A prisão de João de Deus, acusado de abusar sexualmente de quase 150 mulheres durante atendimentos espirituais, completa um ano nesta segunda-feira (16). Neste período, ele já foi condenado por posse de armas e denunciado 13 vezes pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO). Os promotores de Justiça afirmam que este é o maior caso de abuso sexual registrado no país e dizem que não imaginavam a dimensão que as investigações tomariam. Detido em Aparecida de Goiânia, ele sempre negou os crimes.
“Tenho certeza que é um dos maiores casos do país, talvez do planeta, no que tange a abuso sexual”, disse o promotor Luciano Miranda, coordenador da força-tarefa do MP-GO que investiga os crimes.
As acusações contra João Teixeira de Faria, de 78 anos, começaram no dia 7 de dezembro de 2018. Mulheres relataram no programa Conversa com Bial terem sofrido abusos sexuais dentro da Casa Dom Inácio de Loyola, onde ele fazia os atendimentos, em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal. Logo depois, o Ministério Público de Goiás montou uma força-tarefa para receber as denúncias.
“Na época, eu não tinha a menor ideia do que esperar. No primeiro dia recebemos quase uma centena de e-mails de vítimas querendo colaborar, mensagens do Brasil inteiro e até do estrangeiro. A quantidade de informações foi tremenda. Aí a gente passou a ter ideia do que viria pela frente. Eu sou promotor de Justiça desde 2011 e nunca me deparei com algo dessa grandiosidade”, completou Miranda.
A promotora de Justiça Ariane Patrícia Gonçalves, integrante da força-tarefa, conta que também se surpreendeu com a dimensão que o caso foi tomando ao longo dos dias. Ela avalia que o trabalho do MP-GO ao longo do último ano foi muito importante, pois já levou à Justiça o relato de 144 vítimas, além de ter conseguido a prisão de João de Deus.
“É um caso que foge da imaginação de qualquer pessoa com relação à magnitude dele. Com relação à quantidade de vítimas, eu não tenho notícia de nenhum caso com tantas vítimas. Até mesmo o caso Abdelmassih teve uma quantidade bem menor de mulheres envolvidas e vitimadas”, disse a promotora, se referindo ao caso do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado por estuprar 37 pacientes em sua clínica.
Em um comunicado à imprensa, o advogado de João de Deus, Anderson Van Gualberto, diz que o réu mantém sua versão sobre os fatos: “não praticou crime sexual contra nenhuma mulher”. A nota diz ainda que o cliente não tem condições físicas para estar no presídio devido à falta de alimentação e estrutura adequada para “um idoso que sofre de uma série de enfermidades de todos os tipos”.
Por fim, o advogado diz que “o Ministério Público vem fazendo um espetáculo público com o processo e utiliza a mídia para inflacionar sentimento de ódio e repulsa” contra João de Deus.
Processos na Justiça
Desde quando as denúncias vieram à tona, o MP-GO já recebeu cerca de 320 denúncias de mulheres que se dizem vítimas de João de Deus. Destas, 194 formalizaram o processo junto ao órgão. Já foram apresentadas 13 denúncias, sendo:
- Nove apenas por crimes sexuais: destas, uma está na fase final e as demais aguardam a devolução de cartas precatórias;
- Uma por crimes sexuais e falsidade ideológica: aguardando sentença;
- Uma por crimes sexuais, corrupção de testemunha e coação: está aguardando a devolução de cartas precatórias;
- Uma por posse ilegal de armas de fogo e munição em Abadiânia: João de Deus foi condenado a quatro anos no regime semiaberto e teve a prisão revogada. A esposa dele, Ana Keyla Teixeira também era ré no processo, mas foi absolvida;
- Uma por apreensão de documentos, armas de fogo e munição, em Anápolis: não teve o andamento informado pelo Tribunal de Justiça.
Com a revogação da prisão de João de Deus no caso da posse de armas, há apenas um mandado de prisão contra ele, desta vez por crime sexual. O Ministério Público pede uma nova prisão a cada denúncia apresentada, mas todas as outras foram negadas.
O MP recorreu em relação às negativas das prisões por entender que é necessário decretar a prisão para cada grupo de vítimas, mas ainda aguarda a decisão da Justiça. Já a defesa aguarda o julgamento do pedido de habeas corpus que está tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ).