Investigações da Polícia Civil para esclarecer crimes contra a vida praticados por integrantes de organizações criminosas na região metropolitana de Cuiabá resultaram em 36 indiciamentos e 35 prisões cumpridas entre o ano passado e o primeiro semestre deste ano.
O trabalho da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Cuiabá é desenvolvido em um núcleo que concentrou, a partir do ano passado, todas as investigações de homicídios que tem relação com integrantes de facções criminosas.
Apenas no primeiro semestre deste ano, a DHPP fez o indiciamento de sete investigados, dos quais quatro estão foragidos, com mandados de prisões expedidos. No ano passado foram 29 indiciados e 33 mandados de prisão cumpridos.
O delegado responsável pelo núcleo, Caio Fernando Albuquerque, aponta que a concentração dos inquéritos possibilitou que a delegacia pudesse reunir informações que estavam em outros cartórios e, assim, aperfeiçoar e avançar nas investigações, o que se reflete nos números de inquéritos concluídos com autores presos e indiciados.
“Salvo raríssimas exceções, a totalidade dos indiciados permanece presa. Já os foragidos, estes estão cientes da gravidade das acusações a si imputadas, e o que ensejarão condenações no patamar de vinte anos por crime, em regime inicial fechado, conforme se verifica em casos semelhantes já julgados”, comentou o Caio Albuquerque.
Núcleo
Para o titular da DHPP, delegado Fausto Freitas, o trabalho adotado auxilia a polícia a entender melhor como agem esses criminosos e como a força policial pode fazer um enfrentamento qualificado para esclarecer os crimes e chegar às prisões dos autores.
“O núcleo operacional criado para atuar especificamente nesse tipo de investigação consegue, desta forma, fazer um enfrentamento mais qualificado ao tipo de homicídio praticado, unindo informações que às vezes estavam espalhadas em outras equipes. Com todas agora concentradas em uma única equipe, é possível identificar as ligações entre vários crimes ocorridos, conhecendo as regiões, locais de ocorrência, quem está por trás”, reforçou Fausto.
Salves
Muitos homicídios investigados pelo núcleo decorrem de execuções ordenadas em ‘tribunais do crime’, prática utilizada por grupos criminosos para decretar a morte de uma pessoa considerada inimiga ou que tenha desobedecido a alguma ordem da facção.
Um dos casos apurados foi a morte de Rogério Ricard Santos, 44 anos, ocorrido no início do ano em Cuiabá. Ele foi brutalmente agredido a pauladas, na região do bairro Primeiro de Março, não resistiu aos ferimentos e foi a óbito na noite de 17 de fevereiro, no hospital municipal de Cuiabá. Ele sofria de esquizofrenia e andava pelas ruas do bairro.
As investigações da DHPP identificaram os envolvidos no homicídio e o veículo utilizado para levar a vítima até o local onde foi espancada, um campo de futebol no bairro João Bosco Pinheiro. Depois do espancamento, Rogério ainda conseguiu procurar socorro na casa de uma moradora.
O comportamento da vítima, que tinha esquizofrenia, teria causado incômodo em moradores e comerciantes do bairro, que não compreendiam o problema psiquiátrico de Rogério, tampouco as consequências da doença. Os investigadores apuraram ainda que a vítima foi morta em represália a uma briga anterior com os criminosos e porque também teria supostamente cometido furtos no bairro. Assim, criminosos da região determinaram determinaram o ‘salve’ contra a vítima.
Outro homicídio esclarecido e com as prisões dos envolvidos efetuadas foi o que vitimou Pedro Paulo Pereira da Silva, 31 anos, encontrado morto em 15 de abril do ano passado. Inicialmente, a vítima não foi identificada, pois seu corpo, localizado no Jardim Humaitá, estava parcialmente carbonizado e enrolado em um cobertor.
A apuração apontou que a vítima foi morta em uma residência no bairro Jardim Presidente 2 e o corpo desovado no Jardim Humaitá. Com a identificação da residência, foram realizadas perícias que indicaram que o local foi lavado, no intuito de apagar os vestígios de sangue da vítima que foram encontrados em diversos pontos da casa, além de objetos. Após a execução do crime, os dois suspeitos não foram mais vistos na região.
As informações reunidas no inquérito indicaram que a vítima foi morta porque, supostamente, teria cometido crimes no bairro onde residia e, assim, teve a morte ‘decretada’ por integrantes de uma facção criminosa em um ‘tribunal do crime’. Pedro Paulo sofreu diversos espaçamentos.
“A vítima foi agredida, seguramente, por mais de um executor, o que se evidencia pela quantidade de lesões e decidiu-se pela morte como forma de punição por seus comportamentos, notadamente por supostos danos causados a moradores”, explicou o delegado Caio Fernando.