A dieta não é o suficiente para o combate a depressão

O triptofano, utilizado na biossíntese de proteínas, é um aminoácido essencial, ou seja, o organismo não é capaz de sintetizá-lo; esse aminoácido participa de diversas funções metabólicas no organismo e uma delas é produzir a serotonina, um neurotransmissor de monoamina, substância bioquímica derivada de aminoácidos por meio do processo de descarboxilação.

Fonte: Fabiano de Abreu

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A serotonina é uma formação química, um hormônio neurotransmissor, formado pela descarboxilação do 5-hidroxitriptamina (5-HT), seu intermediário, que por sua vez é formado pela hidroxilação do triptofano-L pela hidroxilase triptofana. O triptofano, utilizado na biossíntese de proteínas, é um aminoácido essencial, ou seja, o organismo não é capaz de sintetizá-lo; esse aminoácido participa de diversas funções metabólicas no organismo e uma delas é produzir a serotonina, um neurotransmissor de monoamina, substância bioquímica derivada de aminoácidos por meio do processo de descarboxilação.

Como todo neurotransmissor, a serotonina atua fazendo comunicação entre as células nervosas. No sistema nervoso central (SNC), sua ação é concluída pela recaptação no terminal pré-sináptico por transportadores específicos. Esse neurotransmissor foi implicado em diversas desordens, como ansiedade, depressão e esquizofrenia.

A maioria dos terminais nervosos serotoninérgicos no SNC se origina em corpos celulares do núcleo da rafe, encontrados no tronco cerebral, lançando a serotonina em todo o cérebro, principalmente nas regiões do tálamo, córtex e hipotálamo, como substrato para a síntese de melatonina na glândula pineal, localizada no centro do cérebro humano. A glândula pineal produz serotonina quando exposta à luz, já no escuro produz melatonina e suprime a serotonina para garantir o sono.

A serotonina é fabricada no cérebro e nos intestinos, mais de 90% da substância pode ser encontrada no trato gastrointestinal (TGI) e também pode ser encontrada nas plaquetas do sangue, local de armazenamento principal, e no sistema nervoso central (SNC).

No periférico, a serotonina está presente nas células enteroendócrinas, também chamadas de enterocromafins, células que secretam várias proteínas e peptídeos, que controlam funções fisiológicas, principalmente regulando a digestão do trato gastrointestinal, e que são encontradas na mucosa intestinal, nas plaquetas, nos músculos lisos e no mastócito, que fazem a captação do triptofano. Ao consumir alimento com triptofano, este é transportado ativamente por carregadores comuns a outras cadeias de aminoácidos, ou seja, diversos tipos de aminoácidos competem pelos mesmos carregadores proteicos.

O L-triptofano passa por uma ação da enzima (proteína que transforma substâncias) triptofano-hidroxilase, passando para a forma de L-5 hidroxitriptofano para depois se transformar em serotonina, pela ação da L-amina ácida descarboxilase. Essa enzima encontra-se altamente distribuída e possui grande espectro de especificidade a distintos substratos, o que faz com que seja praticamente impossível controlar os níveis de serotonina no cérebro por meio dessa via enzimática.

A serotonina produzida pelo triptofano ingerido por via oral não passa pelas vias serotoninérgicas do SNC, já que substâncias grandes não cruzam a barreira hematoencefálica. Porém, o triptofano e os seus metabólitos 5-hidroxitriptofano (5-HTP), com os quais a serotonina é sintetizada, podem cruzar a barreira hematoencefálica, dizem alguns estudos.

A serotonina intervém noutros neurotransmissores, como a dopamina e a noradrenalina, que, em níveis abaixo dos valores de referência, podem provocar sintomas como angústia, ansiedade, medo, agressividade, assim como problemas alimentares.

Atuação da serotonina

A serotonina atua eliminando outras substâncias tóxicas do intestino e também trabalha na região do cérebro que controla os enjoos. Nas plaquetas sanguíneas, leva à vasoconstrição, ajudando a cicatrizar feridas e facilitando a coagulação. Seus níveis também estão relacionados com a saúde óssea. Ela regula o humor, o apetite, o sono, aumenta ou diminui a libido, regula a temperatura corporal, reduz o nível de agressividade, portanto atua em diferentes partes do cérebro.

