O empresário e suplente de senador Paulo Marinho afirmou que o senador Flávio Bolsonaro (PSL) foi avisado com antecedência por um delegado da Polícia Federal sobre a deflagração da Operação Furna da Onça, que culminou na prisão de diversos parlamentares do estado do Rio em novembro de 2018.
Marinho, de 68 anos, foi um dos principais apoiadores da campanha presidencial de Jair Bolsonaro. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo. Segundo ele, um delegado da Polícia Federal tentou entrar em contato com o senador Flávio Bolsonaro por meio de telefone. O empresário, no entanto, não revelou o nome do delegado.
Ainda de acordo com as informações de Marinho, o coronel Miguel Braga, chefe de gabinete do parlamentar, acompanhado do advogado Victor Alves e de Val Meliga, ex-presidente do PSL no Rio e irmã de dois milicianos, encontraram o delegado na porta da Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, na Praça Mauá, Zona Portuária da cidade.
Segundo Marinho, o delegado saiu da superintendência, encontrou os três na calçada e fez a seguinte afirmação:
“Vai ser deflagrada a operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio. Uma delas é o Queiroz e a outra é a filha do Queiroz (Nathalia), que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro (que ainda era deputado federal) em Brasília”. “Nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição (presidencial) ”, teria dito o delegado, segundo Marinho.
O empresário afirma na entrevista que o delegado, identificando-se como adepto e simpatizante da campanha presidencial de Jair Bolsonaro, recomendou providências e essas vieram na forma das demissões de Queiroz e sua filha, ambos exonerados no dia 15 de outubro de 2018.
Nathalia foi exonerada do cargo no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados no mesmo dia em que Fabrício José Carlos de Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Jair Bolsonaro venceu as eleições no dia 28 de outubro e a Operação Furna da Onça foi deflagrada no dia 8 de novembro.
De acordo com Marinho, as revelações foram feitas a ele pelo próprio Flávio, em 13 de dezembro de 2018, quando a Furna da Onça já havia sido realizada.
Segundo Marinho, Flávio Bolsonaro afirmou ter parado de falar com Queiroz. Ainda de acordo com o empresário, o presidente Jair Bolsonaro foi informado sobre a situação por Gustavo Bebbiano.
Por meio de sua conta em uma rede social, Marinho disse neste domingo que pediu proteção policial para ele e a família ao governador Wilson Witzel. Segundo o empresário, o pedido foi atendido.
Em nota, Flavio Bolsonaro negou as acusações:
“O desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena. Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Dória e Witzel, parece ter sido tomado pela ambição. É fácil entender esse tipo de ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já que seria meu substituto no Senado. Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás? Sobre as estórias, não passam de invenção de alguém desesperado e sem votos”.
A operação
O objetivo da operação era investigar a participação de deputados estaduais do Rio de Janeiro em um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos e mão de obra terceirizada em órgãos do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
Foi durante essa ação que os investigadores chegaram ao nome de Fabrício Queiroz. Os promotores federais responsáveis pela investigação que ele operava um esquema de “Rachadinha”. Por meio dele, funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro – então deputado estadual no Rio de Janeiro – eram obrigados a devolver uma parte de seus salários.
Queiroz seria o principal operador do esquema – segundo relatório do Comitê de Acompanhamento Financeiro (Coaf), ele movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
Em novembro de 2018, o desembargador Abel Gomes, relator da Lava Jato no Rio, afirmou que havia “fortes indícios de vazamento” da operação. Entre as evidências citadas, estavam “bilhetes com assessores pedindo a queima de provas” e a ausência de computadores e telefones celulares nos locais em que os deputados foram presos.
A Polícia Federal chegou a abrir um inquérito para apurar a participação de agentes no vazamento. Todos os delegados foram ouvidos pela corregedoria, mas o autor do vazamento não foi encontrado.
Supremo
Diante das afirmações de Paulo Marinho, um grupo de 11 deputados federais do PSOL e do PDT protocolou neste domingo (17) uma petição no Supremo Tribunal Federal pedindo que o empresário e o senador Flávio Bolsonaro prestem depoimento no inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal.
Os parlamentares também solicitam que sejam juntados ao inquérito os processos que tenham como alvo Flávio ou qualquer outro filho ou aliado do presidente Bolsonaro.
Outra petição foi protocolada no STF pelo deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), que, entre outros pedidos, solicitou que sejam ouvidas 13 pessoas, incluindo Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz.
Resposta da Polícia Federal
A Polícia Federal afirmou, em nota, que a operação foi deflagrada no dia 8 de novembro de 2018 e que os mandados judiciais já tinham sido expedidos poucos dias antes, em 31 de outubro.
Esclareceu, ainda, que outra denúncia de suposto vazamento de informações foi investigada no Inquérito Policial n° 01/2019, “que encontra-se relatado”.
“Todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje, a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados”, afirmou a PF.