Especialistas debateram, nesta quarta (11), os impactos de um possível Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a China e as oportunidades de investimentos para o agro brasileiro e outros setores da economia com a negociação.
Os temas foram destaque do evento “Reflexões sobre um eventual Acordo de Livre Comércio Mercosul-China”, realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília.
Na oportunidade, foi apresentado o estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), patrocinado pela CNA, que traz uma análise sobre investimentos, cadeia de valor e competitividade dos dois mercados sob a perspectiva dos efeitos de uma potencial negociação comercial. Clique aqui para acessar o estudo.
A diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, conduziu a moderação do painel em que o documento foi divulgado e ressaltou que a iniciativa foi importante para trazer pragmatismo e reflexão técnica.
“Esse possível acordo é um tema sensível para o nosso país e precisamos entender como a China, que é o nosso principal parceiro, tem se portado diante do mundo e dentro de outras negociações”, disse.
O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Renato Baumann, afirmou que o ponto de partida para o estudo foi o reconhecimento de uma situação que o Mercosul vivencia hoje no cenário internacional, que é a não participação de grandes acordos que envolvem importantes mercados e produtos contemplados, destacando a estratégia de outros mercados no engajamento em tratados comerciais.
“O problema é que se essas grandes iniciativas forem bem-sucedidas, podem afetar negativamente o dinamismo das exportações brasileiras e do Mercosul de um modo geral. Então cabe ao bloco pensar em uma estratégia de participação mais intensa no cenário internacional e um candidato natural é a China, que tem um peso importante na provisão de recursos para investimentos e empréstimos”.
Para Renato, se houver uma movimentação para o estabelecimento de um mandato negociador, é necessário entender os possíveis impactos para os setores da economia brasileira. “Existe um grande interesse por parte do agro e nem precisaria fazer um estudo para chegar a essa conclusão, mas há uma resistência de outros setores. Temos que pensar em uma estratégia negociadora que possa minimizar eventuais impactos negativos”.
O também economista do Ipea, Fernando Ribeiro, apresentou os principais pontos do estudo e destacou que o objetivo foi identificar quais os ganhos ou perdas que poderia trazer para os países, seja em termos das principais variáveis macroeconômicas, seja sobre os níveis de produção, emprego, exportações e importações setoriais.
“Fizemos uma simulação considerando o horizonte de dez anos para desgravação do acordo e três tipos de choques: tarifas de importação (redução a zero ao longo de dez anos); barreiras não-tarifárias técnicas (redução diferenciada para cada setor) e barreiras não-tarifárias não técnicas (redução de 90% do equivalente ad valorem , feita de maneira gradual e uniforme ao longo de 10 anos)”.
O especialista concluiu que o acordo traria ganhos ao PIB, investimento, bem-estar e em outras variáveis macroeconômicas; perdas de produção e emprego em alguns setores da indústria de transformação, especialmente em setores intensivos em trabalho, em escala e em tecnologia e que o agro seria o grande ganhador da possível negociação.
Durante o evento, foi discutido o comércio e os investimentos nas relações sino-brasileiras no contexto de um acordo. O painel contou com a moderação da diretora executiva do CEBC, Cláudia Trevisan, que mencionou a importância do ganho de competitividade para o Brasil com um Acordo de Livre Comércio entre Mercosul-China, diante do acesso a bens de capitais e insumos mais baratos.
Em sua fala, o coordenador da Divisão de Acesso a Mercados da ApexBrasil, Gustavo Ribeiro, informou que a agência não formula políticas públicas, mas subsidia o governo com informações de oportunidades e executa ações de promoção comercial quando uma negociação é concluída. “Acordos ampliam a capacidade exportadora brasileira e tem tudo a ver com a atuação da Apex”.
Para Gustavo, o Brasil já segue padrões e normas exigidos no comércio internacional, mas precisa cada vez mais trabalhar outros elementos relativos a convergências regulatórias, mecanismos de diálogo em temas sanitários que facilitem o acesso a novos mercados. “Para avançar um acordo entre Mercosul-China é importante entender a complexidade da relação sino-brasileira e os riscos e oportunidades”.
Em seguida, o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, André Dobashi, disse que quando se fala em comércio, é importante entender que o papel do produtor rural vai além da produção de alimentos, incorporando responsabilidade pela segurança alimentar, entendendo os padrões sustentáveis e ressaltando, sobretudo, as oportunidades com relação à matriz energética brasileira.
De acordo com André, “é importante entender como a produção de combustíveis limpos, como o etanol, podem auxiliar o mercado chinês a superar seus desafios rumo à transição energética”.
Por fim, o professor de Economia da Universidade de Brasília, Jorge Arbache, frisou que investimentos garantem maior projeção internacional do que a exportação, do ponto de vista econômico. “O Brasil precisa de investimento que venha acompanhado de tecnologia, boa governança e que leve o país a integrar a economia global com um padrão mais sofisticado”.
Segundo Jorge Arbache, a China tem capacidade de financiamento externo que pode ser útil para o Brasil, principalmente nas áreas de infraestrutura, telecomunicação, energia e economia digital. “O país asiático precisa de um aliado como o Brasil para vencer diversas barreiras, então temos que explorar esses espaços que estão disponíveis e elaborar uma agenda de interesse comum”, disse.