Adoção do protocolo Carne Baixo Carbono pode reduzir emissões da pecuária em 35%

Fonte: CenarioMT/Larissa Morais

Foto: Gabriel Faria

A primeira apresentação técnica do Protocolo Carne Baixo Carbono foi realizada pelo pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo em um painel na AgriZone, na Casa da Agricultura Sustentável da COP30, nesta quinta-feira (20). A iniciativa, lançada também na AgriZone no dia 16, representa um modelo de negócios inédito que alia sustentabilidade, rastreabilidade e valorização econômica da propriedade rural.

De acordo com uma calculadora de carbono desenvolvida recentemente pela Embrapa, o protocolo prejudicou em 35% a intensidade de emissão de carbono das propriedades já adquiridas, em relação à média da pecuária de corte brasileira.

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Desenvolvido desde 2018 em parceria entre a Embrapa e a Marfrig (MBRF), o protocolo envolve um processo de certificação voluntária com foco na redução de emissões e no incremento das remoções de carbono pelo solo.

Validação científica comprova eficácia

Roberto Giolo apresentou dados que comprovam a capacidade dos sistemas peculiares de remoção de carbono do solo em comparação com a mata nativa. “Já sabíamos desde 2012, através de experimentos no Cerrado, que pastos bem gerenciados podem superar a mata nativa na remoção de carbono. Isso também acontece na Amazônia e na Mata Atlântica”, explicou.

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A validação do Protocolo Carne Baixo Carbono, realizada entre 2020 e 2023 em fazendas comerciais, como a do Grupo Roncador, em Querência (MT), e a Trijunção, em Jaborandi (BA), gerou dados mais consistentes. Os resultados mostraram estoques de carbono no solo em áreas que atenderam aos critérios do protocolo, maiores que os da região nativa.

Modelo abrangente e acessível

O protocolo conta com 67 critérios divididos em módulos de conformidades, solo, pasto, animal, terminação intensiva e planta frigorífica. Para iniciar a certificação, o produtor precisa atender apenas 20 critérios mínimos, numa perspectiva de melhoria contínua a cada dois anos.

“O protocolo não é nada complexo, bastante abrangente, e pode ser usado em todos os biomas, exceto nas áreas alagadas do Pantanal. As práticas não estão muito fora do que os produtores já fazem”, destacou Giolo. A organização não governamental Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, com a colaboração da Embrapa Gado de Corte, elaborou um guia para os produtores rurais com um passo a passo simplificado para sua implementação. Uma ONG apoia o projeto.

Mercado em expansão

Leonel Almeida, gerente global de Pecuária Sustentável da MBRF, revelou que a empresa já mapeou quase 700 propriedades com potencial para adesão imediata ao protocolo, representando de 250 mil a 300 mil animais. “O protocolo vem coroar as boas práticas agropecuárias, que já vêm sendo utilizadas, e tornar a sustentabilidade algo concreto”, resumiu. O executivo afirmou ainda que a iniciativa tem alto potencial para ser compatível com o modelo de produção de carne brasileiro.

Expansão para outras culturas

Carina Rufino, chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, afirmou que o Protocolo Carne Baixo Carbono é um projeto disruptivo que trouxe um legado muito maior, além do impacto na cadeia da pecuária de corte. Segundo o gestor, o modelo será adaptado para outras culturas. “Em 2026 vamos começar a operar o protocolo de baixo carbono no mercado da soja, com potencial de 30% de redução das emissões e 30% em remoção. Vêm por aí protocolos para sorgo, leite, trigo e milho, dentre outros”, revelou.

Ela deu o exemplo dos produtores que adotam sistemas de integração e que obtiveram o selo Carne Baixo Carbono – provavelmente, eles não terão dificuldades em obter a soja, trazendo grande diferencial para o setor no Brasil.

Transparência para o consumidor

Mauro Armelin, diretor-executivo da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, contou que a ONG acordos “enorme” potencial no protocolo para ajudar na meta principal da entidade, acaba com o desmatamento. Por isso, o apoio ao projeto.

De acordo com Mauro, o protocolo Carne Baixo Carbono é uma das peças para resolver o complexo problema do clima. “A redução das emissões por combustíveis fósseis é um caminho, mas outro caminho está aqui neste protocolo, com a adaptação às mudanças climáticas na prática”, disse.

O diretor destacou ainda o papel do protocolo na transparência da cadeia produtiva. “O consumidor final não tem ideia do seu poder. Por isso desenvolvemos a campanha ‘Siga o Rastro’ . O protocolo deixa o rastro e dá os insumos para seguir esse rastro”, explicou. O portal Siga o Rastro reúne as iniciativas disponíveis para ajudar os consumidores de carne a fazer escolhas mais sustentáveis.

Mais sobre o protocolo

A iniciativa já conta com quatro certificadas credenciadas pela Embrapa e utiliza a plataforma Agri Trace Animal da CNA para rastreabilidade. O protocolo se aplica a áreas consolidadas (não desmatadas após 2008), sistemas pastoris ou agropastoris, com animais de 10 a 30 meses – bem abaixo da média brasileira de 40 meses, em consonância com o padrão “Boi China”.

O protocolo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2, 12 e 13, às diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), à iniciativa internacional 4 pour 1000 (de combate às mudanças climáticas, com foco na importância dos solos para a agricultura e a segurança alimentar) e aos critérios ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês), posicionando-se como uma das principais ferramentas para tornar a agropecuária brasileira parte da solução climática globais.

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Jornalista formado (DRT 0001781-MT), atua no CenárioMT na produção de conteúdos sobre política, economia, esportes e temas do agronegócio em Mato Grosso. Com experiência consolidada na redação e apuração regional, busca entregar informação clara e contextualizada ao leitor. Aberto a pautas e sugestões. Contato: [email protected] .