Após mais de dez anos de discussões, o governo federal planeja realizar em setembro de 2026 o leilão de concessão da Ferrogrão, ferrovia de 933 quilômetros que pretende ligar Sinop, no norte de Mato Grosso, ao distrito portuário de Miritituba, em Itaituba (PA). O cronograma do Ministério dos Transportes prevê a publicação do edital em junho e a finalização do processo de concessão ao longo de 2026.
O projeto, classificado como greenfield (nova implantação), representa um investimento estimado em R$ 33,3 bilhões em custos de construção (capex) e R$ 103,8 bilhões em despesas operacionais ao longo do contrato de 69 anos. A ferrovia, em bitola larga (1,60m), deve movimentar em plena operação cerca de 66 milhões de toneladas de grãos por ano, servindo como um corredor estratégico para a produção do Centro-Oeste, especialmente de Mato Grosso, maior produtor nacional de soja e milho.
Solução logística e ajustes no traçado
A Ferrogrão surge como alternativa ao já saturado corredor rodoviário da BR-163, visando reduzir custos de frete e emissões de poluentes. No entanto, o projeto enfrenta historicamente questionamentos socioambientais. O traçado original atravessaria 49 quilômetros do Parque Nacional do Jamanxim (PA), o que levou a uma alteração nos limites da unidade em 2016 – medida atualmente contestada no Supremo Tribunal Federal (STF) por uma Ação de Inconstitucionalidade.
Para contornar o impasse, o governo reformulou o projeto, eliminando a necessidade de supressão de novas áreas do parque. O novo traçado seguirá pela faixa de domínio da própria BR-163, que já corta a unidade de conservação, estratégia que busca conferir maior segurança jurídica ao empreendimento.
Desafios de viabilidade e atratividade
Enquanto a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) finaliza a estruturação técnica para enviar o projeto ao Tribunal de Contas da União (TCU) ainda em dezembro, especialistas apontam desafios. Há análises que indicam a necessidade de subsídios públicos para tornar a ferrovia economicamente viável, em um cenário de restrição fiscal. Paralelamente, alternativas logísticas baseadas na expansão de ferrovias existentes – como a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia Norte-Sul – são citadas como opções potencialmente menos complexas.
O Ministério dos Transportes planeja realizar uma rodada de apresentações a investidores no início de 2026 para ampliar o interesse no leilão. O desfecho, no entanto, ainda depende da análise do TCU e do julgamento pendente no STF, que seguirão moldando os rumos de um dos mais ambiciosos – e polêmicos – projetos de infraestrutura logística do país.



















