Apesar do tabu que ainda envolve a saúde mental, o Brasil é um dos países que mais investe em políticas públicas que demandam o trabalho de profissionais da área.
No entanto, podemos observar que isso não é o bastante para melhorar os índices brasileiros, já que a saúde mental da população está diretamente ligada a boas condições de vida nos municípios, sobretudo nas periferias. Nós, psicólogos, que trabalhamos com políticas públicas na área da saúde, educação e assistência social, lidamos diariamente com os reflexos nefastos das dificuldades e desigualdades sociais.
O país hoje lidera o ranking mundial de ansiedade e outras doenças mentais. Temos mais de 18 milhões de indivíduos no Brasil com ansiedade patológica, índice superior a 9,3% da população [conforme a Organização Pan-Americana da Saúde], que infelizmente é acarretado principalmente por questões como desemprego, baixos salários, jornadas de trabalho extenuantes, transporte público ruim, aumento da violência, poucas opções de lazer e por aí vai.
Não tem como falar em saúde mental sem antes olhar para todas essas questões socioeconômicas. Existem hoje milhares de pessoas que, mesmo vivendo dentro da cidade, estão fora dela, porque não conseguem participar daquilo que a cidade pode oferecer. A elas falta o básico: moradia, alimentação e até roupas.
Penso que as reflexões da campanha Setembro Amarelo são muito pertinentes em um ano de eleições envolvendo cerca de 5 mil municípios brasileiros. Temos que pensar em como o voto de cada um de nós é fundamental para construir cidades mais humanizadas, acolhedoras, e que não virem as costas para a parcela da população mais pobre, mas, que ao contrário, ofereçam oportunidades de desenvolvimento humano e profissional para todos e todas.
Cuiabá ainda passa por problemas de ordem climática e ambiental que exigem ações de enfrentamento urgentes. Começamos o mês de setembro com mais de 130 dias sem chuva, ondas de calor que superam 40ºC, baixa umidade relativa do ar e excesso de fumaça advindo das queimadas. Não tem como falar em qualidade de vida, bem-estar e saúde mental em um cenário tão inóspito!
Outra pauta que venho debatendo compreende a ampliação e o fortalecimento da rede de atenção à saúde mental. Cuiabá, mesmo sendo a capital mato-grossense, possui apenas um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) álcool e drogas, um CAPS infantil e três CAPS para transtornos mentais, número insuficiente para atender os seus 682,9 mil habitantes. No interior, a situação deve ser ainda pior.
A pergunta que fica é: qual cidade gostaríamos de viver? A minha resposta sem dúvida é o desejo da maioria, estar em uma cidade inclusiva, segura, acolhedora e solidária, onde haja estudo, trabalho e serviços públicos que funcionem. Queremos de volta nossa cidade verde com espaços agradáveis e gratuitos de lazer, como parques, praças e florestas urbanas. Sonhamos com a valorização da cultura, do esporte e do lazer.
Em resumo, como diz a música do Legião Urbana, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte. A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão, balé. A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer”.
Isso significa que queremos muito ser felizes e prósperos na cidade onde escolhemos morar e construir a nossa família. O que vem nos exigir o exercício consciente e inteligente do voto. Chegou a hora de sair de debates vazios para priorizar candidatos que tragam soluções para questões importantes para as nossas cidades. Temos que sair da bolha do individualismo, da competitividade e do imediatismo para poder construir cidades verdadeiramente humanas, colaborativas e saudáveis para nós e as futuras gerações, já que tudo isso também é investir em saúde mental!
Marisa Helena Alves, psicóloga, mestre em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco, especialização em Saúde Mental, Psicanálise e Educação na UFMT.