O Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren-MT) encontrou diversos profissionais com mais de 60 anos, grávidas e portadores de doenças crônicas, classificados no grupo de risco, na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Nesta segunda (30) e na última sexta-feira (27), três unidades de saúde foram notificadas por descumprirem medidas de proteção ao profissional da enfermagem.
O conselho exigiu o imediato afastamento destes funcionários e alertou para o risco de contaminação em massa dos profissionais no Estado, caso não sejam tomadas medidas urgentes para melhorar a infraestrutura da rede pública de saúde.
Foram notificados os gestores do Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, da Unidade Saúde da Família Serra Dourada, no bairro Ouro Fino, em Cuiabá, e do Hospital Regional Irmã Elza Giovanelli, em Rondonópolis (a 216 km da Capital). A situação é grave também no Pronto-Socorro de Várzea Grande, uma das instituições determinadas como sendo de referência para o atendimento aos pacientes da Covid-19.
Entre as determinações estão melhorias na infraestrutura das unidades, no treinamento e organização das equipes e ações de proteção à saúde do trabalhador, entre elas o fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) e o afastamento dos profissionais que estão no grupo de risco.
O relatório também foi encaminhado ao Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE-nCoV), da Secretaria de Estado de Saúde. Segundo o Coren-MT, a quantidade de profissionais do grupo de risco que continuam em atividade é grande. Em instituições públicas e privadas, a fiscalização identificou funcionários com doenças crônicas, gestantes, com idade acima de 60 e até acima de 80 anos.
Há lentidão e recusa dos empregadores em realizar os afastamentos, além de pressões sobre os trabalhadores para que não solicitem este benefício. Em um dos casos, segundo denúncia, a pressão incluía ameaça de cortes no salário.
Desde a última semana, quando deu início ao atendimento via aplicativo Whatsapp, o Coren-MT atendeu a mais de 30 chamadas relacionadas à pandemia do coronavírus, entre as quais 16 denunciavam a falta ou insuficiência de EPIs.
Também há reclamações sobre treinamento precário das equipes para se protegerem e para atenderem aos pacientes, desorganização das rotinas de trabalho, ausência de dimensionamento de pessoal, déficit de recursos humanos, desinformação e problemas de infraestrutura.
Faltam itens básicos, como pias para lavagem de mãos, sabão e álcool a 70% e há problemas como goteiras, infiltrações e quantidade insuficiente de equipamentos adequados para atender aos pacientes da Covid-19.
Devido à falta de EPIs, em algumas das instituições vistoriadas a estratégia foi adotar o racionamento dos equipamentos, principalmente das máscaras N95, indicadas para trabalhadores expostos a pacientes contaminados ou suspeitos.
O Coren-MT aponta a negligência das administrações em relação à saúde dos trabalhadores e cobra a preparação e apoio às equipes de enfermagem, que enfrentam pela primeira vez a realidade de uma pandemia.
O conselho exigiu das unidades a readequação dos critérios de distribuição dos equipamentos de proteção e está monitorando as entregas dos EPIs pelas prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande.
A fiscalização segue até o final do mês em Cuiabá, Várzea Grande, Sinop, Barra do Garças, Rondonópolis de Tangará da Serra. Também estão sendo feitos levantamentos junto a mais de 600 enfermeiros que atuam como Responsáveis Técnicos no Estado.