Com um canivete ou estilete, corte um pedaço da madeira. Agora, com o auxílio de uma lupa de aproximação em 10 vezes, observe o material e vá marcando as características identificadas no sistema “Chave interativa de identificação de madeiras”, do Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro (LPF/SFB).
Esse é o passo a passo para identificar uma espécie de madeira a partir do banco de dados registrado no sistema online, que, agora, está ainda mais completo em nova versão. Ampliada em 75%, a chave reúne 275 espécies de madeiras tropicais, que incluem desde as mais comercializadas até algumas espécies ameaçadas de extinção.
O incremento é referente à soma de materiais da xiloteca (coleções botânicas constituídas por amostras de madeira) da LPF e dos dados originais da chave, lançada em 2010 inicialmente com 157 espécies florestais nativas do país.
“Nesta nova versão, adicionamos mais espécies que compartilham o mesmo nome comum, por exemplo, aumentamos o número de espécies que são conhecidas como ipê, assim como outras que são conhecidas como sucupira. Traduzimos o conhecimento acumulado no laboratório ao longo de quase 50 anos para disponibilizá-lo ao público”, explicou o coordenador substituto do LPF, Fernando Gouveia.
O maior volume é de espécies que são comercializadas, mas que não são conhecidas do grande público como a copaíba, angelim, taxi, sucupira, abiurana, roxinho, jacarandá, angico. Outros exemplos que estão nessa nova versão do sistema são a espécie exótica conhecida como teca e a espécie com restrição pau-rosa, que apresenta perigo de extinção desde 1992.
Filtro de identificação
De forma simples e lúdica (com muitas imagens), a identificação é feita com base em caracteres gerais e caracteres anatômicos macroscópicos por pesquisadores, servidores da área ambiental, estudantes e demais público interessado.
Gouveia explica que a chave funciona como uma sequência de filtros até que se encontre a madeira, conforme as características observadas. Ao marcar um item como por exemplo a cor esbranquiçada do cerne (parte mais interna de uma tora), o sistema elimina das opções as espécies com o cerne de cor distinta.
Há ainda imagens para ilustrar alguns dos caracteres e também há imagens de todas as espécies para que o usuário possa conferir. Assim, a chave ainda pode utilizada como banco de dados para consulta sobre as espécies disponíveis. O usuário localiza a espécie em uma lista e pode visualizar suas imagens e uma breve descrição.
Combate ao comércio ilegal de madeira
O coordenador Fernando Gouveia ainda destaca a importância do sistema para o combate ao comércio ilegal de madeira. A chave de identificação das madeiras permite aos agentes de fiscalização coibir crimes ambientais ao identificar espécies ameaçadas sendo exploradas.
Em 2021, o sistema possibilitou a servidores que trabalham na fiscalização ambiental da polícia Rodoviária Federal (PRF) do estado de Maranhão a identificarem 6.214 m3 de madeira irregular, o equivalente a 50% a mais do que foi apreendido no ano anterior.
“Também permite que os fiscais observem inconsistências na identificação das espécies constantes na documentação de produtos florestais, já que é muito comum os criminosos ambientais esquentarem madeiras ilegais com documentos de outras madeiras”, reforçou Gouveia.
O Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro realiza treinamentos com os fiscais para uso da ferramenta e para auxiliar na identificação das espécies florestais.
A Polícia Federal é parceira do sistema “Chave interativa de identificação de madeiras” a partir de apoio técnico. Ainda colaboram para o desenvolvimento do sistema, o Projeto BioAmazônia e a Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia.