Eventos climáticos extremos têm dado a dimensão da importância do acesso a dados sobre o clima para o gerenciamento da atividade agrícola. No Brasil, há 20 anos o setor agropecuário conta com o suporte do Agritempo , um sistema de monitoramento agrometeorológico, que ganha agora nova versão (veja quadro sobre seu lançamento). A tecnologia, desenvolvida pela Embrapa Agricultura Digital (SP) e parceiros, é utilizada em 1.643 estações brasileiras e disponibiliza informações gratuitas para todos os municípios brasileiros. Os impactos econômicos de sua adoção são avaliados em cerca de R$ 79 milhões.
Do preparo do solo à colheita e transporte dos produtos, o planejamento da atividade agrícola depende do monitoramento do clima. O Agritempo considera séries históricas de 30 a 100 anos e, a partir do cruzamento de dados, gera boletins, gráficos e mapas, informações que alimentam modelos preditivos sobre o desempenho agrícola das culturas.
A tecnologia tem passado por aprimoramentos que buscam oferecer funcionalidades adicionais por meio de novas ferramentas digitais, com melhorias na interface com o usuário, especialmente.
Dados do sistema integram o Zoneamento Agrícola de Risco Climático ( Zarc ), utilizado pelos programas de Garantia da Atividade Agropecuária ( Proagro ) e de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural ( PSR ). Desde o início da aferição dos impactos econômicos da tecnologia, em 2007, até 2023, foram computados quase 79 milhões de reais.
Desse montante, 45% dos benefícios foram atribuídos ao uso do Agritempo por profissionais de diferentes instituições com objetivos diversos, explica a pesquisadora Maria do Carmo Fasiaben . As orientações de manejo agrícola aos produtores e a economia proporcionada pelo uso dos bancos de dados no Zarc representaram 35% e 20%, respectivamente, dos impactos econômicos positivos da tecnologia, acrescenta o especialista. A adoção do sistema tem, ainda, gerado benefícios sociais e ambientais, cujo reconhecimento mantém a confiabilidade da tecnologia.
Antes do lançamento do sistema, segundo a pesquisadora Luciana Romani , da Embrapa Agricultura Digital, não era possível acessar dados de todos os municípios. As informações não eram integradas, estavam dispersas em vários locais e em diferentes formatos, dificultando a consulta.
“Com seus 20 anos, o Agritempo se mantém inovador, visto que não existe até o momento um sistema provedor que entregou os mesmos produtos e informações de forma totalmente gratuita e com a mesma abrangência territorial”, avalia Romani.
Renata Gonçalves, pesquisadora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, da Universidade Estadual de Campinas ( Cepagri /Unicamp), parceira da Embrapa no desenvolvimento do Agritempo, reforça que a tecnologia se mantém relevante por duas décadas porque tem conseguido atender às demandas do setor. “O sistema Agritempo permite aos usuários flexibilidade no uso dos recursos computacionais e acesso, em tempo real, às informações geográficas e agrometeorológicas”, argumenta.
Lançamento da nova versão
A Embrapa e o Cepagri comemoram os 20 anos do Agritempo, com o lançamento da nova versão do sistema, durante seminário que vai debater os impactos dos dados climáticos na agricultura atual e futura.
O evento será realizado em 5 de julho, no Auditório do GGBS da Unicamp (Campinas, SP), das 9h30 às 12 horas. O endereço é Praça das Bandeiras, 45 – prédio da Diretoria Geral de Administração – Cidade Universitária “Zeferino Vaz”.
Apoio a políticas públicas
O monitoramento agrometeorológico tem demonstrado crescente relevância no apoio ao planejamento de políticas públicas, visando à organização da logística de transporte e o fornecimento de energia nas áreas urbanas, inclusive. Isso, além do ordenamento de atividades do setor agrícola por meio da indicação de cultivares e formas de manejo, por exemplo.
“A intensificação das mudanças do clima exige maior acurácia das previsões, que, no entanto, ficam cada vez mais difíceis, desafiando a pesquisa e exigindo investimentos”, ressalta Luciana Romani.
Beneficiários refletem diversidade de aplicações
Em duas décadas de lançamento do sistema, o número de acessos ao Agritempo continua expressivo. Somente no período de 1º de dezembro de 2022 a 30 de novembro de 2023, foram registrados quase 290 mil acessos ao Agritempo, vinculados pelo Sistema WebStats, gerenciado pela Embrapa Agricultura Digital.
Diferentes categorias de atores vêm sendo beneficiárias das informações do sistema. Entre os usuários mais frequentes, estão extensionistas rurais, docentes, estudantes, instituições de pesquisa, universidades, integrantes do setor produtivo, representantes da agroindústria e instituições financeiras de consultoria agrícola. Pela capacidade de previsão de 96 horas, a Agritempo pode apoiá-lo no transporte de produtos agrícolas.
