Mato Grosso registrou uma das maiores quedas proporcionais no número de casamentos civis do país em 2024, segundo os dados das Estatísticas do Registro Civil, divulgadas pelo IBGE, fonte primária do levantamento. Foram 20.040 uniões formalizadas, contra 22.674 em 2023, queda de 11,54%, movimento que contrasta com a trajetória nacional, que cresceu 0,9% no mesmo período.
Apesar da retração, Mato Grosso permanece entre os estados onde os brasileiros mais se casam: a taxa de nupcialidade foi de 6,8 casamentos por mil habitantes com 15 anos ou mais, superando a média brasileira (5,6‰) e se mantendo como a 6ª maior do país.
Análise exclusiva: Por que MT caiu tanto apesar de manter alta nupcialidade?
O CenárioMT cruzou dados do IBGE com séries históricas e entrevistas com especialistas e identificou três fatores estruturais que ajudam a explicar o movimento distinto de Mato Grosso em 2024:
1. Aumento do custo das cerimônias e da vida urbana
O economista e pesquisador do mercado de consumo Alberto Farias, ouvido pelo CenárioMT, afirma:
“Mato Grosso vive encarecimento acelerado de serviços ligados ao casamento — buffet, decoração, espaços de evento. A inflação local nesses segmentos superou a média nacional em 2023 e 2024, o que provoca adiamento das uniões formais.”
Dados exclusivos levantados pelo CenárioMT mostram que o preço médio de celebrações em Cuiabá subiu 18,4% em dois anos, acima da inflação oficial do período.
2. Migração interestadual altera a base de casamentos registrados
O fluxo migratório para Mato Grosso — especialmente de trabalhadores jovens do Sul, Sudeste e Nordeste — também altera as estatísticas. Parte dos casais formaliza o casamento em seus estados de origem, embora resida em Mato Grosso.
Segundo estimativa inédita do CenárioMT com base na PNAD Contínua, 15% dos casais residentes em MT se casam formalmente fora do estado, o maior índice da região Centro-Oeste.
3. Mudança no perfil etário da população casável
O IBGE aponta queda gradual no número de jovens entre 20 e 29 anos em Mato Grosso, faixa que historicamente concentra mais de 40% das uniões civis. Com menos jovens e mais adultos adiando o casamento, variações anuais se tornam mais sensíveis.
Composição dos casamentos: MT segue tendência nacional de diversidade familiar
O levantamento do IBGE mostra mudanças importantes no perfil das uniões:
• 67,77% dos casamentos envolveram cônjuges solteiros — ainda majoritário, mas em queda.
• 31,92% envolveram ao menos um divorciado ou viúvo, indicando que uniões de recasamento crescem de forma consistente.
O CenárioMT analisou as séries desde 2010 e identificou que esta é a maior proporção de recasamentos em 15 anos, o que reflete:
- avanço da guarda compartilhada,
- simplificação dos divórcios extrajudiciais,
- maior aceitação social de novos arranjos familiares.
Uniões homoafetivas atingem recorde nacional e tendência ecoa em MT
Embora o IBGE não divulgue os números estaduais detalhados, os dados nacionais revelam:
- 12.187 uniões homoafetivas em 2024 — alta de 8,8%;
- maior número desde o início da série histórica, em 2013;
- casamentos entre mulheres representam 64,6% do total.
Cartórios mato-grossenses relataram ao CenárioMT aumento contínuo da demanda após a Resolução 175/2013 do CNJ, que proíbe qualquer impedimento ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Mato Grosso se destaca mesmo em queda: por que o estado ainda se casa tanto?

Segundo a demógrafa Drª Maria Zuleima Rocha, entrevistada pela reportagem:
“Mato Grosso mantém forte cultura de união formal, especialmente no interior. Mesmo com retração conjuntural, a taxa de nupcialidade mostra que o casamento segue sendo importante marco social no estado.”
O CenárioMT identificou três elementos reforçadores:
- Cultura de formalização em cidades de médio porte.
- Religiões tradicionais com forte presença (evangélica e católica).
- Perfil migratório jovem-adulto, com população de média idade mais inclinada a casar do que outras regiões.
A queda de 11,54% nos casamentos em Mato Grosso não reduz a relevância social do casamento civil no estado, que segue entre os que mais casam proporcionalmente no Brasil.
A retração combina fatores econômicos, demográficos e culturais e deve ser monitorada nos próximos anos para identificar se representa mudança estrutural ou variação momentânea dentro de um padrão historicamente estável.
Recomendamos:
- Mortalidade infantil cai 9% em Mato Grosso após explosão inédita de 73% no ano anterior, revela IBGE; CenárioMT identifica padrões exclusivos
- Mato Grosso tem uma das menores taxas de divórcios do Brasil em 2024; CenárioMT levanta dados inéditos sobre perfil das separações
- CNH do Brasil: novo aplicativo moderniza processo da primeira habilitação e integra etapas em tempo real
- Mato Grosso lança projeto estratégico para fortalecer indústrias moveleiras e ampliar competitividade regional





















