O impulsionamento da proposta de taxação dos super-ricos, em âmbito global, dentro dos debates do G-20, e a tomada de novos passos no processo de construção do acordo Mercosul-União Europeia foram pontos destacados em entrevista coletiva concedida nesta terça-feira (4/6) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro da Economia, Comércio e Negócios da Espanha, Carlos Cuerpo, em Roma. Ambos os ministros relataram que a proposta de taxação dos super-ricos ganha força diante da necessidade de acelerar o enfrentamento aos desafios globais conjuntos, que incluem esforços para combater a fome e a pobreza, mitigar o endividamento de países de baixa renda e conter as mudanças climáticas.
“Estamos falando de 3 mil pessoas que detêm US$ 15 trilhões em patrimônio. Boa parte dessas pessoas já se declarou a favor da taxação do super-ricos. Muitas já fazem doações filantrópicas que vão muito além daquilo que está sendo aventado no âmbito do G-20”, disse Haddad. Ele alertou que apesar de essa ser uma proposta brasileira hoje em discussão no G-20, trata-se de uma discussão antiga, com referências em artigos acadêmicos sobre economia, democracia e igualdade.
“Os desafios já colocados vão exigir novas fontes de financiamento e me parece que essa é uma das mais justas, ao afetar muito pouca gente. Estamos falando de algo que vai atingir poucos milhares de pessoas para afetar bilhões. Me parece uma proposta decente do ponto de vista de justiça social, econômica e política”, reforçou o ministro da Fazenda.
Redução de desigualdades
Cuerpo disse que a Espanha está impulsionando a iniciativa brasileira para estabelecer um imposto mínimo global sobre os bilionários. “Temos de alcançar o crescimento em termos nominais, mas também de garantir que esse crescimento seja cada vez mais justo, mais equitativo, reduza as desigualdades que nos últimos anos temos visto crescer”, disse o ministro espanhol, lembrando também da necessidade de intensificar esforços mundiais de combate à fome e de apoio na área de saúde às populações.
Haddad e Cuerpo também falaram sobre os benefícios a serem gerados para ambos os lados, no caso do acordo Mercosul-União Europeia. “Trata-se de um passo extraordinário nas condições geopolíticas e econômicas atuais, uma aproximação da Europa com a América do Sul”, disse Haddad, ao citar que há muito boa vontade da maioria dos membros dos dois blocos.
Segundo o ministro da Fazenda, falta apenas um “empurrão final” para que essas negociações, que se estendem há duas décadas, avancem rumo a um acordo com resultados efetivos e práticos. “Creio que há um amadurecimento mútuo, de que juntos poderemos fazer melhor. Temos economias complementares. Temos muito a ganhar nessa parceria, lembrando que o objetivo desse acordo não é meramente econômico”, reforçou Haddad.
Cuerpo relatou a “vontade conjunta de continuar a promover o acordo entre a União Europeia e o Mercosul”, com foco nas vantagens que esse processo promoverá para os dois blocos. A boa relação estratégica entre Brasil e Espanha foi lembrada pelos ministros, em uma força conjunta capaz de impulsionar não apenas ações bilaterais, mas grandes ações defendidas pelos dois países em escala mundial. Carlos Cuerpo, inclusive, citou que esse é um elemento capaz de “promover grandes iniciativas globais”.
PIB e juros
Questionado sobre o crescimento de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2024, Fernando Haddad destacou que o resultado “veio forte, conforme a previsão da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda”. O índice de crescimento da economia no primeiro trimestre foi divulgado nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O crescimento econômico do primeiro trimestre veio bastante alinhado com as projeções do Ministério da Fazenda, com destaque para o aumento dos investimentos”, resumiu o ministro.
“Continuamos mantendo a projeção de crescimento para o ano em torno de 2,5%. Aliás, a maioria das casas está revendo o PIB brasileiro para cima”, afirmou Haddad. O ministro lembrou, entretanto, que ainda será preciso aferir o impacto que a catástrofe climática vivida pelo Rio Grande do Sul terá sobre a economia nacional. Ele lembrou que a economia gaúcha representa em torno de 7% da economia nacional.
Haddad também comentou que o Brasil está obtendo crescimento dentro de uma trajetória de redução das taxas de juros, verificada desde o ano passado, com geração de empregos e aumento dos investimentos. “O Brasil pode crescer com baixa inflação, de maneira sustentável”, afirmou Haddad. “Estamos agindo em todas as frentes para garantir a sustentabilidade das contas e o crescimento com baixa inflação”, completou o ministro da Fazenda.
Haddad está realizando uma visita oficial ao Vaticano e a Roma, na Itália, nos dias 4 e 5 de junho, com uma série de compromissos. Além da reunião bilateral com o ministro da Economia da Espanha, Carlos Cuerpo, a agenda do ministro inclui participação em audiência com o Papa Francisco e na conferência “ Addressing the Debt Crisis in the Global South ”, co-organizada pela Universidade de Columbia e pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais.
Por: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR)