Trio que viveu momentos de terror em Israel conquista medalhas em Santiago

Ymanitu Silva, Leandro Pena e Daniel Rodrigues estavam em Tel Aviv quando começaram os ataques do Hamas. Um mês e meio depois, subiram no pódio no Chile

Fonte: AgênciaGov

Trio que viveu momentos de terror em Israel conquista medalhas em Santiago -
Trio que viveu momentos de terror em Israel conquista medalhas em Santiago -

Quem vê a dupla brasileira masculina do tênis em cadeira de rodas no pódio dos Jogos Parapan– Americanos de Santiago 2023 não imagina a situação que os dois precisaram enfrentar no mês passado. No dia 6 de outubro, uma sexta-feira, Ymanitu Geon da Silva, atleta de 40 anos nascido em Tijucas (SC), se preparava para mais um torneio internacional quando viveu momentos de terror ao lado do colega paulista Leandro Gonçalves Pena e do mineiro Daniel Rodrigues.

Os três haviam chegado a Israel às 4h, ouviram alguns barulhos durante o café da manhã, mas não tinham dado muito importância e estavam descansando sem preocupações quando foram avisados que o torneio estava cancelado. O motivo? Ataques do Hamas a Israel.

A partir daí, começou uma saga para conseguir deixar o país. Foram horas de tensão, noites sem dormir e inúmeros momentos aterrorizantes até finalmente pisarem em solo brasileiro e, depois, o esperado encontro com a família.

Mas Ymanitu não esquece do que passou antes do final feliz. Assim que foram avisados que o torneio havia sido cancelado por causa dos ataques, eles entraram em contato com a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) para agilizar uma volta ao Brasil. A CBT até conseguiu comprar um voo para a noite de sexta e os atletas rumaram para o aeroporto.

Mas no aeroporto de Tel Aviv, na hora de fazer o check in, foram avisados que o voo havia sido cancelado e logo começou uma correria. Um segurança ordenou que todos o acompanhassem, sem bagagens, em direção a um bunker.

“Tava tendo um ataque, mas a gente não sabia no primeiro momento se era ataque aéreo ou por terra. Naquela hora, a gente ficou muito preocupado, porque o bunker era escada, e a gente não conseguia descer, né? Então foram 20 minutos com a sensação de realmente a vida passar ali na nossa frente”, lembra Ymanitu, que ficou tetraplégico por causa de um acidente de carro em 2007 e usa cadeira de rodas.

Quando o pior passou, veio a confirmação de que era um ataque aéreo e, nessa altura, os atletas só queriam saber de deixar Israel o mais rápido possível. Enquanto isso, no Brasil, a Confederação acionara o Ministério do Esporte e o Governo Federal, que já haviam entrado em contato com a embaixada brasileira em Israel para garantir a segurança dos atletas.

Com apenas uma companhia aérea operando naquele momento, eles conseguiram um voo no domingo à noite para a Tailândia. A trajetória seria de Israel para a Tailândia, de lá para o Catar e, só então, a volta para o Brasil. Até chegar a hora do voo, tensão total e nada de dormir. Mas enfim eles conseguiram embarcar. “Quando a gente conseguiu deixar o espaço aéreo de Israel, foi uma alegria. A gente nunca fez uns voos tão longos, com tantas conexões, mas estava todo mundo muito feliz esperando para voltar para casa”, conta Ymanitu.

O paulista Leandro Pena também não esquece o que passou pela sua cabeça naquelas horas aterrorizantes em Israel. “Ficar imaginando perder a família, a família ficar sem a gente em casa, né? Quando cheguei, foi só alegria. Graças a Deus estava tudo bem comigo e com eles. Minha esposa tinha quase infartado de preocupação, mas a gente voltou com saúde para casa”.

Para a dupla de brasileiros, a história toda foi mais uma lição de vida. “A gente aprende com isso que a vida é feita de segundos, de instantes. Eu, como sofri uma lesão medular, já tive esse revés da vida e mais uma vez essa experiência me mostrou que a vida é feita de um simples estalar de dedos e a cada segundo pode acontecer uma coisa que muda toda a nossa trajetória. Espero nunca mais passar por isso novamente”, diz Ymanitu.

Medalhas no Chile

Nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023, Ymanitu e Leandro disputaram a final da categoria quad, contra a dupla chilena Francisco Cayulef e Diego Pérez. Os brasileiros perderam por 2 sets a 1, parciais de 7/6, 2/6 e 7/10 e ficaram com a medalha de prata.

É a segunda medalha de Leandro em seu primeiro Parapan. Ele já havia conquistado o bronze na chave de simples, ao vencer justamente o compatriota Ymanitu por 2 sets a 0, com parciais de 6/2 e 7/6. Já Daniel Rodrigues, que joga na categoria open, também ficou com o bronze nas simples, ao vencer o norte-americano Casey Ratzlaff por 2 sets a 1, parciais de 6/3, 6/7, 6/3.

Os três são apoiados pelo programa Bolsa Atleta do Governo Federal. “A gente é um dos únicos países do mundo que tem esse apoio do governo. Para nós é uma gratidão e isso realmente contribui muito para o nosso desenvolvimento no esporte”, elogia Ymanitu. “Eu sou Bolsa Pódio e isso mudou a minha vida. É importante para continuar a evoluir”, completa Leandro, que faz sua estreia em Jogos Parapan-Americanos.

Para além de conquistar medalhas no Chile, Leandro fez questão de aproveitar cada momento. “Eu estou muito feliz assim com tudo, ficar na Vila, ter contato com atletas de várias modalidades, vários países diferentes. É muito legal e muito importante”.

Por: Ministério do Esporte