Avaliações

Se o indivíduo tem menos serotonina, é avaliado se ele está ingerindo a quantidade necessária de triptofano. Caso em sua dieta ele esteja absorvendo a necessidade diária, então tem que ser avaliado se o intestino está em condições de absorver o triptofano mediante a microbiota intestinal. A microbiota intestinal consiste em um complexo de espécies de microrganismos que vivem no trato digestivo, bactérias especializadas em captar o triptofano e metabolizá-lo para que seja produzida a serotonina.

Se não tiver uma simbiose, que está associada à harmonia de bactérias boas e ruins convivendo entre si em nosso organismo, então o indivíduo pode não ter uma boa absorção de triptofano, sendo também necessária a absorção de alimentos, suplementos e atividades que favoreçam a simbiose. Uma má alimentação pode ocasionar uma disbiose, afetando assim a absorção de triptofano.

A parede do intestino tem uma permeabilidade que permite a absorção de apenas algumas substâncias. Somente substâncias de peso molecular abaixo de 3.000 daltons (unidade de massa atômica) são absorvidas. Substâncias que aumentam a permeabilidade de absorção sobrecarregam o sistema imune do intestino, essa sobrecarga com o tempo faz com que ocorra uma diminuição do sistema imune devido ao excesso de substâncias penetradas no sistema gastrointestinal.

Uso abusivo de bebida alcoólica, cafeína, alimentos industrializados, estresse, antibióticos, agrotóxicos, poluentes do ar, metais pesados, má digestão, alimentos alergênicos, deficiência nutricional e contaminação por fungos podem acarretar num aumento da permeabilidade intestinal, resultado da disbiose, que pode prejudicar a absorção do triptofano. Alguns estudos afirmam que o glúten e o leite de vaca podem aumentar a permeabilidade.

Pessoas ansiosas e depressivas e os riscos de diabete e doenças cardiovasculares

O organismo de uma pessoa ansiosa ou com depressão apresenta uma hiperativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que leva a hipercortisolemia, aumentando a doença cardiovascular, que resulta na morte de células no cérebro. A hipófise estimula a glândula adrenal a produzir muito cortisol, hormônio do estresse, que se mantém alto. A hipercortisolemia prepara o organismo para a reação contra o estresse e para isso consome energia, para esse consumo de energia ele aumenta a glicose, que pode aumentar os riscos de diabete, aumenta também o colesterol, uma gordura que quando alta tem o risco de formar trombos, aumentando a possibilidade de ocorrência da AVE (acidente vascular encefálico) e do infarto agudo do miocárdio. Também aumenta a possibilidade de arritmia cardíaca.

O triptofano na alimentação

Soja, ovo, castanha-do-pará, iogurtes probióticos, kefir, coalhada, leite fermentado, chocolate com alta concentração de cacau, chlorella, alimentos com vitamina D3 favorecem a simbiose. Assim como comportamentos como atividade física, controle de peso e atividades que tragam o bem-estar.

Uma melhor distribuição do neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (GABA), que ajuda a conter a ansiedade, acontece com o consumo de iogurtes que contenham bactérias da espécie Lactobacillus rhamnosus.

Como vimos, a serotonina é o oposto da melatonina, ou seja, uma noite bem dormida ajuda na produção da serotonina, que acontece de dia. É importante não ter contato com a luz, seja da TV, seja do telemóvel próximo do horário de dormir para que possa ter a produção de melatonina e serotonina de forma regular de acordo com a noite e o dia.

Os alimentos fontes de triptofano são peixes, peru, ovos, nozes, castanhas, leguminosas (feijão azuki, lentilha, soja), semente de abóbora, levedo de cerveja, linhaça, aveia, arroz integral, chocolate amargo e queijo tofu.

Grandes quantidades de triptofano combinado com medicamentos inibidores seletivos da recepção ou recaptação da serotonina podem causar síndrome serotoninérgica, que tem como sintomas a alteração do estado mental, anormalidades neuromusculares, sudorese, hipertensão arterial, aumento da frequência cardíaca, aumento da temperatura corporal, calafrios, vômito, diarreia, tremores, espasmos musculares e hiperatividade autonômica. Essa síndrome ocorre quando a sinapse é estimulada acima do desejável.

