Durante o primeiro dia do Seminário Técnico sobre a Ferrogrão, realizado em Santarém, Pará, um indígena da aldeia Solimões protagonizou um protesto contra a construção da ferrovia. O ato, que consistiu em pintar os rostos dos representantes do governo e de instituições com tinta de urucum, foi registrado em vídeo e ganhou repercussão nas redes sociais.
João Kumaruara, um indígena da região, explicou em um post no Instagram que o gesto representava a oposição à proposta de desenvolvimento que pretende abrir uma área de 900 mil hectares entre Mato Grosso e Pará na Amazônia. Ele ressaltou que o projeto afetará diretamente as aldeias indígenas da região, incluindo os povos Munduruku e Kayapó Paranã, além de causar danos significativos à fauna e flora local.
A reação de Naldinho Kumaruara, apontado como o responsável pelo protesto, provocou indignação entre alguns convidados do seminário, que se levantaram e deixaram o auditório da Universidade Federal do Oeste do Pará, Unidade Tapajós, onde o evento estava sendo realizado.
O seminário técnico, que prossegue nesta quarta-feira, tem como objetivo discutir a viabilidade socioambiental da Ferrogrão em Santarém e conta com a participação de representantes do governo federal, sociedade civil, povos indígenas e representantes de setores como CNA e AMPORT.
A EF-170, também conhecida como Ferrogrão, é uma ferrovia planejada para ser construída paralelamente à BR-163, entre Sinop (MT) e Itaituba (PA), com 933 km de extensão e capacidade de transporte de até 52 milhões de toneladas por ano. O objetivo é reduzir o custo de transporte de commodities agrícolas de Mato Grosso, principalmente soja e milho.
O investimento total previsto é de R$ 21.574 bilhões, com 3.6% do valor total destinado a compensações socioambientais, incluindo R$ 13,513 milhões para condicionantes indígenas ao longo de sete anos. O governo planeja compartilhar o risco dos custos socioambientais com a concessionária.