Durante 40 anos mulheres editaram revista feminina em Mato Grosso

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Numa época em que poucas mulheres estudavam, algumas mato-grossenses idealizaram e mantiveram uma revista para mulheres durante quatro décadas do século passado. Elas fundaram o Grêmio Literário Júlia Lopes de Almeida, responsável pela publicação da revista A Violeta, que representou a abertura de espaço para que mulheres escrevessem sobre os mais variados temas: literatura, saúde, sociedade, política, e a defesa da escolarização e profissionalização do sexo feminino.

O periódico foi o único organizado, redigido e dirigido só por mulheres no estado. Circulou entre 1916 e 1950, e teve em seu corpo editorial mulheres letradas pertencentes às classes média e alta da sociedade, a maioria delas de famílias tradicionais, entre escritoras, professoras, funcionárias públicas e donas de casa.

Na sua concepção, o Grêmio Literário homenageou a escritora carioca Júlia Lopes de Almeida, romancista carioca que tem extensa lista de obras publicadas. À distância, ela colaborava como patrona da publicação, conforme relatos encontrados na revista.

O periódico cabe nas mãos com o formato pequeno de impressão, 15,5 x 22,5 cm. Contos, poesias, colunas sociais, artigos de opinião, notícias, e até textos assinados com pseudônimos tratavam de temas de interesse feminino da época, sem deixar de lado assuntos de relevância nacional, como a própria abolição da escravatura.

A edição 32 de 1918, por exemplo, traz um artigo que lembra a data de 13 de maio, dia em que houve a abolição, em 1888, como a “página mais atraente do livro de ouro da história do Brasil”. O artigo é assinado por uma escritora intitulada apenas de Solange.

“No coração dos verdadeiros patriotas não se deverá apagar a lembrança da princesa Isabel, tão justamente cognominada a Redemptora. E especialmente a mulher brasileira, ao lembrar-se de tão glorioso nome, deve com razão orgulhar-se”, dizia parte da publicação, que enaltecia o papel da mulher neste fato que mudou os rumos do País.

Maria Dimpina Lobo Duarte e Maria de Arruda Müller foram as principais cronistas da revista literária, entre muitas que colaboraram com A Violeta. A primeira utilizava o pseudônimo “Arinapi”, outra assinatura recorrente é “Mary”, pseudônimo de Maria Müller.

As crônicas serviam para registrar acontecimentos cotidianos da sociedade cuiabana. Em um dos textos, Mary apresenta um retrato do cenário educacional da época, onde defende os professores interinos que exercem o magistério há anos sem o diploma. A intenção da autora na edição 180, de julho de 1930, foi valorizar os educadores e contribuir para que continuem trabalhando para estancar o alto índice de analfabetismo do período.

Arquivo Público

Edições estão preservadas como parte do acervo da Superintendência do Arquivo Público de Mato Grosso (SAP-MT), e podem ser consultados por pesquisadores, e qualquer interessado em acessar o conteúdo das publicações. Edições digitalizadas da revista A Violeta também estão disponíveis na Hemeroteca da Biblioteca Nacional pelo link http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ .

A instituição é responsável pela implementação da Política de Gestão de Documentos em todo o Poder Executivo, e pela preservação da memória do Estado por meio dos arquivos históricos. Possui em seu acervo jornais, revistas, fotos e documentos datados do século XVIII. Entre os arquivos estão cerca de mil manuscritos do período Colonial que integram o Registro Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo (MOW) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O horário de atendimento ao público geral é das 8h às 12h e das 14h às 18h, de segunda à sexta-feira. O prédio fica localizado na Av. Getúlio Vargas, 451, Centro de Cuiabá.

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