Com as medidas de prevenção ao coronavírus, que incluem a suspensão de visitas presenciais nas cadeias de Mato Grosso, as mães reeducandas ganharam um aliado para tentar suprir a saudade dos filhos: os meios de comunicação. As unidades penais também ajustaram a programação de comemoração do Dia das Mães e irão realizar atividades internas com intuito de amenizar a ausência dos filhos e a ansiedade das mulheres. As policiais penais que estarão de plantão também serão contempladas com a iniciativa.
Cumprindo pena na Cadeia Pública de Nortelândia (250 km ao Centro-Sul de Cuiabá), a reeducanda Aline havia acabado de retomar o contato com a filha, de seis anos de idade, depois de enfrentar a resistência do pai e familiares dele.
Ela foi mãe aos 16 anos de idade e presa aos 18, por isso a convivência foi mínima. Hoje, com 23, completou quatro anos na unidade e ainda cumprirá cerca de 10 anos de pena. A menina fica com os avós paternos, em Tabaporã (643 km ao Norte da capital), e por conta de um acidente, teve edema cerebral e necessita de cuidados especiais.
“Ela ficou com algumas sequelas, tem dificuldade na fala e para andar. Eu consegui retomar a comunicação com eles e obter notícias dela recentemente, estava reconstruindo nossa relação”, conta a mãe.
Como o município é distante, estavam programando a visita da filha, quando os planos foram suspensos, justamente em função das medidas de prevenção ao coronavírus. Para tentar amenizar a situação, a unidade tem propiciado o contato por cartas, ligações e e-mails. “Não ter participado da vida da minha filha é algo que me pesa muito, sempre digo que a cadeia não é o que dói mais, mas a falta da família, a saudade é o que mais machuca”.
Aline diz que receber uma carta é transformador. “Eu fico triste porque esse vírus aconteceu bem na hora que estava reconstruindo o alicerce familiar, mas pelo menos temos essa opção. Saber que alguém parou um instante para escrever, que se preocupa e lembra de você, é o que me dá forças”.
A jovem frisa que a maternidade, mesmo para quem comete erros, é algo sublime. “É uma dádiva que Deus deu e, independente de sermos mulheres presas, todas nós temos um sentimento, um coração, mas não deixamos de ser mães e mulheres”.
Cumprindo pena há 10 meses na Cadeia Pública de Nortelândia, a reeducanda Daniela mantém contato frequente com os quatro filhos, de 15, 13, 10 e seis anos de idade. É o primeiro Dia das Mães que vai passar reclusa.
“Sinto muita saudade, falo com eles por telefone atualmente. Antes, eles não falhavam nenhum sábado de visita, agora vai fazer muita falta”. Para ela, que tem 37 anos de idade, os telefonemas e as cartas são formas de diminuir um pouco a tristeza. “É diferente de abraçar e beijar, mas pelo menos conseguimos saber como eles estão. Espero que isso passe logo”.