Faccionados com mandados de prisão em aberto em Mato Grosso têm usado o estado do Rio de Janeiro como principal rota de fuga, onde passam a atuar de forma ainda mais estruturada no crime organizado. A avaliação é do juiz Anderson Clayton Dias Batista, titular da 5ª Vara Criminal de Sinop, especializada em organizações criminosas.
Segundo o magistrado, somente na unidade judicial em que atua existem mais de 170 mandados de prisão em aberto. Desse total, cerca da metade envolve investigados ligados a facções que deixaram Mato Grosso e se esconderam no território fluminense, onde, conforme o juiz, não apenas se mantêm foragidos, mas ampliam sua atuação criminosa.
De acordo com o juiz Anderson Clayton, o Rio de Janeiro se tornou um ponto sensível no enfrentamento ao crime organizado, com reflexos diretos em outros estados. Ele avalia que decisões e políticas públicas adotadas naquele estado acabam influenciando o avanço das facções em Mato Grosso e em outras regiões do país.
Conforme o magistrado, a predominância do Comando Vermelho no Rio cria um ambiente favorável para a recepção de criminosos vindos de fora. Faccionados de Mato Grosso, segundo ele, recebem apoio financeiro da própria organização criminosa de origem para se manterem no Rio de Janeiro, o que garante a permanência e a continuidade das atividades ilegais.
O juiz destaca que esses foragidos não permanecem apenas escondidos. Muitos passam a ocupar posições de destaque no tráfico local, assumindo o controle de pontos de venda de drogas e participando do comércio ilegal de armas. Esse processo, segundo ele, gera uma espécie de especialização criminosa, em que o investigado retorna ao estado de origem com novas técnicas e métodos.
Práticas criminosas aprendidas fora do estado
Um dos exemplos citados pelo magistrado é a prática da extorsão contra comerciantes. Ele relata que, há cerca de 10 anos, esse tipo de crime não fazia parte da realidade de Mato Grosso de forma organizada. Atualmente, a extorsão passou a atingir comerciantes em diferentes bairros e municípios do estado.
Na avaliação do juiz, essa modalidade criminosa foi absorvida a partir de experiências no Rio de Janeiro, onde a prática existe há cerca de 20 anos. Ele alerta que outras ações criminosas consolidadas naquele estado tendem a ser replicadas em Mato Grosso, à medida que faccionados retornam com maior conhecimento operacional.
O magistrado afirma que esse intercâmbio criminoso transforma o Rio em uma espécie de centro de treinamento informal para integrantes de facções. Segundo ele, Mato Grosso acaba exportando criminosos que, ao retornarem, trazem novas estratégias e ampliam o impacto da criminalidade local.
Casos envolvendo foragidos de Mato Grosso identificados no Rio de Janeiro têm se tornado mais frequentes. Um dos episódios citados ocorreu durante a Operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio.
Nessa ação, Alexsander Monteiro de Almeida, de 22 anos, natural de Várzea Grande, estava entre os mortos. O caso reforça, segundo o magistrado, a presença constante de criminosos oriundos de Mato Grosso em áreas dominadas por facções no Rio de Janeiro.
O juiz Anderson Clayton defende que o enfrentamento ao crime organizado precisa considerar essa dinâmica interestadual. Para ele, enquanto houver facilidade de fuga e estrutura para acolher foragidos, o ciclo de aprendizado e retorno de práticas criminosas tende a se manter, exigindo ações integradas entre os estados.
As informações foram apresentadas pelo magistrado durante avaliação do cenário do crime organizado, conforme dados e observações da 5ª Vara Criminal de Sinop, responsável por processos ligados a facções atuantes em Mato Grosso.





















