Os casos de feminicídio aumentaram 76% no 1º trimestre de 2019 em São Paulo se comparados ao mesmo período do ano anterior, de acordo com levantamento. Nos primeiros três meses do ano, 37 mulheres foram vítimas de feminicídio. Em 2018, foram 21.
Ao mesmo tempo, o número de homicídios de mulheres caiu no estado: de 119 para 97, queda de 18%. Enquanto que no primeiro semestre de 2018, as vítimas de feminicídios representavam 17,5% do total de casos, neste ano, o percentual subiu para 38%.
Oito em cada dez casos de feminicídio deste ano ocorreram dentro de casa e 26 dos 37 casos tinham autoria conhecida. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, “todos os casos registrados no período tiveram a autoria identificada e 19 criminosos já foram presos”.
Para a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, a queda de homicídios de mulheres e o aumento dos feminicídios mostram que a violência doméstica e o feminicídio de autoria conhecida estão crescendo, não só os registros.
“Como os feminicídios íntimos já estavam sendo registrados de forma adequada, veja que é quase tudo de autoria conhecida, podemos afirmar que está crescendo a violência doméstica e, consequentemente, o feminicídio íntimo”, disse.
Para Samira, a polícia já sabe classificar o feminicídio íntimo.
“O desafio são aqueles outros casos, porque a legislação também supõe que o feminicídio não é fruto necessariamente da violência doméstica. Também pode ser, mas não exclusivamente. Ciudad Juárez, por exemplo, onde o termo foi cunhado, os crimes se deram em outra perspectiva. As mulheres eram estupradas, torturadas e mortas, mas não tinham nenhuma relação amorosa com o autor da violência”, explica Samira.
Ciudad Juaréz, na fronteira do México com os Estados, onde o termo feminicídio foi usado pela primeira vez, viveu uma onda de assassinatos brutais de mulheres, seguidos da exposição de seus corpos pelas ruas da cidade.
Outros crimes
Ao mesmo tempo que os feminicídios cresceram no estado, a maior parte dos crimes violentos caiu no 1º trimestre deste ano se comparados com o mesmo período de 2018:
- Homicídios foram de 766 para 712: -7%
- Latrocínios foram de 66 para 38: -42%
- Estupros foram de 3.218 para 3.044: -5%
- Roubos foram de 67.755 para 62.373: – 7,9%
A Secretaria da Segurança Pública informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as polícias Civil e Militar atuam para combater os feminicídios e demais ocorrências de violência no estado.
“O atendimento 24 horas nas DDMs foi ampliado, a fim de oferecer mais opções de acolhimento às vítimas. Nove novas unidades inauguraram o atendimento ininterrupto desde o início do ano. Hoje são 10 DDMs 24 horas no estado e, até o fim da atual gestão, outras 30 também funcionarão neste modelo. São Paulo conta com 133 DDMs, sendo nove na Capital, 16 na Grande São Paulo e 108 no Interior.
No período também foi criado o aplicativo SOS Mulher, que prioriza o atendimento às pessoas com medidas protetivas, deslocando as equipes policiais mais próximas ao local da ocorrência. Para garantir o acolhimento adequado às vítimas desse tipo de crime, todos os policiais do estado, sejam eles civis ou militares, são treinados para atender essas ocorrências.
O treinamento de policiais é realizado durante os cursos de formação das corporações e todas delegacias do estado contam com o Protocolo Único de Atendimento, que estabelece um padrão para o atendimento”, diz a nota.
Quando mostrou que casos de feminicídio dobraram no bimestre, a diretora das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs), Jamila Ferrari, também considerou que houve aumento real de feminicídios, não só de registros.
Para Ferrari, o feminicídio não é subnotificado, mas os crimes anteriores ao assassinato, sim. Por isso, diz a diretora, a importância de as mulheres registrarem as agressões nas DDMs.
“Dificilmente, essa mulher é morta da primeira vez. Não foi a primeira coisa que aconteceu contra ela, a morte. Essa mulher vem de um ciclo de violência, em um primeiro momento foi xingada, depois tomou um empurrão, um safanão. Temos que incentivar a mulher ir à delegacia de polícia assim que for xingada e apanhar. A partir do momento que a mulher deixa de ir à delegacia, de procurar ajuda, o homem passa a ser mais violento”, afirma a diretora das delegacias da mulher.