Produtores de milho de Lucas do Rio Verde e cidades vizinhas participaram de uma visita técnica a propriedades rurais com representantes do Ministério da Agricultura (MAPA), Embrapa, Indea e Aprosoja. Em pauta, adoção de medidas para conter o avanço da cigarrinha nas lavouras de milho. Durante debate ocorrido agora à tarde, eles chegaram a cogitar a adoção de um vazio sanitário, como já acontece com a soja e algodão.
As visitas técnicas a algumas propriedades que apresentaram incidência da praga aconteceram pela manhã. Os pesquisadores coletaram plantas atacadas pela praga. Agora à tarde, na sede do Sindicato Rural, os representantes do MAPA, Aprosoja, Indea e Embrapa ouviram os produtores rurais.
Para o Secretário Nacional de Defesa Agropecuária do MAPA, José Guilherme, ouvir os produtores é importante para definir ações que ajudem a prevenir e combater a cigarrinha. “Nós temos sim algumas medidas de mais de médio prazo, como fundamento em algumas questões de pesquisa, trabalhar pra ter as cultivares tolerantes. E os produtores discutiram, nós contribuímos com a discussão, mas acho que eles vão aprofundar a discussão se vão encaminhar alguma medida regional pensando em algum controle pra próxima safra”, declarou.
Infestação alta
A pesquisadora da Embrapa, Dagma Dionísia da Silva, observa que em situações onde há um índice alto de infestação de cigarrinha, há a possibilidade de enfezamento. Nesse caso, há necessidade de ações pra reduzir as perdas causadas pela praga. Ela cita a necessidade de implementar estratégia de manejo de forma a evitar prejuízos.
“Porque a doença, ela pode chegar aí em 80%, 90% de produção quando o milho é um híbrido altamente suscetível, se tiver clima favorável e alta população de cigarrinha infectiva. Então existem algumas estratégias que já foram estudadas que podem ser implementadas”, explica a pesquisadora.
Dagma ressalta, porém, que nenhuma das medidas adotadas de forma isolada tem efeito desejado. Ela orienta que o produtor deve estar atento com as populações de cigarrinha, além de adotar outras medidas, como o tratamento de semente, controle químico e controle biológico. O produtor deve ainda escolher um híbrido que tenha maior tolerância aos enfezamentos.
“Porque a gente não tem controle químico pros enfezamentos. Evitar perda em colheita. É importantíssimo porque isso gera o milho tiguera, o milho guacho, e isso milho ele vai germinando durante o ano ali e ele favorece o crescimento dos patógenos, manutenção dos patógenos e também da cigarrinha, mas também de outros insetos e outras doenças”, adverte.
Vazio sanitário
Nos últimos anos, a segunda safra do milho ganhou importância para Mato Grosso. Atualmente, a então chamada safrinha alcançou relevância semelhante à primeira safra, tendo ampliado a área de plantio no Estado.
Vice-presidente da Aprosoja, o produtor Lucas Costa Beber observou que o custo para controlar e combater a cigarrinha é muito alto para o setor produtivo. E mesmo assim, as medidas podem ser não eficazes. “Colocando em risco a sustentabilidade da cultura, a rentabilidade e também a geração de receita, não só pro produtor, mas pra toda a região que produz”, pontuou.
Ele explicou que durante os debates, os produtores sugeriram uma cobrança maior das empresas que produzem essas variedades no sentido de intensificar a pesquisa de materiais resistentes. Eles também indicaram a necessidade de fiscalização quando ocorrer algum tipo de descuido em relação ao milho Tiguera.
“Principalmente, pra que haja um acordo regionalizado, que fique claro aqui pra BR 163, pra região norte, mas também eles pediram pra que essa discussão seja levada pro resto do estado”, assinalou.
Os produtores também sugeriram que no próximo ano haja um acordo pra que não seja feito o plantio de milho de primeira safra. A medida visa preservar o milho de segunda safra. “E caso no próximo ano não seja respeitado, aí sim que seja tomada uma medida mais drástica, com a criação de um calendário de plantio ou até mesmo de um vazio sanitário do milho pra não colocar em risco aí essa tão importante cultura aí no nosso estado”, ressaltou Beber.
A discussão do problema envolvendo a cigarrinha começou pela região de Lucas do Rio Verde, mas a Aprosoja deve desenvolver ações nas demais regiões produtoras. “Considerando que a industrialização também já tem avançado em outras regiões aonde que favorece aí o plantio desse milho de safra”, destacou.
Cigarrinha
De acordo com a pesquisadora da Embrapa, a cigarrinha está no Brasil há décadas, com algumas ocorrências registradas na década de 70. Porém, a incidência de populações mais altas aconteceu em safras mais recentes. Dagma observa que começou em Minas Gerais, passou por Goiás e Bahia em entre 2014 a 2016. Em 2019 houve ocorrência da praga no Paraná e agora em Mato Grosso.
“Não é uma praga nova, doença também não é nova. A questão é que atualmente ela tem sido uma praga que tem causado perdas mais severas no Brasil”, declarou.