Agricultores da região de Taquaritinga (SP) temem prejuízos financeiros com a suspensão por 60 dias da exportação do limão para a União Europeia (UE), que é a responsável por 80% da compra da fruta do Brasil.
A decisão foi tomada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) após a detecção de uma bactéria no limão que causa o cancro cítrico. A identificação foi feita pela agência de controle fitossanitário da União Europeia em 42 cargas. O problema ocorre desde o fim de 2021 e é o maior descontrole já observado.
De acordo com o ministério, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo foi acionada para que seja feita uma auditoria de avaliação.
“A suspensão começou no dia 1º de julho para os exportadores e packing house que tiveram carga com interceptação de cancro notificado pela União Europeia”, informou o Ministério da Agricultura.
A medida afeta principalmente propriedades de pequenos produtores. Sem o mercado externo, eles começam a enfrentar a queda do preço da caixa.
“Com a proibição para exportar esse produto, a fruta vai ficar no mercado interno e, possivelmente, o preço pode cair mais”, diz o presidente do Sindicato Rural, Marco Antônio dos Santos.
Ao todo, 15 barracões que fazem armazenamento e exportação na região de Taquaritinga foram interditados.
O que é cancro cítrico
O cancro cítrico é uma doença causada pela bactéria Xanthomonas citri subsp. Citri, que, de acordo com o especialista agropecuário da Coopercitrus, Luíz Felipe Rinaldi, teve origem na Ásia, mas já ocorre de forma endêmica em todos os países produtores de citros. No Brasil, foi identificado pela primeira vez em 1957 nos estados de São Paulo e Paraná.
“A doença causa desfolha das plantas, queda prematura dos frutos e desvalorização da produção. Essa desfolha, quando muito intensa, compromete significativamente a área fotossintética da planta, afetando negativamente o desenvolvimento das plantas”, explica Rinaldi.
Todas as espécies de citros, como limão, laranja e mexerica, podem ser afetadas pela bactéria. Segundo o engenheiro agrônomo Luiz Gonzada Fenólio, os principais sintomas de contaminação são o aparecimento de lesões em toda as partes das plantas, como folhas, ramos e frutas.
“Nas folhas e nos frutos, inicialmente, aparecem pontuações circulares amarronzadas. À medida que evoluem, são acompanhadas por um anel amarelo. Na fase mais adiantada dos sintomas, essas lesões viram rachaduras com superfícies ásperas (lembram uma ferida na pele em final de cicatrização que começa rachar). Já nos ramos, aparecem lesões salientes que lembram verrugas.”
Apesar dos machucados, de acordo com Rinaldi, a bactéria fica restrita a camada mais externa da fruta, não chegando à polpa e não alterando o sabor ou a qualidade da fruta.
Por conta disso, o Ministério da Agricultura afirma que não há risco à saúde humana. “É uma praga que afeta a produtividade da planta, e o fruto contaminado pode ser meio de dispersão da praga.”
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, a bactéria se espalha por diversos vias, como vento, contato com material de colheita, trânsito das frutas, entre outros. Para evitar a contaminação, é necessário utilizar um produto de controle que, segundo ele, não é tão acessível.
“O produtor, de forma geral, deixou de fazer essa prevenção, [porque é utilizado] um produto a base do cobre, que você tem que passar pelo menos uma vez por mês em toda a área para ter uma proteção, mas muitos produtores não tiveram condições financeiras de fazer isso”, explica Santos.
No caso da União Europeia, a ameaça de suspensão de compra dos limões com cancro cítrico se dá porque, segundo Rinaldi, a Europa ainda é um continente livre da doença, o que intensifica as fiscalizações para impedir a entrada do patógeno.