Nesse caso deve-se ter uma interrupção de medicamentos que afetem os receptores de serotonina e a prescrição de sedativo (exemplo do benzodiazepínico).

Na depressão acontece uma diminuição na quantidade de neurotransmissores liberados, mas a bomba de recaptação e a enzima continuam trabalhando normalmente. Então um neurônio receptor captura menos neurotransmissores e o sistema nervoso funciona com menos neurotransmissores do que normalmente seria preciso.

A alimentação pode ou não ter um papel relacionado com a produção de serotonina no cérebro, mas tem um papel na regulação do intestino que afeta as nossas emoções assim como ajuda no estímulo comportamental. Uma dieta balanceada pode não curar uma depressão, mas pode ajudar em nosso metabolismo e ser um dos fatores para contornar a doença, principalmente no início.

Possíveis motivos da depressão

A depressão é uma doença inflamatória, aumento das glândulas da hipófise e da adrenal, causada por diversos fatores que envolvem disfunções em sistemas hormonais, neurotransmissores, neuroatômicos, neuroendócrinos, epigenéticos, genéticos e inflamatórios, que levam à redução da proteína BDNF, diminuindo a neurogênese.

Ela pode ser o resultado de um estresse traumático na infância, na adolescência, na vida adulta, pode ser resultado de um longo período de tristeza, longo período de ansiedade e pode ter como facilitador o fator genético.

O trauma resulta em redução da neurogênese, nascimento de novos neurônios no hipocampo.

Traz disfunção no organismo que eleva o cortisol, causando morte de neurônios, além disso hiperativa a amígdala, responsável pela reação de medo e agressividade, trazendo uma hiperfunção do hipocampo, região da memória e da neurogênese, além de controle do estresse. Redução da noradrenalina, serotonina e dopamina, revelando em uma lesão epigenética, genes que protegem o cérebro ficam desativados, diminuindo a neuroplasticidade, que são as conexões do cérebro. Também resulta na redução da proteína BDNF (brain-derived neurotrophic factor), substância neuroprotetora e disfunção do neurocircuito, conexão do córtex pré-frontal com o sistema límbico, causando assim um predomínio da emoção.

Conclusão

É importante ressaltar a diferença da serotonina do intestino com a do cérebro, a alimentação não vai regular a serotonina no cérebro, mas vai regular a serotonina no intestino, evitando assim que o nosso sistema límbico seja afetado, e acarretar no emocional, que afetaria a regulação da serotonina no cérebro. Mesmo que o triptofano ultrapasse a barreira hematoencefálica, a quantidade não seria suficiente para resolver a depressão.

Vale ressaltar a importância da dieta para uma melhor regulação intestinal, evitando a baixa imunidade, que facilitaria outras doenças e consequências comportamentais que prejudiquem ainda mais o indivíduo com estresse, tristeza contínua ou em depressão.

As consequências de uma má alimentação resultam em reações no sistema límbico que afetam doenças mentais assim como desvios comportamentais.

Não há dados que comprovem que o triptofano controle a depressão e deve ser levado em consideração que a depressão não é somente causada pela serotonina, mas também pela falta de noradrenalina, dopamina, BDNF, neurogênese e outros descontroles derivados da inflamação. Estudos revelaram que pacientes com depressão têm a enzima IDO ativada, que não deixa o triptofano ser transformado em serotonina, transformando-o em nicotinamida.

Mesmo que a serotonina no cérebro aumentasse a sua produção proveniente do consumo do triptofano, sua quantidade e seu direcionamento não amenizariam a redução da produção de outros hormônios neurotransmissores que também estão relacionados com a depressão. E se o consumo de alimentos que são direcionados a todos esses hormônios fosse eficaz já teríamos como base a cura de muitos pacientes, o que ainda não ocorreu.

O controle mental é o melhor mecanismo para evitar a depressão. A melhor maneira de preveni-la é aumentando os níveis de serotonina no cérebro com o comportamento.

