A queda na rentabilidade esperada para a safra 2023/24, por causa do cenário de preços mais baixos e menor produtividade, deve levar os produtores a reduzir a área plantada de soja no ciclo 2024/25 em Mato Grosso.
A avaliação é do superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, que participou de coletiva realizada pela Aprosoja Brasil e Abramilho, com transmissão virtual.
“Dificilmente, o produtor vai deixar de plantar soja, porque é a sua principal atividade, mas vai parar de fazer expansões e investimentos em áreas que demandam mais recursos”, afirmou Gauer.
O dirigente acrescentou que os preços apontados hoje para o próximo ciclo não cobrem os custos, o que deve levar os produtores a reduzir os investimentos ou buscar outro produto para cultivar.
“Em linhas gerais, a perspectiva é ter redução na próxima temporada porque se mantiver o mesmo pacote de investimentos não vai conseguir rentabilizar a lavoura”, avaliou Gauer.
De acordo com cálculos do Imea, o custo total de produção de soja para a safra 2024/25 está estimado em R$ 7.367 por hectare, ante R$ 7.276 por hectare na safra 2023/24, aumento de 1,2%.
Já a receita bruta estimada por hectare é de R$ 5.517 para o ciclo 2024/25, ante R$ 5.876 para a safra atual, o que representa uma queda de 6,1%.
Na safra 2023/24, os produtores já sofrem um recuo na receita bruta por hectare de 30,1%. Os custos de produção por hectare, no entanto, tiveram uma redução bem mais suave, de 4,5%. As estimativas de custo do Imea não incluem gastos com arrendamento.
Ainda de acordo com Gauer, com preço médio da saca de soja em Mato Grosso em março a R$ 94,80 e os custos para a próxima safra semelhantes aos do atual ciclo, a estimativa de lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida) para o produtor em Mato Grosso está em R$ 91,08 por hectare.
A margem do produtor para a atual safra está estimada em R$ 405 por hectare, considerando a produtividade média das últimas três safras de 58 sacas por hectare.
Mas, não é o que tem sido visto na safra 2023/24.
Com praticamente 100% da safra colhida, a produtividade da soja em Mato Grosso tem apresentado média de 52,81 sacas por hectare, ante 62,30 sacas por hectare na safra anterior.
A produção no Estado está estimada em 38,44 milhões de toneladas, ante 45,32 milhões de toneladas no ciclo passado, uma queda de 15,2%, segundo o Imea.
Com essa produtividade e preço de R$ 94,80, a rentabilidade média por hectare fica negativa em R$ 164, pelos cálculos do Imea.
“O cenário inicial para 2024/25 é de dificuldade para os produtores conseguirem pagar operações de crédito”, acrescentou o superintendente.
O Imea divulga a primeira estimativa de plantio para a safra 2024/25 em maio, por isso, a entidade ainda não tem uma previsão oficial para a próxima safra.
MILHO – Em relação à produção de milho, o Imea estima produção de 43,28 milhões de toneladas na safra 2023/24, ante 52,5 milhões de toneladas na safra anterior, uma queda de 17,6%, resultado de redução de área plantada e menor produtividade em função do clima.
A produtividade média está estimada em 103,86 sacas por hectare, ante 116,80 sacas por hectare no ciclo 2022/23.
O Imea estima que o custo de produção do milho esteja em R$ 6.345 por hectare na safra 2024/25, ante R$ 5.869 por hectare na safra 2023/24, um aumento de 8,1%.
Já a receita bruta por hectare está estimada em R$ 3.214, ante R$ 3.499 na safra 2023/24, queda de 8,1%.
Com o preço médio atual do milho a R$ 30 a saca, a estimativa de Lajida para o produtor de Mato Grosso é de um prejuízo de R$ 1.456 por hectare no próximo ciclo, ante uma perda de R$ 547,05 na safra atual.
Ou seja, o produtor terá grandes dificuldades para ter rentabilidade na safra atual e na próxima, segundo o Imea.
O diretor executivo da Abramilho, Glauber Silveira, declarou que a safra atual de milho está “menos esquisita” que a safra de soja por causa das chuvas de março e começo de abril.
Mas acrescentou que os preços do milho estão muito baixos e não devem pagar as contas dos produtores no fim da safra.
Para o ciclo 2024/25, ele estima que haverá redução de área plantada, especialmente em áreas mais arenosas, que demandam mais investimentos.
“Deve ter um recuo nessas áreas. Mas que tamanho vai ter ainda não sabemos”, completou.