Acidente reacende alerta sobre técnicas proibidas em exercícios com barra e riscos ignorados em academias brasileiras
Supino com pegada falsa já é condenado em manuais clássicos de treinamento por aumentar drasticamente risco de queda da barra.
O acidente que matou um homem de 55 anos em uma academia de Olinda, Pernambuco, causou comoção e trouxe novamente ao debate um tema pouco discutido, mas amplamente documentado na literatura de treinamento de força: o uso da “pegada suicida” — também chamada de pegada falsa ou thumbless grip. Ronald José Salvador Montenegro realizava o supino quando a barra escapou de suas mãos e caiu diretamente sobre seu tórax, levando-o à morte ainda dentro da academia.
Imagens das câmeras de segurança confirmam que Ronald utilizava a técnica em que o polegar não envolve a barra, deixando o equipamento apoiado apenas sobre os demais dedos — configuração historicamente considerada arriscada em diversos estudos e livros clássicos da área da musculação.

Por que a “pegada suicida” é tão perigosa?
A pegada falsa elimina a função de trava do polegar, reduzindo a segurança mecânica que impede a barra de rolar para frente. Segundo o livro Starting Strength, de Mark Rippetoe — um dos manuais de biomecânica do supino mais utilizados no mundo — essa técnica “aumenta de forma significativa a probabilidade de queda da barra na direção do rosto, garganta ou tórax do praticante”, sendo recomendada apenas para levantadores experientes e nunca sem supervisão direta.
Outro manual clássico, Essentials of Strength Training and Conditioning (NSCA), destaca que a pegada fechada, com o polegar envolvendo a barra, “é um requisito fundamental para estabilidade e controle durante o supino, especialmente em cargas médias e altas”. A obra descreve a pegada falsa como uma opção utilizada apenas em contextos muito específicos de levantamento avançado — e ainda assim, com riscos reconhecidos.
Esses alertas são antigos: o livro Strength Training Anatomy, de Frédéric Delavier, dedica um trecho às lesões por queda da barra no supino, afirmando que “o polegar é responsável pela contenção primária da barra; sua ausência funcional expõe o praticante a perda abrupta de controle”.
Ausência de supervisão aumenta o risco
Embora ainda não haja laudo definitivo, a análise de especialistas indica que a falta de um spotter (supervisor) contribuiu para a gravidade do acidente. Manuais técnicos, como o ACSM’s Guidelines for Exercise Testing and Prescription, alertam que qualquer exercício com peso livre que envolva carga acima do tórax deve ter supervisão ativa para reduzir riscos de queda acidental.
A obra afirma: “Durante o supino, uma falha técnica ou muscular pode ocorrer sem aviso. Presença de observador treinado é obrigatória para minimizar riscos fatais.”
A carga utilizada e o risco biomecânico
Pela análise das imagens divulgadas, a barra aparentava pesar entre 70 kg e 80 kg — carga considerada significativa. Estudos biomecânicos citados no livro Science and Practice of Strength Training, de Zatsiorsky & Kraemer, destacam que quanto maior a carga, maior o torque aplicado sobre o punho e maior a chance de perda de controle em pegadas instáveis.
Sem um polegar ativo, pequenos desvios laterais ou fadiga súbita são suficientes para que a barra deslize — exatamente o que ocorreu no acidente em Olinda.
Dicas de segurança comprovadas na literatura
Com base nos livros técnicos citados e em diretrizes da NSCA e ACSM, práticas seguras para o supino incluem:
- Uso obrigatório da pegada fechada: polegar envolvendo a barra para criar trava mecânica segura.
- Punhos alinhados: descrito no NSCA como essencial para evitar rotação involuntária da barra.
- Supervisão constante: presença de um spotter é considerada padrão ouro em protocolos de segurança.
- Progressão gradual de carga: reduzir chance de falha súbita, conforme orienta Zatsiorsky.
- Trajetória controlada: manter a barra alinhada ao peitoral médio, evitando deslocamento em direção ao pescoço, como ensina Delavier.
O acidente em Olinda foi trágico, mas infelizmente não é um evento isolado. A literatura científica e os principais livros de treinamento de força há décadas alertam que a pegada falsa aumenta drasticamente o risco de queda da barra — especialmente sem supervisão. Com base nesses conhecimentos consolidados, especialistas reforçam que técnica adequada e acompanhamento profissional não são detalhes, mas condições essenciais para uma prática segura.
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