O professor da Universidade de Ohio (EUA) Rattan Lal, referência mundial em ciência do solo e prêmio Nobel da Paz em 2007, destacou nesta segunda-feira (14), durante a COP27, no Egito, o papel do Brasil na produção sustentável de alimentos e na promoção da paz mundial. Ele participou do painel Segurança Alimentar e Paz, durante o Dia do Agro no pavilhão do Brasil.
Rattan Lal disse que a produção de alimentos seguros para todos é o fator mais importante para promover a paz e a estabilidade no mundo. “Quando o estômago não está cheio, não pode haver paz. Não pode haver paz enquanto houver fome e má nutrição. Acho que o que o Brasil e a América do Sul estão fazendo em agricultura está promovendo a paz, e outros países devem fazer o mesmo”, disse o professor.
Ele também destacou que o Brasil pode ser um modelo de liderança global sobre o uso do solo como um depósito de carbono para uma agricultura positiva. Segundo Rattan Lal, além dos produtos agrícolas como carne bovina, milho e arroz, o Brasil pode produzir carbono. “Isso significa aumentar a captura de carbono no solo, o que pode ser visto como commodity, e pode ser uma fonte de renda para o país”.
O pesquisador apresentou seus estudos, que mostram a necessidade de todos os países produzirem mais alimentos, utilizando menos terras, menos água, menos fertilizantes e pesticidas, com menos emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. “Existe uma necessidade forte e urgente de desenvolver sistemas de produção inovadores que conciliem a necessidade de produção de alimentos com a necessidade de recuperar o meio ambiente”, destacou.
Nesse sentido, a diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Mapa, Fabiana Villa Alves, apresentou o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC+), que desde 2010 promove técnicas sustentáveis na produção agropecuária brasileira. “O Brasil hoje é referência para a produção agropecuária de baixa emissão de carbono. Produzir e conservar é possível, e nós sabemos como fazer isso”, disse a diretora.
Também participaram do debate o presidente da Comissão de Meio Ambiente da CNA, Muni Lourenço, e o secretário da Amazônia e Serviços Ambientais do MMA, Marcelo Freire. O Pavilhão Brasil na COP27 é uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Apex-Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Sebrae.
Segurança alimentar e climática
Nesta segunda-feira, o secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação, Cleber Soares, também participou do painel Segurança Alimentar e Segurança Climática, durante a COP27. O secretário lembrou que há cerca de 40 anos o Brasil importava cerca de 80% dos alimentos que eram consumidos e hoje é exportador de alimentos, graças à ciência e tecnologia, mas principalmente por causa de um modelo de agricultura adaptativa. “Se hoje nesta COP o mundo discute adaptação, o Brasil já faz agricultura adaptativa, e consequentemente sustentável, há pelo menos 40 anos”.
Com o uso de tecnologias descarbonizantes, o Brasil foi dominando a correção de solo com o uso de tecnologias descarbonizantes, como fixação biológica de nitrogênio e adaptação de cultivos, possibilitando o aumento e a diversificação de suas culturas. “Progressivamente, saímos de um modelo de monocultura para sistemas integrados e hoje no Brasil nós temos algo em torno de pelo menos 17 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta”, destacou Soares.
A diretora de Clima Natureza e Energia do Reino Unido no Brasil, Bruna Cerqueira, disse que o Brasil tem um papel fundamental para a difusão de tecnologias de baixa emissão de carbono. “O Brasil é um líder em técnicas de baixa emissão de carbono e isso precisa ser expandido, Precisamos ganhar escala com essas tecnologias e o Brasil pode ser um parceiro chave em cooperação global com países de agricultura tropical. Isso é uma necessidade de todo o mundo, e se não trabalharmos juntos todos vamos sofrer com as consequências”. Ela garantiu que o Reino Unido está comprometido em trabalhar com o Brasil para apoiar sistemas nacionais. O país já apoia a implementação do plano ABC por meio do Programa Rural Sustentável que, durante a COP 27 lançou o PRS Amazônia.
Também participaram do painel o consultor de política do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Jeremy Adamson, a CEO da Fundação Macdoch, da Austrália, Michelle Gortan, o assessor técnico e jurídico da Comissão de Meio Ambiente CNA, Rodrigo Justus, e o diretor de Relações Internacionais da CNA, Gedeão Pereira.
Pecuária Sustentável
No painel Pecuária sustentável, a diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Mapa, Fabiana Villa Alves, destacou a importância da comunicação e de parcerias para disseminar as iniciativas sustentáveis no setor. “A pecuária sustentável é inclusiva, traz todos para dentro do jogo, mostrando que somos sim possíveis de fornecer essa segurança alimentar que está sendo tão discutida aqui na COP, transformando as palavras mágicas mitigação e adaptação em algo realmente factível, que já estamos fazendo há algum tempo no Brasil”, disse Fabiana.
Também participaram o presidente do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), Caio Penido, a diretora de Sustentabilidade da Friboi, Liège Correia, e o presidente da LIga do Araguaia, Braz Peres.
Os painéis realizados hoje também trataram de temas como o Programa de Regularização Ambiental Produtiva (PRAVALER), com a participação do diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Pedro Neto, e a diretora de Regularização Ambiental, Jaíne Cubas. Outro assunto abordado foi as políticas públicas para promoção da adaptação e mitigação nos trópicos, com a participação dos representantes do Mapa Alexandre Barcelos, diretor do departamento de desenvolvimento de cadeias produtivas; Eleneide Doff Sotta, coordenadora de mudanças do clima; e Sidney Medeiros, da Coordenação de Mudanças Climáticas do Mapa.