Biocombustível como vetor de descarbonização é pauta de debate na AgriZone

Fonte: Assessoria/Cristiane Vasconcelos

Foto: Vivian Chies

Uma das questões principais quando se trata de mudanças climáticas é como reduzir as emissões de CO². Esse desafio começa por como quantificar essa mitigação e segue pela discussão de como capturar, reutilizar e mesmo reciclar esse carbono. Políticas públicas que reconheçam a agricultura como motor essencial nesse processo, explorem novos mercados como oportunidades para que a agricultura gere, além de alimentos, bioprodutos, e a capacidade de realizar isso com base em ciência e tecnologia foram caminhos apontados.

As sugestões foram apresentações e debates pelo chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, na programação da AgriZone, na COP30. O painel “Sustentabilidade ambiental e contabilidade de carbono” foi promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), no espaço AgroBrasil, dia 19 de novembro. O dia foi dedicado à discussão do tema “Energias Renováveis”.

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Harmonização dos cálculos de carbono

Essa foi uma das questões levantadas pelo Brasil na COP 30. Ter dados que reflitam como de fato estão como detalhes relativos a esse segmento no país são necessários para debater este ponto. Nesse contexto, Alexandre trouxe dados brasileiros para a discussão. Ele citou uma série de estudos que mostram que, apenas pela utilização de biocombustíveis, o Brasil já evitou a emissão de mais de 840 milhões de toneladas de CO² equivalentes desde o início do programa de etanol – marcado pela criação do Proálcool em 1975. Anualmente, disse ele, dados da Embrapa mostram que o país já mitigou quase 100 milhões de toneladas de CO² pela produção de biocombustíveis e bioeletricidade. “Isso é muita coisa”.

Os dados também refletem a força do segmento de biocombustíveis no Brasil. “Quando falamos de biocombustíveis, estamos falando de uma estratégia de descarbonização no contexto da agricultura tropical”, defendeu. Ele também destacou como os biocombustíveis e a agricultura são base para um grande sistema de captura e reciclagem de carbono. Citando o que ele chamou de quatro “R”, reduzir, reutilizar, remover e reciclar. O caminho para a economia circular.

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Há mais de 50 anos o Brasil vem fazendo uma escolha estratégica pelos biocombustíveis. De acordo com o chefe-geral, um papel que só aumenta. “Os biocombustíveis vivem um momento de expansão, como é o caso das possibilidades de uso de cana-de-açúcar para produção de etanol de primeira e segunda geração, biogás, biometano, bioeletricidade, SAF, biobanker, pensar em como capturar CO² e usar quem sabe para combustíveis sintéticos”, citou. “É preciso usar tudo isso como uma ferramenta para mitigação de gases de efeito estufa”.

Retomando a questão da harmonização de profundidade, Alexandre ressaltou a importância de comprovar a mitigação de que esses bioprodutos de fato podem promover. “Temos que ter como medir isso”. Um passo nessa direção, na opinião dele, veio com o RenovaBio. “Demos um passo importante para isso quando trouxemos a base científica para essa contabilização”. Contudo, ele também indicou que outro passo significativo para a realização dos cálculos da política pública seria de como tropicalizar os fatores de emissão. “Muitas vezes, o biocombustível brasileiro tem um cálculo de emissão com base num modelo que não é o de agricultura tropical que a gente tem hoje no Brasil”.

Segundo Alexandre, a agricultura brasileira vem passando por um processo chamado de modelo de intensificação sustentável, que tem como base a adoção de biotecnologias, bioinsumos, uso de tecnologias para segunda e terceira safras etc. “Se a pegada de carbono para cálculo de uma maneira adequada aos modelos que a gente vem trabalhando, isso vai demonstrar que os biocombustíveis brasileiros são sim uma máquina de descarbonização, que são sim uma solução climática”, defendeu.

O novo comportamento do produtor

Alexandre lembrou que o programa de biocombustíveis começou por uma agenda econômica para, em seguida, se alinhar também a uma agenda climática e de sustentabilidade. Segundo ele, a agricultura está seguindo o mesmo caminho. O chefe-geral explicou que a agricultura brasileira passou por três fases. A primeira fase, na década de 1970, foi de expansão; A segunda fase foi marcada pelo aumento de produtividade com um modelo de agricultura próprio, com grande investimento em ciência e tecnologia.

Agora, a agricultura vive uma terceira fase, de sustentabilidade, onde o campo brasileiro não é apenas produtor de commodities ou de biomassa, ele vem produzindo alimentos, fibras, pensando em serviços ecossistêmicos e em segurança alimentar. E, do mesmo modo, o agricultor também aumentou essa mudança.

Tratando-se da agenda da sustentabilidade, uma questão importante segundo Alexandre, é sobre como colocar essa agenda não somente como algo imposto de fora para o produtor, mas como algo que ele queira participar, sabendo que gerará benefícios para o seu trabalho. “Quando conseguimos transformar políticas públicas como o RenovaBio, que transforma um ativo ambiental em ativo financeiro, geramos retorno financeiro dentro de uma agenda ambiental, isso é muito importante”, ressaltou.

Para o chefe-geral, a agenda de biocombustíveis conecta a agricultura à indústria. Tem-se uma matéria-prima para gerar um produto agroindustrial. A biomassa, por exemplo, pode ter um impacto positivo em setores como os de transportes, como o de aviação e marítimo. “O biocombustível pode ser um vetor de uma nova industrialização no país, de uma indústria verde baseada na agricultura. Pode também conectar a agricultura a novos mercados, auxiliando na descarbonização de novos setores”. Um ciclo que vai abrir novas alternativas para os produtores. “Essa sinergia entre ciência, mercado e política pública favoreceu para os produtores migrarem para uma agenda de sustentabilidade”.

Com todas essas possibilidades, Alexandre destacou como é significativo que essa discussão sobre biocombustíveis esteja acontecendo durante a COP, na AgriZone. “Sem agricultura não há biocombustível. Sem agricultura, o país não tem seu principal motor de descarbonização. Então, trazer uma discussão sobre transição energética no Brasil via biocombustíveis para a COP 30 é absolutamente fundamental”.

Boas práticas e adoção de tecnologias

Para Alexandre, o produtor brasileiro sempre esteve muito atento às novas tecnologias. “Ele tem essa característica de ser empreendedor e atento ao desenvolvimento tecnológico”. Vivemos num mundo hiperconectado, com acesso fácil e rápido à informação, e recomendamos usar essas novas tecnologias para transições mais rápidas no campo. “Um momento com esse que estamos vivendo, na COP, favorecendo que uma agenda de sustentabilidade e de tecnologia venha para o dia a dia das pessoas, encurtando o tempo de adição destas”.

Ele lembrou que durante muito tempo a Embrapa desenvolveu o modelo tradicional de realizar a pesquisa, desenvolver a tecnologia e oferecê-la ao público final. Já hoje, a Empresa já tem e segue pensando em vários ambientes que permitam o desenvolvimento conjunto, e citou como exemplo o AgNest. “Por que não podemos fazer um processo de cocriação? Isso faz com que nos aproximemos dos produtores e nos permita desenvolver algo que atenda a um problema real”. Trazer os agricultores para junto da pesquisa pode encurtar esse caminho de levar uma tecnologia para o campo.

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Jornalista formado (DRT 0001781-MT), atua no CenárioMT na produção de conteúdos sobre política, economia, esportes e temas do agronegócio em Mato Grosso. Com experiência consolidada na redação e apuração regional, busca entregar informação clara e contextualizada ao leitor. Aberto a pautas e sugestões. Contato: [email protected] .