Composto lácteo pode ser confundido com leite e impactar saúde infantil

Produto contém ingredientes e aditivos que podem interferir no hábito alimentar de crianças e 'criar' um paladar voltado ao consumo de ultraprocessados, segundo especialista

Fonte: CENÁRIOMT COM R7

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FOTO:PIXABAY

Nos últimos meses, consumidores mais atentos perceberam que as prateleiras dos supermercados ganharam um novo produto: o composto lácteo. Apesar de a embalagem semelhante à do leite em pó, o item é considerado, para alguns especialistas, como um ultraprocessado que não deve ser incluído na dieta de crianças, e até mesmo de adultos.

Segundo a nutricionista Laís Amaral, integrante do Programa de Alimentos do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), o leite é um produto essencial na fase de crescimento e desenvolvimento de crianças, principalmente as de até dois anos, pois é rico em cálcio, proteínas e vitaminas fundamentais para esta faixa etária.

O composto lácteo, por sua vez, de acordo com o professor da USP (Universidade de São Paulo) Carlos Corassin, dispõe de duas variações: o composto sem adição, que é feito integralmente com ingredientes de origem láctea, e aquele com adição, em que, no mínimo, 51% dos componentes devem ser lácteos.

É a segunda versão do produto que preocupa especialistas, pois pode ocasionar uma perda nutricional grande, especialmente para as crianças.

“Pelo menos, mais da metade [do composto] tem que ser de ingredientes lácteos, mas os 49% restantes daquele produto podem ser constituídos por diferentes ingredientes, e aí é que está o problema maior. Ele vai poder ser acrescido de, por exemplo, açúcar, gordura vegetal, aditivos e de outros ingredientes que, muitas vezes, a gente nem tem na cozinha da nossa casa, são de uso exclusivamente industrial”, alerta a nutricionista.

Por esta característica, o composto lácteo é classificado, segundo Laís, como um alimento ultraprocessado.

A profissional alega que “se formos ver, ele é uma mistura de vários ingredientes feitos industrialmente e, de fato, não é um alimento, é uma formulação industrial”.

A nutricionista ainda reitera que as crianças estão na fase de formação do hábito alimentar, e o produto é considerado hiperpalatável, algo que estimula o consumo frequente e exagerado.

“Eles [os compostos] entram muito na dieta da pessoa em substituição a refeições saudáveis, dos alimentos in natura, preparações culinárias de fato nutritivas e saudáveis”, explica Laís Amaral.

Portanto, a criança vai formar um paladar e hábito alimentar com uma tendência para o consumo de ultraprocessados, que são extremamente danosos à saúde.

O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos, do Ministério da Saúde, avalia que os compostos lácteos não devem ser consumidos por bebês, bem como não têm de ser oferecidos a crianças (entre seis meses e dois anos) e devem ser evitados pelos adultos.

O documento alerta que os ultraprocessados contêm quantidades excessivas de calorias, sal, açúcar, gorduras e aditivos, que quando consumidas diversas vezes podem levar a problemas como hipertensão, doenças do coração, diabetes, obesidade, cárie dentária e câncer.

Estratégia do produto

O professor da Unicamp alerta que é extremamente importante atentar-se ao rótulo, pois é por meio daquelas informações que o consumidor irá deduzir se aquele produto atende ou não às suas necessidades e expectativas .

No entanto, a nutricionista Laís Amaral alega que algumas empresas que produzem compostos lácteos utilizam uma estratégia de marketing enganosa, focada em manter esses produtos em embalagens parecidas com a do leite em pó, a denominada promoção cruzada.

“O consumidor tem muito de pegar carona nos produtos ‘sequenciados’ [primeiro a fórmula, depois o leite em pó e por último o composto], e a embalagem pode causar um engano ao consumidor, que acaba comprando gato por lebre”, diz a nutricionista.

E acrescenta: “você quer levar um alimento que é saudável, por exemplo, o leite em pó, e acaba comprando um ultraprocessado, e às vezes até utilizando sem perceber”.

Para fins comparativos, uma marca famosa de leite em pó cumpre a obrigatoriedade legislativa de deixar no rótulo que o composto lácteo não é leite em pó, mas dificulta a percepção dos consumidores com, por exemplo, embalagens com o mesmo design azul e branco.

A orientação de que o produto se trata de um composto lácteo é a última frase da parte frontal da embalagem, escrita na mesma fonte do recipiente do leite em pó.

Ademais, a frase obrigatória de orientação de que o composto não é considerado leite em pó fica na parte de trás, abaixo do rótulo e sem grande destaque.

Caso o desejo do consumidor seja substituir o leite em pó por um composto lácteo da marca, a troca pode não ser tão favorável.

Quando comparamos os valores nutricionais, o composto lácteo tem 7 g de proteína, valor abaixo dos 10 g do leite em pó. A fórmula industrial também possui 31 mg a mais de sódio e 41 g a menos de cálcio, por exemplo.

Tendo isto em consideração, existem três formas de contornar essa situação: atentar-se ao nome do produto na parte inferior e frontal, consultar o rótulo com a listagem de ingredientes, para evitar aqueles com grande quantidade de aditivos, como açúcar ou gordura, e recorrer a um composto lácteo que irá suprir as necessidades da criança, sem pensar que ele é um “substituto” mais barato do leite.

Jornalista apaixonada por astrologia, bem-estar animal e gastronomia. Atualmente, atuo como redatora no portal CenárioMT, onde me dedico a informar sobre os principais acontecimentos de Mato Grosso. Tenho experiência em rádio e sou entusiasta por tudo que envolve comunicação e cultura.