O Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Araguaia torna público os resultados das análises de material hídrico colhido em Barra do Garças. Foram coletados materiais nos Córregos Avoadeira e Fundo. A escolha dos pontos de coleta se deu de acordo com a dinâmica de deslocamento dos recursos hídricos, que deságuam no Rio Garças e, subsequentemente no Rio Araguaia.
A pesquisa demonstra que a qualidade de água no Córrego Avoadeira, após o Parque Estadual da Serra Azul, encontra-se indesejável na área urbana, com ressaltada preocupação na área conhecida como Lagedo, por ser o local público ao uso como balneário.
Segundo o CBH, deve haver monitoramento do despejo direto de esgoto doméstico e de outros resíduos que adentram o recurso hídrico, desde as Cachoeiras da Usina e Pé da Serra e o seu entorno na Área de Proteção Ambiental (APA), investigando essas contaminações e também se há ocupação e uso irregular das margens do córrego.
“Esses dados preliminares apontam a contaminação e ainda se fazem necessários mais monitoramento e, sem dúvida, investigação em todo o seu leito” explica Clodoaldo Carvalho Queiroz, presidente do CBH Alto Araguaia.
A ação em Barra do Garças é continuidade do trabalho iniciado em Torixoréu no primeiro trimestre de 2020, a partir de denúncia do Ministério Público Federal. Na ocasião, amostras das águas do afluente do Córrego Capim Branco e de outro afluente urbano do Rio Araguaia apontaram contaminação elevada por despejo direto de esgoto doméstico. Sendo assim, impróprias para consumo humano e animal.
Os dados preocupantes suscitaram no CBH Alto Araguaia a necessidade de conhecer a realidade dos córregos urbanos das cidades que compreendem a bacia, dando início ao Projeto Qualidade dos corpos hídricos urbanos da bacia. Conforme foi decidido na última reunião ordinária do Comitê, Barra do Garças é a segunda cidade a ser submetida às análises biológicas.
Coleta
O CBH coletou material em quatro pontos do Córrego Avoadeira: Cachoeira da Usina, no Lagedo, na foz do Monjolo e próximo à foz com o Rio Araguaia e em mais quatro no Córrego Fundo: área rural, nos bairros Nova Barra, Ouro Fino e Sena Marques.
“O Córrego Fundo é o maior córrego que atravessa Barra do Garças e o Avoadeira é o mais representativo dos córregos de lazer e visitação na área urbana, com origem no Parque Estadual da Serra Azul”, informa Clodoaldo Queiroz
Para o CBH é possível afirmar que resíduos de esgoto domésticos estão diretamente interferindo na qualidade das águas da cidade, mas ainda se faz necessário investigar a origem dessas contaminações.
O Prof. Dr. Marco Antônio Vieira Morais (IFMT/BG) apontou para a existência de dois problemas fundamentais dos poluentes referentes às soluções individuais adotadas pela população. O primeiro deles são as chamadas “fossas negras”.
Esse tipo de recurso, de esgoto não tratado, lançado diretamente no solo promove poluição difusa. “Esse tipo de poluição por estar espalhada no espaço, requer investimentos muito alto para a descontaminação”, frisa o especialista.
A segunda fonte de poluição advém do lançamento direto de esgoto doméstico nos coletores pluviais que, invariavelmente, vão para os córregos urbanos.
A análise
Com equipe reduzida, atendendo as normativas do Decreto do Governo de Mato Grosso de distanciamento social em meio à pandemia do novo coronavírus, o CBH Alto Araguaia realizou coleta em importantes pontos dos cursos urbanos dos córregos Fundo e Avoadeira.
Nesses locais, o Comitê alcançou o leito dos córregos e realizou exame utilizando a sonda HI 98194 da Hanna, que tem capacidade de medir até 12 parâmetros da qualidade da água, como Oxigênio Dissolvido, PH, Temperatura, Condutividade, Potencial de Redução e Oxidação.
Houve ainda a coleta de amostra representativa para a análise biológica no Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT), seguindo recomendações técnicas requeridas por órgãos de controle ambiental, com validação científica.
Para o Prof. Dr. Marco Antônio, já era esperado encontrar a bactéria E. Coli (bactéria fecal) nos córregos visitados, principalmente pelo hábito urbano de usar esses cursos hídricos como “sumidouro de esgotos”.
Morais reforça que a “pressão urbana sobre o recurso hídrico, tanto captando água quanto fazendo do mesmo o receptor dos nossos rejeitos sem tratamento, tem colocado em risco a qualidade deste bem precioso e essencial”.
Os dados obtidos a partir destas análises serão compartilhados com os membros do Comitê para a provocativa das necessidades de monitoramento e menor impacto ambiental nesses afluentes importantes do Rio Garças e Rio Araguaia.
Também serão remetidos aos principais órgãos de fiscalização, tais como a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), a gerência do Parque Estadual da Serra Azul (PESA) e a Prefeitura Municipal de Barra do Garças, juntamente com o pedido de providências.
O CBH Alto Araguaia afirma que continuará o monitoramento para contribuir ainda mais com esses estudos, buscando uma mobilização em prol da qualidade desses afluentes.
A próxima reunião ordinária do Comitê está prevista para agosto deste ano na cidade de Ribeirãozinho/MT onde pretende-se realizar visita técnica nos córregos urbanos da cidade para a continuidade ao Projeto Qualidade dos corpos hídricos urbanos da bacia.
Conheça o CBH Alto Araguaia
Instituído em 2019, o Comitê atua como uma ferramenta de ação política para a conservação das águas dos afluentes da bacia do Alto Araguaia. Conhecido como o “parlamento das águas”, o CBH abre espaço para que entidades e representantes da sociedade civil possam debater e deliberar propostas para utilização sustentável dos recursos hidrográficos da região. Além do Alto Araguaia, existem outros nove comitês atuantes em Mato Grosso.
O CBH Alto Araguaia atua nas regiões próximas ao curso dos rios Garças e Araguaia, atendendo às demandas das cidades mato-grossenses de Alto Araguaia, Alto Garças, Alto Taquari, Araguainha, Barra do Garças, General Carneiro, Guiratinga, Pontal do Araguaia, Ponte Branca, Ribeirãozinho, Tesouro e Torixoréu.