O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) organizou nesta quarta-feira (7/2) o primeiro de três encontros preparatórios para a Iniciativa Global de Bioeconomia do G20. Representantes do governo, da sociedade, da academia e de empresas reuniram-se no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF), para debater o uso sustentável da biodiversidade para a bioeconomia.
Com apoio dos ministérios das Relações Exteriores (MRE) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a reunião subsidiará a Iniciativa de Bioeconomia, inovação do Brasil na presidência do G20. No painel de abertura, o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, ressaltou que o tema é estratégico para o país:
“Bioeconomia é um tema muito estratégico para que possamos promover desenvolvimento social, preservação ambiental e toda a atividade de indústria e economia do país”, discursou o secretário-executivo.
Estima-se que o potencial de mercado da sociobiodiversidade da Amazônia seja de US$ 2,5 bilhões ao ano, podendo chegar a US$ 8,1 bilhões até 2050, afirmou Capobianco. A bioeconomia promoverá o desenvolvimento regional, o combate à pobreza e a preservação da maior floresta tropical do planeta.
“O Brasil e o mundo precisam hoje, mais do que nunca, de instrumentos concretos de desenvolvimento sustentável. Acreditamos que a bioeconomia é uma dessas ferramentas”, afirmou a secretária-geral do MRE, Maria Laura da Rocha.
O ciclo de três reuniões preparatórias é realizado pelo governo federal com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O MCTI organizará encontro com o tema “pesquisa, desenvolvimento e inovação para a bioeconomia” e o MRE terá como foco a “bioeconomia como facilitadora para o desenvolvimento sustentável”.
As consultas embasarão os debates oficiais da Iniciativa Global de Bioeconomia, coordenada pelo MRE, que terá em março seu primeiro encontro virtual. Há reuniões presenciais previstas para maio, em Brasília (DF); junho, em Manaus (AM); e setembro, no Rio de Janeiro (RJ).
“Precisamos combinar com os países a tradução do que estamos chamando de bioeconomia”, disse a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Márcia Cristina Barbosa.
A Iniciativa de Bioeconomia buscará construir princípios de alto nível que guiem o debate internacional sobre bioeconomia em espaços como as COPs do clima, da biodiversidade e da desertificação, afirmou a secretária de Bioeconomia do MMA, Carina Pimenta. O debate, completou ela, ajudará a acelerar a transformação ecológica do planeta.
“Assim como no nível doméstico temos desafio de definir o que é a bioeconomia, trabalhar isso no G20 é importante para chegarmos a pontos de convergência”, disse Carina.
Painel com especialistas
A secretária participou de painel sobre as perspectivas da bioeconomia no G20 e no Brasil com os pesquisadores da Universidade de São Paulo Carlos Nobre e Ricardo Abramovay. A discussão sobre bioeconomia, disse Abramovay, não pode ser separada das alternativas ao colapso do sistema agroalimentar global.
“Nós precisamos reintroduzir a biodiversidade no interior das culturas agrícolas”, afirmou ele. “Bioeconomia tem que ser a sinalização da maneira como a sociedade quer se relacionar com a natureza e quer transformar a natureza.”
O país deve desenvolver uma nova sociobioeconomia que permita a preservação da floresta e colabore para o combate à mudança do clima, afirmou Nobre. O climatologista destacou o compromisso do presidente Lula de zerar o desmatamento em todos os biomas até 2030 e a redução de 50% área sob alertas de desmatamento na Amazônia em 2023, segundo o sistema Deter, do Inpe.
Outras ferramentas fundamentais, completou Nobre, são soluções baseadas na natureza, como o reflorestamento e sistemas agroflorestais. Tais iniciativas permitirão ao mesmo tempo manter a floresta de pé e promover desenvolvimento sustentável.
“Nós já realizamos estudos que fazem uma comparação na Amazônia de quanto rende a agropecuária, a soja e os sistemas agroflorestais”, afirmou Nobre. “Nos sistemas agroflorestais na Amazônia, o lucro é de R$ 1,5 mil a R$ 3,5 mil por hectare ao ano, com 20 a 40 empregados por 100 hectares.”
A pecuária no bioma, afirmou o professor, dá lucro máximo de R$ 500 ao ano por hectare, enquanto a soja rende de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil na mesma área. Cem hectares ocupados pela pecuária no bioma empregam em média de uma a duas pessoas. Em plantações de soja, os empregados são em média de 0,5 a um por 100 hectares.
A reunião teve ainda o painel “Visões sobre a biodiversidade na bioeconomia: perspectivas no âmbito do G20”, moderado por Marcel Fukuyama, diretor de Política Global do B Lab. Participaram o embaixador André Correa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do MRE; Joaquim Belo, secretário de Formação e Comunicação do Nacional das Populações Extrativistas; Sonia Ribeiro, professora da Universidade Federal de Minas Gerais; Tiago Giuliani, da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI); Luana Maia, gerente da Nature Finance; e Nabil Kadri, superintendente de Meio Ambiente do BNDES.
Durante a tarde, os participantes foram divididos em grupos de trabalho, que se aprofundaram nas buscas por soluções em cinco eixos:
1. Financiamento da bioeconomia;
2. Sociobioeconomia, conhecimento tradicional e repartição de benefícios;
3. Papel da Ciência, tecnologia e inovação nas cadeias produtivas da biodiversidade;
4. Diversidade e regeneração: sistemas agroalimentares;
5. Desenvolvimento industrial aliado ao uso sustentável da biodiversidade.
G20
O G20 é um fórum de cooperação econômica internacional que atua na definição e no reforço da arquitetura e da governança global sobre as principais questões econômicas do planeta. O Brasil assumiu a presidência rotativa do grupo em 1º de dezembro de 2023 e permanecerá até 30 de novembro de 2024.
O G20 reúne 19 das maiores economias do planeta, além da União Europeia e a União Africana. Além dos países-membros, oito nações e 12 organizações internacionais acompanham o grupo como convidados em 2024.
Por: Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA)