O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estuda implantar um novo sistema automático de pedágio com tráfego livre de veículos nas estradas paulistas.
Ele consiste em cobrar o motorista pelo trecho percorrido, identificando a passagem dos veículos por meio de tags, como o Sem Parar, ou pela identificação das placas.
Os testes já começaram na Rio-Santos (BR-101), no trecho entre Ubatuba e Rio de Janeiro, e o objetivo do governo é implantar o “”free flow”” em todas as rodovias estaduais. O plano, porém, tem gerado críticas em algumas cidades.
A preocupação ocorre porque os motoristas poderão ser cobrados com frequência por trajetos básicos dentro do próprio município ou entre cidades próximas.
Motoristas que moram ou frequentam o litoral sul de São Paulo já temem a mudança. Isso porque a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega é uma estrada que funciona como uma “”avenida”” de cidades como Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.
Essas cidades do litoral sul têm poucas vias alternativas para deslocamentos de média e longa distância. Em Itanhaém, por exemplo, a avenida da orla possui valetas que dificultam o fluxo. Assim, muitos motoristas recorrem à estrada.
Em uma reunião entre vereadores do litoral sul e o secretário estadual de Parcerias e Investimentos, Rafael Benini, foi apresentada a ideia de colocar nove pontos de cobrança, sem as cabines do pedágio. Se aprovada, os motoristas devem passar a pagar R$ 11,70 para ir da Praia Grande a Peruíbe e o mesmo valor para voltar.
A população pode ser afetada até mesmo ao fazer trajetos básicos e de necessidade, como ir ao hospital, posto de saúde e supermercado, conforme revelou o presidente da União dos Vereadores da Baixada Santista.
Ele explica que a cidade de Itanhaém é dividida por um rio e há uma ponte para atravessá-lo, o que não foi considerado no projeto. Só esse trajeto de um lado para o outro geraria cobrança.
“”Seriam nove pontos de cobrança de R$ 1,30 cada, mas ainda não foram definidos os lugares. Foi marcada uma audiência na Alesp [Assembleia Legislativa de São Paulo] neste mês para apresentar o projeto””, disse.
Preocupações
Para o aposentado Adriano Louro, que é morador do Rio de Janeiro e usuário da Rio-Santos, a tecnologia não é perfeita o suficiente para, por exemplo, identificar quando um carro clonado passar na guarita.
“”O ponto negativo é que, se um carro clonado com a sua placa passar no free flow, a conta será sua. Até você descobrir e ter de correr atrás para provar que não foi você, seu nome já estará sujo””, disse.
Em nota, a Secretaria Estadual de Parcerias em Investimentos disse que o sistema está em estudo e prevê a estruturação de cerca de 2.000 km de rodovias estaduais, por meio de concessões de trechos à iniciativa privada.
“”As melhorias estão sendo avaliadas por meio de estudos de viabilidade conduzidos pela IFC [International Finance Corporation]””, informou.
O que é o free flow?
O free flow é uma tecnologia que tem como objetivo banir as praças de pedágio para instalar em trechos de rodovias pórticos com sensores automáticos que realizam a cobrança do motorista por meio da placa do carro.
Segundo o governador, o objetivo é aposentar todas as praças de pedágio do estado. “”Com o sistema, o motorista passa a pagar uma tarifa mais justa pelo que realmente utiliza da rodovia, e de forma mais simples e ágil””, disse Tarcísio ao revelar que o sistema será instalado em breve no trecho norte do Rodoanel Mário Covas.
O free flow funciona da seguinte maneira: quando o veículo passa pelo pórtico, as câmeras com tecnologia OCR (Optical Character Recognition, ou Reconhecimento Óptico de Caracteres) fazem a leitura das imagens frontal e traseira das placas.
Um scanner a laser faz a identificação e o dimensionamento dos veículos em tempo real, capturando características como altura, largura, comprimento, trajeto e velocidade de carros, motos, ônibus, entre outros parâmetros.
As informações são complementadas pelas antenas de identificação e câmeras de monitoramento e enviadas a um sistema central, responsável por receber e processar todos os dados. Os usuários que possuírem TAG — dispositivo acoplado ao para-brisa do veículo, como o Sem Parar, por exemplo — farão o pagamento automático.
Já os usuários que não possuírem TAG pagarão a tarifa posteriormente, por meio de plataforma digital a ser implementada pela concessionária.