• Pensar positivo – Tente ver o lado bom das coisas (e pessoas) ao seu redor e não focar somente nos problemas. Conexões positivas revelam uma atmosfera positiva.

• Interação social e ar livre – Exposição ao sol ajuda na produção de serotonina. Pesquisas revelaram que os níveis de serotonina de pessoas que morreram no verão costumam ser maiores do que os das que morreram no inverno. Sair de casa também acaba sendo uma boa oportunidade para se engajar em novas atividades e conhecer pessoas. A interação pode elevar a produção de serotonina e promove a neuroplasticidade, criando novas conexões no cérebro.

• Praticar exercícios físicos – Sabe-se que praticar exercícios regularmente tem um efeito antidepressivo e ansiolítico. Os melhores resultados são vistos quando a pessoa está acostumada a fazer exercícios aeróbicos e deve-se levar em consideração que o resultado não é imediato.

• Dieta alimentar – Uma boa alimentação para uma melhor harmonia na microbiota intestinal promovendo assim o equilíbrio necessário para o bem-estar e não promovendo perturbações emocionais que potencializem más sensações. É recomendada a dieta mediterrânea, rica em grãos integrais, legumes, frutos do mar, bem como vegetais folhosos, ricos em nutrientes e em fibras.

• Mudança de hábitos – A neuroplasticidade reforça as conexões cerebrais e a mudança de nossos hábitos favorece novas conexões e um aumento na produção de hormônios neurotransmissores relacionados ao humor, ansiedade, estresse, sono, entre outros.

Carboxilação é o processo de fixação do carbono

Indolaminas são uma família de neurotransmissores que compartilham uma estrutura molecular comum. As indolaminas são uma classificação do neurotransmissor da monoamina, juntamente com as catecolaminas e com a etilamina.

Hidroxialquilação, ou mais simplesmente hidroxilação, é um processo químico que introduz um grupo hidroxila em um composto orgânico. Em bioquímica, as reações de hidroxilação são muitas vezes facilitadas por enzimas chamadas hidroxilases.

Mastócito (por vezes também referido por labrócito) é uma célula do tecido conjuntivo, originado de células hematopoiéticas situadas na medula óssea. [1] Contém no seu interior uma grande quantidade de grânulos citoplasmáticos cheios de histamina (substância envolvida nos processos de reações alérgicas) e heparina (uma substância anticoagulante). Dentro do citoplasma dos mastócitos existem vários grânulos metacromáticos (têm a capacidade de mudar a cor de determinados corantes básicos) em função de sua alta concentração de radicais ácidos presentes na heparina (proteoglicanos acídicos).

Barreira hematoencefálica (BHE) é uma estrutura de permeabilidade altamente seletiva que protege o sistema nervoso central (SNC) de substâncias potencialmente neurotóxicas presentes no sangue e sendo essencial para a função metabólica normal do cérebro.

Núcleos da rafe são conjuntos de neurônios distribuídos em nove grupos pares e localizados ao longo do tronco encefálico, o qual está centrado à volta da formação reticular.

Eixo hipotálamo-pituitária-adrenal é um conjunto de interações responsivas que envolvem o hipotálamo, a glândula pituitária e a glândula adrenal.

Hipercortisolemia é caracterizada pela manutenção de altos níveis de cortisol no organismo, enquanto o hipogonadismo é a baixa concentração dos hormônios andrógenos na circulação sanguínea.

Epigenética é a área da biologia que estuda mudanças no funcionamento de um gene que não são causadas por alterações na sequência de DNA e que se perpetuam nas divisões celulares, meióticas ou mitóticas. É denominado um caráter epigenético quando o fenótipo é causado por tais mudanças.

Sobre o autor do texto: Dr. Fabiano de Abreu17

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Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Colunista do Cenário MT é um Pós-doutor e PhD em neurociências eleito membro da Sigma Xi, The Scientific Research Honor Society e Membro da Society for Neuroscience (USA) e da APA - American Philosophical Association, Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), Cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler, Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Membro ativo da Redilat, membro-sócio da APBE - Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva e da SPCE - Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Membro Mensa, Intertel e Triple Nine Society, sociedades de pessoas com alto QI.