Com a economia do país estagnada desde 2015, o governo brasileiro, eleito em 2018, tem buscado ações que estimulem o emprego e devolvam ao cidadão brasileiro a capacidade de consumir e contrair crédito. Com mais de 60 milhões de pessoas negativadas em serviços de proteção ao crédito, os bancos têm dificultado o acesso a empréstimos, com altas taxas de juros e muita burocracia na aprovação. Buscando promover a retomada da oferta de crédito, o governo tem promovido sucessivos cortes na taxa básica de juros (Selic). Porém os clientes dos principais bancos atuantes no Brasil ainda não viram o efeito prático dessas medidas.
Tomando o caminho inverso da Selic, que era 6,5% no começo de 2019 e, após dois novos cortes desde julho, chegou a 5,5%, a taxa cobrada nos financiamentos bancários subiu de 37,7% para 37,9% ao ano durante o mesmo período. No entanto, existem dois movimentos distintos sustentando essa tarifa cobrada no varejo. Segundo a CNF (Confederação Nacional de Instituições Financeiras), os juros para empresas caíram de 20,4% para 18,9%. Já as taxas pagas por pessoas físicas aumentaram de 51,3% para 52,1%. Entende-se que há mais busca por investimento do que por consumo neste momento.
Ainda há outras subdivisões com tendências distintas, especialmente voltadas para as pessoas físicas. O consumidor pagava, em média, 22,4% de juros na compra de um veículo financiado no início de 2019. Atualmente a taxa é de 20,1%. No entanto, o cartão de crédito parcelado, grande vilão para a maioria das famílias brasileiras endividadas, teve um aumento expressivo dos juros anuais de 163,1% para 177,3%. Os dados são do Banco Central e não incluem o crédito concedido em linhas subsidiadas, como o crédito consignado, entre outras
O aumento da inadimplência, a lenta retomada do emprego e a estagnação do poder de compra da renda das famílias são os principais pontos criadoras da cautela dos bancos na hora de conceder crédito, barrando uma queda dos juros condizente com a Selic. Depois de estar em queda contínua desde o final de 2016, a massa de carteiras de empréstimos inadimplentes para pessoas físicas cresceu nos últimos meses, chegando 4,88% do total em agosto de 2019, nível mais alto desde outubro de 2018. O tomador de um empréstimo passa a ser considerado inadimplente caso tenha parcelas vencidas há mais de 90 dias. O índice de financiamentos com atrasos menores que esse período, entre 15 e 90 dias, também cresceu e tem gerado preocupação nos bancos.
Porém, nem todas as notícias sobre juros ao consumidor são ruins. Nos últimos meses, quando a Selic voltou a ser reduzida, as taxas de algumas linhas, como cheque especial e crédito pessoal não consignado, caíram, proporcionalmente, mais do que a Selic. O crédito imobiliário também foi beneficiado recentemente, com o anúncio de redução dos juros feito pela Caixa Econômica Federal.
O que é a taxa Selic e como ela influencia a vida do brasileiro
A taxa Selic é a média de juros que o governo brasileiro paga pelo crédito contraído em bancos, sejam eles privados ou estatais. A taxa influencia, ao menos teoricamente, na forma como os cidadãos conseguem empréstimos nas instituições financeiras. Quanto mais alta a Selic, mais caro fica o crédito oferecido pelos bancos aos seus clientes. O Banco Central brasileiro observa o comportamento da inflação para decidir o que fazer com os juros.
Quando a inflação está alta, considera-se que não há espaço para cortar os juros. Isso porque juros mais baratos incentivam as pessoas a consumir mais, gerando aumento de demanda e, consequentemente, uma alta ainda maior nos preços do varejo. Os sucessivos cortes na Selic, iniciados em 2016, só foram possíveis graças à queda da inflação, que veio por conta da queda de demanda que, por sua vez, foi fruto da recessão que vivia o país.
Ganhos de investidores x crescimento econômico
O ponto mais crítico desta relação entre juros e inflação é a rentabilidade dos que investem em títulos públicos. Os juros altos são benéficos para os investidores. Quem compra um título do governo baseado em juros, por exemplo, recebe mais se a taxa estiver subindo. Com os cortes recentes, quem tem dinheiro aplicado no Tesouro Direto, por exemplo, viu seus lucros cairem expressivamente.
No entanto, uma taxa de juros elevada interfere diretamente na vida da maioria da população, que passa a pagar mais no crediário. Para a cadeia produtiva também é ruim, já que as empresas passam a ter mais dificuldades para vender sua produção e expandir negócios, com o encarecimento da infraestrutura, como máquinas e sistemas. A queda do investimento gera aumento no desemprego e piora o consumo. Essa situação deixa a economia enfraquecida e ajuda a derrubar o Produto Interno Bruto (PIB) do país, barrando o tão sonhado crescimento sustentável do país.
Fontes: Febraban, CenárioMT, Banco Central, Época Negócios
Por agência de marketing digital emarket