maioria dos casos, as vítimas procuram a polícia após um longo período da violência sexual. “Ela passa a se questionar se vai ser desacreditada. Depois de um tempo conversando com amigos, familiares que dão força para a vítima, ela começa a entender que precisa tomar uma postura, decidir denunciar. Tem muito isso de mulheres que procuram a polícia depois de uma semana, um mês. Todas as vezes que você pergunta ‘qual é o motivo?’, ela diz ‘é o medo de chegar aqui e ser vista como mentirosa, de ser julgada, de não acreditarem que realmente fui dopada e não que eu estava bêbada voluntariamente'”, acrescenta.
Ainda conforme a delegada, os casos mais comuns de denúncia imediata são aqueles cometidos por homens desconhecimentos, ocasiões que ocorrem até mesmo sequestros. “É muito difícil ter uma vítima que acabou de ser violentada sexualmente e corre para delegacia. A não ser aqueles casos tradicionais de um terceiro, nunca visto, um sequestro que leva para lugar ermo”, finaliza.