Os carros ainda não circulavam, faltavam algumas horas para o trânsito ser liberado e a cerimônia de entrega do viaduto Murilo Domingos estava prestes a começar em uma noite de segunda-feira (10), em Cuiabá. Enquanto imprensa e autoridades chegavam e se acomodavam, uma mulher andava pelas vigas da estrutura, entre painéis de arte em concreto. Sozinha, olhava pra cima, tirava uma foto. Passeando por debaixo da estrutura de 200 metros de extensão, dona Marilda da Silva assistia mais um capítulo da história de Cuiabá sendo traçado em uma avenida que conhece de toda uma vida.
Há quase cinquenta anos a Avenida Beira Rio era construída pelo prefeito Rodrigues Palma, um gestor conhecido pela grandiosidade de suas obras e pela quantidade também, o que deu origem ao seu apelido de prefeito biônico.
Meio século se passou, a cidade cresceu e a avenida se tornou uma das principais vias da capital. Uma vitrine para as águas do rio Cuiabá. Condomínios residenciais, faculdades, bares, restaurantes e o comércio em geral se desenvolveram na região. Mas aí veio o trânsito, de Várzea Grande, do Porto, do Coxipó e a avenida não acompanhava mais a fluidez do rio.
Será que era chegada a hora de mais um gestor biônico? Da etimologia da palavra, um ser humano biônico seria uma pessoa que busca soluções inovadoras por meio de estudos científicos. Então, o que seria a construção de uma estrutura de 64 vigas de concreto, sustentando uma via de 200 metros de extensão para garantir trafegabilidade a cerca de 145 mil pessoas indiretamente do que uma solução inovadora construída com estudos científicos? Assim dizendo, foi preciso mais um gestor biônico, com uma equipe igualmente reforçada para novamente escoar desenvolvimento pela Beira Rio.
“Assim que tomei posse no primeiro mandato, fui buscar os grandes projetos que os meus antecessores, por algum motivo, dificuldade ou percalço não conseguiram tirar do papel. E qual daqueles desenhos eram sonhos que eu queria transformar em realidade, contemplando o povo cuiabano. E começou ali, na Secretaria de Planejamento e no Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano essa jornada de um projeto desafiador e extraordinário”, relata o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro.
Gestores biônicos para obras biônicas. Obras que transportam vidas. Vidas que constroem obras e dão significado a cada grão de cimento, areia e pedra concretados. Uma dessas vidas é a de dona Marilda, que comemorava 56 anos na noite de entrega do viaduto e admirava a história que ajudou a erguer. De Campo Grande para Cuiabá, moradora do bairro São Mateus, há 30 anos ela participa do desenvolvimento, anda por ele, de ônibus, de carro, de bicicleta, a pé. Criou a filha e quatro netos entre idas e vindas pela beira do rio.
“Eu ando isso aqui tudo. Acompanhei a construção e até que foi rápido. É uma transformação bonita de se ver. Fiz questão de parar aqui hoje voltando da aula para ver como ficou a obra”, disse a senhora que voltava do curso de libras no Senai e fez questão de adiantar a descida do transporte coletivo para dar uma olhadinha no viaduto antes da inauguração. “Vai mudar a vida dos trabalhadores aqui”, completou enquanto tirava mais uma foto.