Os usuários se mantêm informados sobre estiagem agrícola, coleta acumulada, épocas de realização de tratamentos fitossanitários, necessidade de irrigação, condições de manejo do solo e de aplicação de defensivos agrícolas. Informações que permitem reduzir custos e aumentar produtividade.
Tomadores de decisão dos setores público e privado, assim como representante do sistema financeiro que atuam na promoção do seguro rural, integram a lista de segmentos beneficiados pelo serviço. A crescente ocorrência e os impactos das mudanças climáticas têm levado também jornalistas a fazer uso do sistema, sustentando em compreender a evolução dos acontecimentos meteorológicos para melhor noticiar tais eventos.
Avaliação de impactos
Os impactos da adoção do Agritempo ao longo das cadeias produtivas são consideráveis, já que o sistema disponibiliza informações que apoiam a tomada de decisões desde os produtores até os formuladores de políticas públicas.
Ao fornecer dados de temperatura ao Zarc, o Agritempo contribui inclusive com a redução de riscos socioeconômicos e ambientais, indicando os dados com menores danos para plantio de diferentes culturas por município, ao longo de todo o País.
Para aperfeiçoar o atendimento ao público adotante da tecnologia, a equipe coordenadora do sistema avalia anualmente os impactos da sua adoção sob os aspectos econômicos e sob a perspectiva dos usuários. A última avaliação ocorreu no segundo semestre de 2023.
A consulta considera as dimensões socioambientais e de desenvolvimento institucional, revelando que a maior média de impacto foi para o critério de acesso a recursos financeiros. Entre as justificativas adotadas pelos usuários do sistema está o fato de que dados do sistema alimentam o Zarc, conforme estudos técnicos, quando observados pelo setor produtivo, viabilizam o acesso ao crédito rural e ao seguro agrícola.
Quanto aos aspectos ambientais, os adotantes foram unânimes em considerar que critérios como práticas de sustentabilidade, ordenamento de uso e ocupação do solo e promoção de energias alternativas “se aplicam ao Agritempo e são afetados positivamente”, diz Cássia Mendes , analista de transferência de tecnologia da Embrapa Agricultura Digital.
Para a avaliação dos impactos socioambientais foram ouvidos professores, empregados da Embrapa, representantes de empresas privadas de geração e transmissão de energia elétrica, de instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa, e empresas de TI e consultoria de software especializado para o agronegócio.
Manifestações
“O Agritempo é uma fonte importante de dados para a geração de energia eólica (dados de velocidade do vento) e energia solar (radiação solar)”, avaliou um usuário do sistema quanto à promoção de energias alternativas.
Para outro respondente da pesquisa de avaliação: “o ponto forte (da tecnologia) é que o sistema reúne duas vertentes relevantes para a agricultura: a meteorologia e a agronomia. Ambos dão suporte à geração, execução e ampliação de políticas públicas”.
Um pecuarista ouvido pela consulta indicou que “o sistema permite ver, em função da temperatura, se o conforto animal será maior ou menor, e programar algum manejo em função do prognóstico indicado no Agritempo”.
“O sistema ajuda a reduzir a perda da produção agrícola e, indiretamente, a pobreza e a fome”, disse outro adotante da tecnologia, produtor do interior do Mato Grosso, ao avaliar o serviço.
Linha do tempo
2003 – Início da adoção da tecnologia
2007 – Medições de acessos no sistema e aferição/cálculo de impactos econômicos
2014 – Versão Agritempo 2.0 é lançada e passa a ser o sistema oficial do então Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o Zoneamento Agrícola de Risco Climático. Inclusão de mapas de monitoramento, notícias e dados meteorológicos a partir da rede de estações meteorológicas no Sistema.
2015 – Lançamento do aplicativo móvel do Agritempo, disponível gratuitamente para download na Play Store2.
2017 – Lançamento do aplicativo móvel Agritempo GIS, com ampliação do alcance da consulta: diferentes tipos de mapas; informações georreferenciadas em diferentes níveis; envio de informações por ponto (localização no mapa) e medições (comprimento e área).
2024 – Lançamento da nova versão do sistema com melhoria da interface com os usuários.
Parceiros institucionais
O Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ) é o principal parceiro no desenvolvimento do Sistema Agritempo. O Instituto Nacional de Meteorologia ( Inmet ) e o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( CPTEC/Inpe ) participam com suas redes de estações B no fornecimento dos dados climáticos ao sistema.
Também foram parceiros no projeto inicial do Agritempo a Faculdade de Engenharia Agrícola ( Feagri ), da Unicamp, e o Instituto Agronômico ( IAC ), por meio de seu Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas ( CIIAgro ). O Ministério da Agricultura e Pecuária ( Mapa ) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar ( MDA ) foram parceiros em acordos de cooperação, apoiando recursos financeiros ao projeto.