Ninguém nasce consumista; é algo que se aprende ao longo do tempo. No entanto, as crianças estão sendo condicionadas a esse comportamento cada vez mais cedo, em grande parte devido à exposição às telas e ao fácil acesso a produtos que muitas vezes não são apropriados para a sua faixa etária.
Com a evolução tecnológica, onde basta dar um clique para adquirir algo desejado, o problema vai além do impacto financeiro. Crianças hiperconectadas estão cada vez mais suscetíveis às estratégias de marketing digital, que incentivam o consumo de produtos e serviços muitas vezes inadequados para a idade.
Independentemente da classe social, idade ou poder aquisitivo, todos somos influenciados pela internet. No entanto, ao contrário dos adultos, as crianças ainda estão em fase de desenvolvimento e carecem das ferramentas cognitivas necessárias para diferenciar o que é essencial do que é supérfluo. Isso as torna presas fáceis para as propagandas digitais, que promovem uma cultura de consumo incessante.
A Adultização das Crianças
O cientista político Benjamin Barber discute a perigosa tendência de adultizar crianças e infantilizar adultos, como um fenômeno que corrói as estruturas sociais ao incentivar o consumo desmedido.
No passado, o consumo infantil era impulsionado por anúncios em jornais, revistas e na televisão. Hoje, com o avanço da internet, essa dinâmica mudou completamente. Um simples clique pode finalizar uma compra online, e crianças, mesmo sem comprar, estão expostas a esse ambiente desde cedo, alimentando listas de desejos em seus dispositivos.
Maria Clara Sidou, no livro “Criança e Consumo”, destaca o papel dos influenciadores digitais e YouTubers nesse contexto, cujas campanhas publicitárias, muitas vezes, não são claramente identificadas. Isso torna a influência sobre o público infantil ainda mais sutil e perigosa.
O Impacto da Publicidade nas Crianças
A publicidade, por vezes, se aproveita da vulnerabilidade das crianças, que até os 12 anos não conseguem distinguir claramente o que é propaganda do que é entretenimento, conforme aponta o Instituto Alana. As empresas se aproveitam disso para moldar futuros consumidores desde cedo.
Os efeitos desse consumismo exacerbado são inúmeros: obesidade infantil, erotização precoce, experimentação de álcool e tabaco, estresse familiar, e até a banalização da violência.
Mas o que leva as crianças a se tornarem tão consumistas?
O Apelo ao Consumismo Infantil
Crianças são naturalmente atraídas por personagens famosos, brindes e embalagens chamativas. Isso, no entanto, não as torna mais capazes de fazer escolhas conscientes ou éticas. Quando essa exposição é contínua, 24 horas por dia, o resultado é uma geração de crianças sem controle sobre seus impulsos e mais suscetíveis a desenvolver vícios de consumo
Além de influenciar as decisões de compra dos pais, as crianças desenvolvem uma fidelidade precoce às marcas, criando um ciclo vicioso de consumismo que pode durar a vida inteira.
Como Evitar o Consumismo Infantil?
A conscientização é o primeiro passo para combater o consumismo infantil. Aqui estão algumas estratégias:
Na Escola: As instituições de ensino podem promover debates e atividades que ajudem as crianças a refletirem sobre suas escolhas de consumo. Grupos de discussão e competições educativas são ferramentas valiosas.
No Trabalho: Empresas podem organizar rodas de conversa para pais, orientando-os a estabelecer regras claras em casa sobre o uso da tecnologia e o consumo digital.
No Lar: Reduzir o tempo de tela e dar o exemplo em casa são fundamentais. Pais devem mostrar que a tecnologia é uma ferramenta, não um brinquedo. O tempo de qualidade com os filhos deve ser priorizado, exigindo disciplina e afeto.
O consumismo infantil é um desafio crescente que exige a atenção de pais, educadores e da sociedade em geral. As crianças, em fase de desenvolvimento, são particularmente vulneráveis às estratégias de marketing que incentivam o consumo desenfreado, afetando não apenas seus hábitos, mas também sua saúde física e emocional.
Para combater essa tendência, é crucial promover a conscientização desde cedo, estimulando um senso crítico nas crianças e fortalecer os laços familiares. Proteger os pequenos do consumismo excessivo é uma responsabilidade coletiva que deve começar no lar, mas se estender para todos os ambientes em que eles vivem e interagem.
Maria Augusta Ribeiro é especialista em comportamento digital e netnografia no Belicosa.com.br