Depois de mais de três anos de paralisação nas grandes concessões ferroviárias, o Brasil dá um passo decisivo para reorganizar sua matriz logística e retomar investimentos estruturantes. A aprovação, pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), dos estudos técnicos atualizados da Ferrogrão (EF-170) marca um ponto de inflexão na política de infraestrutura do país e recoloca o projeto como eixo central do escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste pelo Arco Norte.
A decisão foi tomada durante a 1.023ª Reunião da Diretoria Colegiada da ANTT, realizada na quarta-feira (17), a última de 2025, e oficializada com a publicação da Deliberação nº 491 no Diário Oficial da União desta quinta-feira (18). Com isso, os estudos da concessão ferroviária entre Sinop, em Mato Grosso, e Miritituba, no Pará, foram autorizados a seguir imediatamente para análise do Tribunal de Contas da União (TCU), etapa considerada estratégica para a retomada definitiva do empreendimento.
Com 933 quilômetros de extensão, a Ferrogrão foi concebida para transformar profundamente a logística do agronegócio brasileiro. Ao conectar a região produtora do norte de Mato Grosso aos terminais hidroviários do Pará, o projeto cria um corredor multimodal mais eficiente, reduz custos de transporte, amplia a competitividade dos grãos brasileiros no mercado internacional e diminui a dependência da BR-163, rodovia que há décadas concentra o fluxo pesado de caminhões e enfrenta gargalos estruturais.
Os impactos esperados vão além da eficiência econômica. A substituição gradual do transporte rodoviário pela ferrovia representa uma redução significativa nas emissões de gases de efeito estufa, menor incidência de acidentes e congestionamentos, além de ganhos ambientais expressivos ao longo de toda a cadeia logística. Os estudos técnicos apontam ainda a geração de centenas de milhares de empregos diretos e indiretos durante as fases de implantação e operação, com reflexos positivos duradouros para a economia regional e nacional.
A retomada da Ferrogrão ocorre após um extenso processo de revisão técnica, conduzido pela ANTT em conjunto com o Ministério dos Transportes, a Infra S.A. e órgãos de controle. O projeto havia sido suspenso em 2021 em razão da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 6553, que questionou aspectos ambientais e sociais do traçado. Desde então, os estudos foram atualizados de forma abrangente, incorporando novas análises de demanda, engenharia, operação e modelagem econômico-financeira, além de avaliações aprofundadas sobre custo-benefício socioeconômico, balanço de emissões e programas de mitigação e compensação socioambiental.
Segundo a ANTT, todo o material agora encaminhado ao TCU atende integralmente às determinações do Supremo Tribunal Federal, com atenção especial às questões ambientais e aos direitos dos povos originários. “O projeto apresenta bases técnicas sólidas, construídas com responsabilidade institucional, transparência e diálogo com os órgãos de controle”, destacou o diretor-geral da Agência, Guilherme Theo Sampaio, ao defender a maturidade do empreendimento.
Embora a mesma reunião também tenha avançado em outros projetos ferroviários, como a EF-118 no Sudeste, foi a Ferrogrão que simbolizou a retomada da agenda ferroviária nacional. Sua inclusão definitiva no Plano de Outorgas do Ministério dos Transportes reforça a prioridade dada a empreendimentos capazes de integrar regiões, diversificar modais e sustentar o crescimento da produção agrícola brasileira nos próximos anos.
Ao encerrar 2025 com a Ferrogrão novamente no centro das decisões estratégicas, a ANTT sinaliza uma mudança de paradigma na condução da infraestrutura nacional, com projetos mais maduros, estudos aprofundados e maior segurança jurídica para investidores, usuários e para o próprio Estado. Para Mato Grosso e para o Brasil, é a perspectiva concreta de voltar a avançar sobre trilhos, com planejamento, técnica e compromisso com o futuro.



















