A safra de soja 2025/26 em Mato Grosso será marcada por custos de produção mais altos e um ambiente de crédito significativamente mais restrito e caro. É o que aponta o relatório “Funding Soja 2025”, elaborado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). O custeio médio por hectare avançou 7,08% em relação à safra anterior, impulsionado principalmente pelos gastos com fertilizantes (+9,36%) e serviços operacionais (+16,22%). A área plantada estimada é de 13,01 milhões de hectares, um crescimento modesto de 1,67%, refletindo a cautela dos produtores diante de margens apertadas.
O financiamento total necessário para custear a soja no estado atingirá R$ 54,39 bilhões. Nesse cenário desafiador, a composição das fontes de funding sofreu mudanças importantes. O Sistema Financeiro (bancos privados com linhas próprias) se consolidou como a principal fonte, respondendo por 35,42% do total, um aumento de 5,04 pontos percentuais. Por outro lado, os Recursos Federais (via Plano Safra) tiveram participação reduzida para apenas 5,07%, recuo de 3,59 p.p., afetados pelas altas taxas de juros e maior seletividade.
“As instituições financeiras estão operando com maior seletividade, reforçando garantias, ampliando o uso da alienação fiduciária e priorizando operações com menor risco”, destaca o estudo. Esse movimento ocorre em um ambiente de aumento da inadimplência e de recuperações judiciais no setor.
Multinacionais avançam, revendas perdem espaço
As Multinacionais e Tradings do setor de insumos e grãos mantiveram papel crucial, sendo a segunda maior fonte de recursos (30,74% do custeio). Elas absorveram parte do espaço deixado pelas Revendas de Insumos, cuja participação caiu pela metade, de 11,45% para 5,25%. A piora financeira desse segmento, com aumento de falências, limitou sua capacidade de oferecer crédito.
Recursos próprios crescem, mas com ressalvas
Os Recursos Próprios dos produtores atingiram 23,51% do custeio, aumento de 2,84 p.p. O relatório, porém, faz uma ressalva importante: parte desse montante pode representar a utilização da receita da safra passada (2024/25) para comprar insumos à vista para a nova temporada, um mecanismo contabilizado como autofinanciamento. “Esse movimento não indica um ganho estrutural de liquidez, mas uma resposta conjuntural ao ciclo de renda favorável e à limitação do crédito tradicional”, explica o texto.
Ferramentas alternativas ganham destaque
Diante do crédito bancário caro e escasso, instrumentos como a Cédula do Produtor Rural (CPR) e operações estruturadas de barter (troca de insumos por grãos) se tornaram ainda mais essenciais para viabilizar a produção. “Essas modalidades privadas seguem centrais para viabilizar o custeio em um cenário de elevada seletividade”, conclui o estudo.
Perspectivas para a próxima safra
Para a safra 2026/27, uma primeira estimativa do Imea projeta uma leve redução de 0,54% nos custos de produção, puxada pela expectativa de queda nos preços de sementes e fertilizantes. No entanto, o financiamento deve permanecer um desafio.
“As perspectivas apontam para um cenário mais desafiador, considerando a menor disponibilidade de recursos próprios dos produtores e a necessidade crescente de participação do sistema financeiro”, alerta o relatório.
O aumento da inadimplência deve elevar a cautela dos bancos, resultando em condições ainda mais restritivas.
A gestão financeira e o gerenciamento de riscos climáticos, portanto, se tornam fatores decisivos para a sustentabilidade dos produtores nas próximas temporadas.



















