Cuiabá registrou, em 2024, a maior razão de nascimentos de mães com menos de 15 anos entre todas as capitais brasileiras, segundo as Estatísticas do Registro Civil divulgadas pelo IBGE. Foram 198 nascimentos nessa faixa etária, o equivalente a 2,18% dos nascidos vivos registrados no município no ano.
O índice coloca a capital mato-grossense em posição de alerta nacional, já que a maternidade precoce — especialmente antes dos 15 anos — é considerada um dos principais marcadores de vulnerabilidade social, risco à saúde e evasão escolar.
Em Mato Grosso, o total foi de 522 nascimentos de mães com menos de 15 anos em 2024, representando 0,95% dos registros e uma queda de 4,74% em relação a 2023 (548 casos).
Tendência nacional é de queda, mas Mato Grosso segue acima da média
Nas últimas duas décadas, o Brasil vem reduzindo de forma consistente a maternidade precoce. Em 2024, nasceram 267.446 crianças de mães com até 19 anos, equivalentes a 11,3% dos nascidos vivos — proporção bem menor que a registrada no início dos anos 2000.
Apesar disso, os números de Cuiabá destoam do cenário nacional, mantendo proporção superior à média estadual e muito superior ao observado em capitais das regiões Sul e Sudeste.
Especialistas ouvidos pelo CenárioMT afirmam que a persistência da gestação precoce na capital está associada a desigualdades urbanas profundas, baixa cobertura de ações educativas e dificuldade de acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva por adolescentes.
Extremos da maternidade também crescem em Mato Grosso
O estado também registrou aumento na maternidade tardia. Em 2024:
- 1.827 nascimentos ocorreram entre mães com 40 anos ou mais,
- representando 3,34% do total.
Segundo especialistas consultados pela reportagem, esse “duplo movimento” — gestação muito precoce e muito tardia — reflete mudanças sociais, maior planejamento familiar entre mulheres mais velhas e déficit de políticas preventivas voltadas às mais jovens.
Perfil dos nascimentos em Mato Grosso
O IBGE registrou 55.860 nascidos vivos no estado em 2024:
- 48,87% meninos
- 46,73% meninas
- 4,40% sem declaração de sexo, índice muito acima da média nacional (0,1%)
Os meses com mais registros foram abril (5.117) e março (5.100). Os menores volumes ocorreram em novembro (4.226) e junho (4.292).
Cuiabá concentra quase 40% dos casos do estado
Com 198 registros, Cuiabá responde por 38% dos nascimentos de mães abaixo de 15 anos em todo o estado.
Por ser capital e polo de migração, a cidade combina regiões de alta renda com bolsões de vulnerabilidade, o que pode explicar parte da disparidade.
Especialistas que conversaram com o CenárioMT alertam que a taxa de 2,18% é semelhante à de capitais nordestinas no início dos anos 2010, período em que o Brasil ainda enfrentava índices muito mais altos de gravidez precoce.
Por que esse dado importa?
- A gravidez antes dos 15 anos está associada a:
- risco elevado de complicações obstétricas,
- interrupção escolar,
- dependência econômica,
- dificuldade de inserção no mercado de trabalho,
- maior probabilidade de repetir ciclos de pobreza.
O quadro exige ações integradas entre saúde, educação e assistência social.
Os dados do IBGE mostram que Cuiabá vive um desafio estruturado e persistente no enfrentamento da maternidade precoce. Mesmo com redução no total estadual, a capital mantém a maior razão entre todas as capitais brasileiras — e muito acima das médias nacional e regional.
A prioridade, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, deve ser ampliar políticas de prevenção, fortalecer o acompanhamento escolar e garantir acesso a serviços de saúde reprodutiva, com foco especial nas áreas urbanas de maior vulnerabilidade.
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