A semeadura fora da janela ideal pode provocar perdas nas safras de soja e milho dos Estados Unidos da América, avalia o professor PhD em Meteorologia, Luiz Carlos Molion. O especialista destaca que 9% do milho foi semeado após 31 de maio, quando fechava a janela, enquanto 22% da soja também foi semeada com atraso.
A avaliação de Molion foi feita em live no YouTube e Instagram da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), na última quinta-feira (18). A live foi mediada pela gerente de Defesa Agrícola da Aprosoja-MT, Jerusa Rech.
Segundo o meteorologista, ainda há o risco de as lavouras americanas enfrentarem geadas e nevascas, com potencial de reduzir em 36 milhões de toneladas de milho e 25 milhões de toneladas de soja.
“Esses plantios feitos tardiamente correm um risco muito grande em função do inverno, que deve começar antes. Devemos ter no final de setembro, início de outubro, geadas precoces no Hemisfério Norte e isso deve impactar o ciclo de crescimento”, disse Molion. Ele acrescenta que, caso as plantas alonguem seus ciclos, o risco de serem impactadas por geadas aumenta.
Molion também lembra que em junho deste ano, algumas regiões do “Corn Belt” (Cinturão do Milho), região que concentra a produção de grãos nos Estados Unidos, registraram temperaturas de 1 a 3 graus mais baixas que o normal. Isso reforça a tese da possibilidade de as plantas esticarem seu ciclo, adentrando no inverno mais rigoroso.
Países do Hemisfério Sul também devem ser afetados, diz o meteorologista, principalmente Argentina, Paraguai e a região Sul do Brasil, que estão fora dos trópicos. Molion acredita que a produção de milho da Argentina, a terceira maior exportadora do grão no mundo, atrás apenas dos EUA e Brasil, deve reduzir. A colheita do cereal no país vizinho avança para a reta final.
Outros países que também devem ter suas safras afetadas pelo inverno mais rigoroso serão a China e Índia, dois gigantes mundiais, principalmente em termos de população, concentrando quase 3 bilhões de habitantes. Por outro lado, as previsões para Mato Grosso apontam para condições favoráveis para a safra de soja.
Em Mato Grosso, o plantio da soja está autorizado para ser realizado a partir do dia 7 de setembro, porém, Molion acredita que o início do mês ainda deve ter chuvas reduzidas. A previsão é que a partir da segunda metade do mês, o volume de chuvas aumente, permitindo condições mais favoráveis ao plantio da oleaginosa.
Realizando o plantio na segunda metade de setembro, reforça Molion, o produtor conseguirá realizar a colheita em janeiro de 2025, no ciclo normal da planta. O especialista ainda prevê que na segunda metade do mês de janeiro deve ocorrer um veranico em Mato Grosso, o que deve favorecer a colheita da soja.
“É importante, nas primeiras chuvas de setembro, conseguir segurar essa água, obrigando a infiltração da água no solo e aprofundando o sistema radicular da planta. Com isso, a planta aumenta o seu volume horizontal do sistema radicular e, se pegar um veranico em janeiro, por exemplo, ela vai ter um volume de solo maior pra explorar”, acrescenta.