Atendendo a demanda do Comitê Técnico de Sementes Florestais, da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates), a Embrapa oferece nesta semana curso sobre pomar de sementes junto à Rede de Sementes Portal da Amazônia, em Alta Floresta, no Mato Grosso. A atividade está sendo conduzida pela pesquisadora Juliana Freire, da Embrapa Agrobiologia, que tem ampla experiência com reflorestamento, coleta de sementes e implantação de pomares. “O curso é voltado para técnicos da região, que vão multiplicar o conhecimento junto a produtores. Já temos experiência com a implantação de pomares e coleta de sementes, então a ideia é passar esses conceitos de uma forma simples, para que eles possam colocar em prática”, explica Juliana.
Hoje, um dos grandes gargalos na região é a perda de matrizes de árvores nativas, muito devido ao avanço do agronegócio e de plantações de soja. Assim, o curso aborda métodos para fazer o resgate e conservação genética de espécies de importância econômica e ecológica, visando à restauração florestal. A expectativa é apresentar aos técnicos conhecimentos e tecnologias para auxiliar no processo de coleta de sementes dessas matrizes e também nos estudos realizados no local sobre melhor compatibilidade entre matrizes de determinadas áreas. De acordo com a pesquisadora, o trabalho com pomar de sementes realizado pela Rede de Sementes Portal da Amazônia tem grande importância na conservação de matrizes das árvores nativas da Floresta Amazônica.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que realiza o monitoramento da Amazônia desde 1988, houve, na região, 81% a mais de focos de calor em 2019 do que nos últimos dez anos. Para o Instituto, a principal explicação para esse registro é o alto nível de desmatamento da floresta, que vem aumentando cada vez mais ao longo desta década.
Em meio a isso, uma das alternativas encontradas para combater o desmatamento e impedir a extinção de espécies nativas é a técnica de “pomar de sementes” – uma plantação manejada para produção de sementes de melhor qualidade a partir do mapeamento e monitoramento de diferentes matrizes. “Planta-se diferentes matrizes, que tiveram um cuidado na coleta para rastreamento da procedência e avaliação do material genético, e aí faz-se o acompanhamento de seu desenvolvimento, em comparação uma com a outra”, explica a pesquisadora. O ideal, segundo ela, é que sejam plantadas 30 matrizes diferentes da mesma espécie. “Monitoramos o crescimento e a sobrevivência sob uma determinada condição bioclimática, na busca do material que melhor se adeque à região”, pontua.
Apesar de a Rede de Sementes Portal da Amazônia já estar fazendo o mapeamento de matrizes na área, junto aos coletores e produtores, o curso será o ponto de partida para o projeto do pomar de sementes na Floresta Amazônica. “São trabalhos a médio e longo prazos, porque são espécies que têm ciclos de vida longos. Normalmente, o interesse é com espécies mais raras e mais ameaçadas, por terem uma madeira de melhor qualidade, mas crescimento lento. Então, o projeto é uma sementinha que vamos plantar agora, mas que só vamos ter resultados talvez daqui a 20 anos”, conta Juliana.
A capacitação tem bastante suporte nos sistemas agroflorestais (SAFs), que consistem em uma das técnicas para restauração indicadas pela Embrapa, pensando também no manejo e monitoramento do arranjo. Além de aulas práticas no entorno, incluindo exposições de frutos das espécies regionais, marcação de matrizes e coletas de sementes, as temáticas teóricas abordadas englobam biologia reprodutiva de espécies arbóreas, fenologia e calendários fenológicos, técnicas para colheita de sementes florestais, plantios de pomares de sementes em SAFs, técnicas de manejo, entre outros.