A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, e a diretora executiva do Grupo Consultivo de Pesquisa Internacional ( CGIAR ), Ismahane Elouafi, enviaram nesta quarta-feira, 12 de junho, memorando de entendimento para fortalecer a colaboração no desenvolvimento de pesquisas sobre sistemas resilientes alimentares, no contexto das mudanças climáticas. A iniciativa, que envolve especialistas e autoridades da investigação internacional, vai contar com o apoio da maior rede de investigação agrícola com financiamento público do mundo. A assinatura ocorreu durante a 20ª Reunião do Conselho do Sistema CGIAR, na sede da Embrapa, em Brasília, com a presença de representantes de financiadores e países em desenvolvimento.
Essas reuniões aconteceram duas vezes por ano e reuniram representantes de países financiados e em desenvolvimento, com o objetivo de reverter a estratégia, missão, impacto e relevância contínua do CGIAR de forma ágil, em um cenário em mudança da pesquisa agrícola para o desenvolvimento. “A escolha da Embrapa para sediar o evento em 2024 é uma homenagem à relevância da Empresa no contexto agrícola mundial e, especialmente, aos seus 50 anos completados em 2023”, explica o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão Pedro Machado, que representa a instituição no Grupo Consultivo.
Acordo reforça a cooperação Sul-Sul
Entre as áreas prioritárias da cooperação estão recursos naturais e mudanças climáticas: adaptação e resiliência de sistemas de produção e cultivos estratégicos; bancos de genes, incluindo criopreservação; biotecnologia, microrganismos e nanotecnologia; biomassa e química verde; bioeconomia e bioprodutos. Tecnologia pós-industrial; automação, agricultura de precisão e digital, inteligência artificial, tecnologia da informação e comunicação também estão previstas, bem como modelagem e análise de dados, incluindo a criação de métricas e indicadores padronizados. Além disso, sistemas de produção animal e vegetal e paisagens multifuncionais; segurança alimentar, nutrição e saúde; bem como mercados, políticas e desenvolvimento rural.
O presidente da Embrapa lembrou os desafios a serem enfrentados, incluindo as mudanças climáticas, a transição energética e a inclusão digital, social e produtiva em áreas rurais. “Estou confiante de que essa colaboração será muito importante para promover a cooperação Sul-Sul e contribuir com o futuro do planeta”, comentou. Massruhá destacou que, a partir de programas, em parceria com o CGIAR, e iniciativas como controle de consciência do solo, manejo integrado de previsões e zoneamento de risco climático, a pesquisa agropecuária não apenas aumentou o rendimento cultural, mas também oculta os riscos, ampliando a resiliência agrícola.
Em relação ao carbono, seguiu o impacto da pesquisa da Embrapa, no desenvolvimento da Renovacalc, calculadora oficial para estimar a pegada de carbono de combustíveis no âmbito da Política Nacional de Biocombustíveis (Renovabio), que cobre mais de 75% das usinas de produção das usinas de produção. “Isso é crucial dado o desastre climático que atualmente afeta o Brasil”, afirmou, lembrando que também são possíveis abordagens científicas para promover práticas de produção mais sustentáveis.
Massruhá ressaltou também a importância da recente reunião de cientistas-chefes agrícolas dos Estados do G-20 (MACS-G20), no mês de maio, em Brasília, coordenada pela Embrapa, e o compromisso da Empresa com a COP 30, momento em que, segundo ela, será possível compartilhar perspectivas e soluções para as mudanças climáticas.
Sobre agricultura digital e de precisão, o presidente chamou a atenção para o potencial da inteligência artificial, principalmente no que diz respeito ao processo de tomada de decisão no campo, facilitando atividades de pesquisa e inovação, como ferramenta de políticas públicas. “A colaboração entre a Embrapa e o CGIAR é um instrumento para atingir esses marcos, que inclui o desenvolvimento de variedades de culturas melhoradas, práticas agrícolas sustentáveis e tecnologias inovadoras”, concluiu.
Cooperação capacitação interação iniciada na década de 1970
Para a diretora-executiva do CGIAR, Ismahane Elouafi, que iniciou sua fala destacando o papel de Massruhá como liderança pioneira na transformação digital e defensora das questões relacionadas à inclusão de gênero, o acordo com a Embrapa reforça a trajetória de parceria iniciada na década de 1970. “Desde então, ganhamos juntos na melhoria da gestão ambiental na bacia Amazônica, no desenvolvimento de cultivares de batata doce e trigo tropical, nos bancos de sementes, na preservação de recursos genéticos e softwares”, citou. “Hoje o CGIAR representa 13 centros de pesquisa, com mais de 10 mil pessoas, em cerca de 80 países e 3 mil parceiros”, disse.
Segundo ela, a expectativa é que, a partir do memorando de entendimento, novas áreas sejam priorizadas, principalmente relacionadas à adaptação e resiliência de sistemas de produção e culturas estratégicas. “Estamos empenhados em colaborar, por meio do intercâmbio de conhecimento e de projetos em comum, aproveitando as capacidades técnicas e ativas de cada um”, enfatizou.
Na oportunidade, Elouafi expressou solidariedade às vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul e reafirmou estar ao lado do Brasil no enfrentamento da crise. “Como dizem os nossos colegas do Instituto Internacional de Gestão da Água, é através de muita ou pouca água que a maioria das pessoas sofrerá as alterações climáticas. Vemos a verdade disso também nos períodos prolongados de seca e incêndios na Amazônia no ano passado”, destacou, lembrando a importância da comunidade científica na busca por soluções que reduzam os impactos dos cenários futuros relacionados ao clima.
“Esse acordo fornece inspiração e serve como um exemplo de como podemos trabalhar com os principais parceiros de investigação nacionais para soluções pioneiras e como podemos promover a colaboração Sul-Sul para garantir que essas soluções sejam fornecidas em escala onde são mais acessíveis.”, completou .