Mato Grosso, um dos estados mais vastos e biodiversos do Brasil, enfrenta um alerta de saúde pública devido ao aumento dos casos graves de malária. Mesmo com a redução das notificações da doença nos últimos três anos, o número de internações continua preocupante, somando 423 casos entre 2021 e julho de 2024. Este cenário levou a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) a emitir um alerta para todas as secretarias municipais, ressaltando a necessidade de intensificação das medidas de controle e prevenção.
Redução de Casos Notificados, Mas Aumento de Casos Graves
Entre 2021 e 2023, Mato Grosso notificou 6.355 casos de malária. Em 2021, foram registrados 3.701 casos, seguidos por uma redução significativa de 61% em 2022, com 1.444 casos. No ano passado, a redução foi mais modesta, com 1.210 notificações, representando uma queda de 16% em relação ao ano anterior. No entanto, o número de casos graves não seguiu a mesma tendência de queda, permanecendo elevado durante todo o período.
Em 2021, foram registrados 115 casos graves, número que caiu para 97 em 2022, mas voltou a subir em 2023, com 116 ocorrências. Em 2024, até o mês de julho, já foram contabilizados 95 casos graves, sugerindo uma tendência de aumento até o final do ano. Essa situação é especialmente alarmante, considerando que a maioria dos casos graves foi causada pelo Plasmodium vivax, uma espécie de malária geralmente associada a formas mais leves da doença.
Internações e Mortalidade por Malária em Mato Grosso
A permanência de casos graves em Mato Grosso tem preocupado as autoridades de saúde. Além do alto número de internações, o estado também registrou mortes relacionadas à malária: dois óbitos em 2021, três em 2022 e dois em 2023. Em 2024, um óbito está sob investigação. Estes dados revelam que, embora a malária seja geralmente tratável, a falta de um diagnóstico oportuno e a demora no início do tratamento podem levar a complicações severas e até à morte.
Fatores Contribuintes para o Aumento dos Casos Graves
A SES-MT destaca que a maioria dos casos registrados em 2024 ocorreu em áreas de garimpo, totalizando 540 ocorrências. O aumento da presença de pessoas em áreas de risco, a degradação ambiental causada pela mineração e a falta de medidas de prevenção adequadas contribuem para a propagação da doença. Além disso, a demora na busca por serviços de saúde e possíveis falhas na implementação de ações de saúde pública são fatores que complicam o quadro da malária em Mato Grosso.
As áreas mais afetadas no estado incluem os municípios de Vila Bela da Santíssima Trindade, Conquista d’Oeste, Pontes e Lacerda, Nova Bandeirantes, Aripuanã e Colniza, que pertencem às regiões Norte e Noroeste de Mato Grosso. Essas localidades são conhecidas por suas atividades de garimpo, que, ao alterar o meio ambiente, criam condições favoráveis para a proliferação do mosquito Anopheles, vetor da malária.
Alerta para os Gestores Municipais
Diante deste cenário, a SES-MT emitiu recomendações específicas para os gestores municipais. Entre as principais ações, destaca-se a necessidade de garantir condições logísticas adequadas para a realização de busca ativa de casos, diagnóstico precoce e tratamento adequado. Além disso, é crucial investigar todos os casos de malária reportados, bem como implementar medidas de resposta e prevenção para evitar novos surtos.
A SES-MT também enfatiza a importância de um diagnóstico oportuno e do início rápido do tratamento, que são essenciais para evitar complicações. “Quanto mais tardio o tratamento da infecção malárica, maior a parasitemia, as complicações e o tempo de cura, ficando o paciente como fonte de infecção para o vetor e disseminação da doença”, alertou o órgão estadual.
Malária: Uma Doença Antiga, Mas Ainda Presente
A malária é uma doença infecciosa e febril, causada pelo parasita do gênero Plasmodium e transmitida ao ser humano pela picada do mosquito Anopheles infectado. No Brasil, as espécies mais comuns que causam malária são Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax e Plasmodium malariae. Entre elas, o Plasmodium falciparum é o mais agressivo e responsável pela maioria dos casos graves.
Embora a malária seja mais comum em regiões tropicais e subtropicais, sua presença em áreas de garimpo, como as encontradas em Mato Grosso, reforça a necessidade de vigilância constante. A degradação ambiental, causada pela extração de recursos naturais, muitas vezes resulta em ambientes propícios para a proliferação do mosquito vetor, aumentando o risco de transmissão da doença.
Prevenção: A Chave para Combater a Malária
Dada a gravidade da situação em Mato Grosso, a prevenção continua sendo a estratégia mais eficaz para combater a malária. Entre as principais medidas de prevenção, destaca-se o uso de cortinados e mosquiteiros sobre a cama ou rede, preferencialmente impregnados com inseticidas de longa duração. Além disso, é importante instalar telas em portas e janelas para impedir a entrada de mosquitos.
Outras recomendações incluem evitar locais próximos a criadouros naturais de mosquitos, como margens de rios e áreas alagadas, principalmente do final da tarde até o amanhecer, quando os mosquitos são mais ativos. O uso de roupas que cubram a maior parte do corpo e de repelentes também são medidas importantes, especialmente em áreas endêmicas.
É importante ressaltar que, em crianças menores de 2 anos de idade, o uso de repelentes deve ser feito apenas com orientação médica, para evitar possíveis reações adversas.