A formação de ilhas ao longo do Rio Paraguai deveria acontecer de forma natural e, para isso, levaria milhares de anos, segundo especialistas. No entanto, o uso de agrotóxicos nas lavouras e a construção de hidrelétricas têm mudado o curso das águas e acelerado este processo.
A doutora em ecologia Solange Ikeda Castrilon disse que há propostas para aumentar de 40 para 100 hidrelétricas e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) nos rios Sepotuba, Cabaçal e Jauru, o que pode comprometer ainda mais o desenvolvimento de espécies que vivem no Pantanal.
Segundo Solange, em determinadas épocas do ano, várias espécies do Pantanal dependem da inundação para se reproduzirem, pois, assim, fica mais difícil para os predadores chegarem onde estão. Para isso acontecer, é necessário que o rio transborde e invada a planície.
No entanto, a construção das usinas e a utilização de agrotóxicos estão mudando o pulso de inundação e poluindo as águas.
“Essas hidrelétricas seguram a água na parte alta do Pantanal. A soma de todos esses fatores com as mudanças climáticas e com a presença do homem ampliando o sedimento, nós vamos alterar esse sistema rapidamente. Ele precisa ser monitorado”, ressaltou.
As curvas do Rio Paraguai
Outra preocupação dos pesquisadores e ambientalistas é o uso do Rio Paraguai para o escoamento da produção de grãos, em Mato Grosso. A hidrovia Paraguai/Paraná vai de Cáceres, a 220 km de Cuiabá, até Nova Palmira, no Uruguai, que dá um total de 3.400 km de extensão.
A ecóloga Carolina Joana da Silva explicou que as embarcações que atravessam as águas do Pantanal precisam de uma grande quantidade de barcaças e de uma extensão maior para conseguirem passar, mas o rio é cheio de curvas estreitas e não tem como o barco passar sem derrubar essas curvas.
“Não podemos permitir que qualquer atividade econômica faça com que essa água saia do Pantanal, porque o Pantanal é água, e nós não podemos deixar que essa água vá embora ou que fique fora de lugar. A água da bacia como um todo está indo embora”, pontuou.