Empossado no último dia 19 como presidente da Eletrobras pós-privatização, Wilson Ferreira Júnior retorna à empresa que presidiu de 2016 a 2021 com a meta de promover o crescimento real da companhia.
“A capitalização abre a oportunidade de novos negócios, novos horizontes, sem as amarras que tinha de empresa estatal, que nos impediam de atingir maiores excelências de produtividade, relacionadas às nossas operações de geração e transmissão, especialmente de retomar uma perspectiva de crescimento real da companhia”.
O foco da nova Eletrobras será o mercado de energia.
Em sua primeira entrevista à imprensa, Ferreira Júnior informou que, para viabilizar esse processo de gestão, foi criado um escritório de transformação, ligado à presidência e liderado pela diretora de conformidade, Camila Araujo.
O escritório de transformação tem cinco pilares de criação de valor da empresa. O primeiro é o tema da comercialização de energia no mercado livre, com o fim do regime de cotas que ocorrerá nos próximos cinco anos, a partir de janeiro de 2023. Foram descotizados 14 mil megawatts (MW) de energia, que passarão a ser levados ao mercado à razão de 20% ao ano. A intenção da Eletrobras é oferecer de forma estratégica e inteligente essa energia no mercado, comentou o presidente.
O segundo pilar é a redução de custos e despesas. Ferreira Júnior anunciou que, em novembro, deverá ser divulgado um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV), já acertado com sindicato da categoria, visando funcionários aposentados ou “aposentáveis”. O objetivo “é ter uma companhia parecida com seu entorno social”, afirmou.
O PDV deve atingir cerca de 2 mil pessoas e abre espaço para que estagiários da empresa possam ingressar no quadro funcional, contribuindo para o processo de modernização da Eletrobras, além de redução de custos. Para preparar a empresa para a capitalização, o número de empregados baixou de 26 mil para 12 mil.
Avenidas de crescimento
Atingir a excelência de custos e criar perspectivas de crescimento fazem parte do terceiro pilar, mantendo responsabilidade na área de geração e transmissão que, há algum tempo, não cresce de forma competitiva. “Vamos identificar quais são as avenidas de crescimento”, afirmou. Há oportunidades na área de energia solar e eólica e o hidrogênio pode entrar também no portfólio, para debate com o Conselho de Administração.
A resolução de passivos contingentes é o quarto pilar da nova gestão. Em passivos judiciais, são mais de R$ 30 bilhões de provisões, informou Ferreira Júnior. Serão identificadas estratégias para que a empresa possa tornar o passivo contingente em ativo, na medida em que haja acordos que sejam positivos para a contraparte e para a Eletrobras. Nesse trabalho, a companhia será auxiliada por bancas jurídicas e assessores financeiros, que estão sendo contratados. Será buscado ainda o pilar da eficiência tributária para a empresa, que está presente em todas as regiões brasileiras.
Wilson Ferreira Júnior informou que será estudada a venda de empresas onde a Eletrobras tem participação minoritária. “Vamos estudar possíveis vendas de SPEs (sociedades de propósito específico), nas quais somos minoritários. Queremos ativos onde temos controle. Não somos investidores financeiros”, declarou.
A migração da Eletrobras para o novo mercado da B3 já está em andamento pela organização. Camila Araujo revelou que o cronograma preliminar prevê que a entrada possa ocorrer no final do primeiro semestre do ano que vem.
Reestatização
Wilson Ferreira Júnior descartou a possibilidade de reestatização da Eletrobras, seja quem for o novo presidente eleito, no próximo domingo (2).
“No caso da Eletrobras, não tem sentido econômico para o governo reverter a capitalização”, disse lembrando que isso significaria para o governo gastar três vezes e meia o valor por ação. “Não creio que haja mudança”.