El Niño afeta a produtividade da soja na região do Cerrado

Estudos anteriores já indicavam impactos na maior ou menor ocorrência de chuvas nas Regiões Sul e Norte do País, mas os efeitos sobre o Brasil Central ainda eram desconhecidos ou considerados ausentes ou mínimos

Fonte: CenárioMT com Assessoria

Calor e estiagem afetam a produtividade da soja no estado e deve provocar redução da área de milho segunda safra em 24,59%
Foto: Alfredo Luiz

Pesquisadores da Embrapa analisaram a influência do El Niño sobre a soja semeada em Planaltina (DF), região de Cerrado, e detectaram que há efeitos do fenômeno na produtividade da cultura, em datas específicas do ano. Estudos anteriores já indicavam impactos na maior ou menor ocorrência de chuvas nas Regiões Sul e Norte do País, mas os efeitos sobre o Brasil Central ainda eram desconhecidos ou considerados ausentes ou mínimos.

No estudo, os anos analisados, segundo a presença ou não do fenômeno, foram agrupados em cinco tipos: El Niño; Fim de El Niño; Neutro; Início de La Niña; e La Niña. Alfredo Luiz, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e um dos autores do trabalho, aponta que foi possível observar que nos anos de El Niño a produtividade média da soja semeada nos meses de setembro e outubro ficam muito aquém do seu potencial e do patamar alcançado, nessas mesmas datas de semeadura, nos anos em que o fenômeno não está presente.

O El Niño é o que se chama de um fenômeno climático de larga escala, ou seja, é uma ocorrência que se estende por grande parte do planeta e que permanece por longo período. Embora seja determinado principalmente pela diferença de temperatura em certas regiões do Oceano Pacífico, sua influência é sentida em várias partes do globo.

“Existem diversos índices criados pelos pesquisadores para o monitoramento desse fenômeno. Como o efeito não é o mesmo sobre as várias regiões afetadas, é preciso que se estude com detalhe como e quando o El Niño age sobre as variáveis climáticas de cada local e como isso pode afetar as atividades agrícolas”, enfatiza Luiz.

Por ser uma atividade conduzida a céu aberto, em sua maioria, a agropecuária sempre estará sujeita, ainda de acordo com o pesquisador,  aos caprichos meteorológicos, mas o conhecimento científico pode ajudar, por meio de previsões cada vez mais acuradas, na diminuição dos prejuízos causados por acontecimentos extraordinários do clima.

Para Alfredo Luiz,  pesquisas complementares são necessárias para investigar quais as variáveis climáticas foram afetadas nos anos de El Niño e no período de crescimento da soja que tanto influenciaram na queda da produtividade da cultura. E será investigada a relação entre essas variáveis e os indicadores de El Niño.

O ideal é que se consiga prever com boa antecedência, por meio do uso desses índices, quais as alterações estarão presentes durante o ciclo da cultura, de maneira que o produtor tenha tempo de adequar a data de plantio e o tipo de cultivar que ele adotará a cada safra.

“Em especial, destaca o pesquisador, as atividades agrícolas enfrentam enormes desafios diante dos eventos climáticos adversos. Atualmente, no Brasil, estamos presenciando, ao mesmo tempo, regiões assoladas pela seca enquanto outras sofrem com o excesso de chuvas”, alerta

O trabalho Efeito de El Niño na produtividade da soja em Planaltina, DF, teve coautoria do pesquisador Fernando Macena, da Embrapa Cerrados, e foi apresentado na 22 edição do Congresso Brasileiro de Agrometeorologia (XXII CBAGRO), de 3 e 6 de outubro, em Natal (RN). O tema foi A Agrometeorologia e a Agropecuária: Adaptação às Mudanças Climáticas.

Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso.