O carro elétrico custa mais do que um modelo a combustão e isso não é surpresa para ninguém. A novidade, contudo, é que esse mercado está registrando consecutivos descontos nos preços — que chegam a R$ 50 mil, como foi o caso do Peugeot e-2008 na última semana.
Além da atitude ousada de reduzir os preços dos elétricos, os valores aplicados nos descontos chamam atenção. Afinal, será que até então as montadoras estavam lucrando muito ou o dólar mais baixo permitiu que os preços pudessem cair?
De acordo com Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento da Jato Dynamics, nenhuma montadora trabalha no prejuízo. Então, ao precificar um carro, os custos de produção, desenvolvimento e margem de lucro já estão inclusos.
Nesta equação, o que pode mudar de uma hora para outra quanto de lucro que a fabricante vai ter.
Na maioria dos casos, para deixar o veículo competitivo, a marca reduz o preço e, consequentemente, sua margem de lucro. Esse é um movimento que está acontecendo no mercado de carros elétricos de entrada após o lançamento do BYD Dolphin, que custa R$ 149.800.
Começou com o Jac E-JS1, que foi de R$ 145.900 para R$ 139.900. Em seguida, o Caoa Chery iCar também sofreu um abatimento de R$ 10 mil no preço e caiu de R$ 149.990 para R$ 139.990. Por último, o Peugeot e-2008 teve um desconto de R$ 50 mil e agora sai por R$ 209.990.
Milad afirma que isso é uma consequência direta da chegada de novos modelos elétricos, principalmente no segmento de entrada. “Faltava competitividade. Houve um reposicionamento geral do mercado com preços mais baixos, principalmente em função do BYD”.
Efeito do dólar
Outro motivo que pode ter levado à queda de preço é a valorização da moeda brasileira frente ao dólar. Em comparação, cinco meses atrás a moeda norte-americana custava R$ 5,20. Hoje, é oferecida por R$ 4,78, uma diferença de mais de R$ 0,40. Ao longo dos meses, o dólar foi caindo gradativamente, o que possibilitou que as montadoras pudessem comprar os veículos elétricos das matrizes por um preço mais baixo.
“Como todos os elétricos são importados, o dólar afeta muito [o valor], mas é um planejador de médio a longo prazo. E nós trabalhamos com uma moeda estável e mais barata do que estava há alguns meses, com o preço caindo aos poucos”, explica Milad.
Assim, a tendência é que, se o dólar continuar caindo ou se mantenha ao menos estável nos próximos, as fabricantes poderão comprar novos lotes no exterior por um preço menor, que deve ser repassado (ao menos parcialmente) ao consumidor final.