Sancionada em novembro de 2025, a Lei 15.270/2025 marca a maior reestruturação do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) desde o início dos anos 2000. A reforma amplia a faixa de isenção para quem ganha até R$ 5 mil mensais, cria faixas intermediárias de redução progressiva e institui, pela primeira vez em décadas, a tributação de lucros e dividendos pagos a pessoas físicas. As mudanças, que passam a valer em janeiro de 2026 (impactando a declaração de 2027), têm provocado repercussões sociais, econômicas e políticas intensas.
O QUE MUDA NO IMPOSTO DE RENDA
A alteração mais expressiva da reforma é a ampliação da faixa de isenção para trabalhadores que recebem até R$ 5.000,00 por mês, o que representa um salto histórico na política de renda brasileira. Segundo estimativas do Ministério da Fazenda, cerca de 15 milhões de brasileiros devem deixar de pagar IRPF a partir de 2026 — um impacto direto e imediato no bolso da população.
A medida corrige, em parte, um problema antigo: a defasagem da tabela do Imposto de Renda, que por mais de uma década não acompanhou a inflação ou o crescimento real dos salários. Na prática, milhões de trabalhadores eram empurrados para faixas de tributação mesmo sem aumento significativo de poder aquisitivo. Ao elevar a isenção para R$ 5 mil, o governo busca reequilibrar esse descompasso.
Especialistas destacam que essa mudança tem potencial para:
- Aumentar a renda disponível das famílias de baixa e média renda, que concentram maior propensão ao consumo;
- Reduzir a informalidade, uma vez que trabalhadores assalariados deixam de temer o salto de imposto ao regularizar vínculos;
- Fortalecer economias locais, já que mais dinheiro circula em pequenos e médios municípios;
- Promover justiça tributária, aproximando o Brasil de modelos internacionais que buscam aliviar o peso sobre quem recebe menos.
Para analistas econômicos, a ampliação da isenção é também um gesto político que reconhece a pressão inflacionária dos últimos anos e responde a uma reivindicação histórica da classe trabalhadora. No entanto, seu sucesso depende do equilíbrio fiscal: a elevação da isenção exige novas fontes de compensação, como a tributação de dividendos — ponto mais sensível da reforma.
Impactos sociais e políticos
Justiça fiscal em foco
A ampliação da isenção é vista como um avanço na progressividade tributária, favorecendo trabalhadores de renda média e baixa. A medida aumenta a renda disponível dessas famílias, o que pode estimular o consumo e reduzir desigualdades. Estudos técnicos da Fazenda mostram que o sistema torna-se mais equilibrado: quem ganha menos paga menos — e quem recebe por meio de lucros e dividendos passa a contribuir mais.
REAÇÃO POLÍTICA
A aprovação foi considerada uma vitória política do governo federal, que cumpriu promessa central de campanha. O texto foi aprovado com ampla maioria no Congresso, revelando consenso na ampliação da isenção.
A oposição, entretanto, critica a tributação de dividendos. Parlamentares e grupos empresariais afirmam que a medida pode gerar desestímulo ao investimento e afetar o mercado de capitais. O governo, por sua vez, defende que o impacto é reduzido e que o Brasil finalmente se alinha às práticas tributárias internacionais.
Para aprofundar o debate, ouvimos especialistas em tributos, que analisou as mudanças com senso crítico:
“Por décadas, o sistema brasileiro penalizou demais o trabalhador assalariado e poupou excessivamente quem recebia por meio de lucros e dividendos. A nova lei corrige distorções históricas e busca um equilíbrio necessário.”
E destaca o impacto social positivo:
“A isenção para quem ganha até R$ 5 mil é um alívio real no orçamento das famílias. É dinheiro que volta para o consumo e dinamiza a economia local. É uma mudança que conversa diretamente com a vida do cidadão comum.”
Mas alerta para riscos:
“A tributação de dividendos é justa, mas precisa de estabilidade regulatória. Mudanças constantes ou insegurança jurídica podem gerar reações negativas no mercado. O caminho precisa ser previsível.”
E completa:
“A reforma é positiva, mas deve ser monitorada com responsabilidade fiscal. Se a arrecadação não compensar a isenção ampliada, outras medidas poderão ser necessárias.”
A JUSTIÇA SOCIAL E O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE FISCAL
A jornalista Laiza Rubim, com ampla experiência em pautas de políticas públicas e econômicas, com mais de 10 anos de vivência na comunicação institucional, atuando com olhar sensível e técnico sobre o cotidiano da administração e da sociedade destaca que a reforma do Imposto de Renda avança na direção correta ao aliviar o peso sobre os assalariados e cobrar mais de quem obtém renda via lucros e dividendos. Em um país estruturalmente desigual, isso não é apenas uma questão técnica: é uma afirmação política e moral. O Brasil precisa romper com a lógica que cobra mais de quem tem menos e isenta excessivamente quem concentra renda.
Mas há riscos evidentes que não podem ser ignorados. O primeiro é a falta de previsibilidade econômica, um gargalo que historicamente afasta investimentos e pressiona o setor produtivo. O segundo é a carga tributária indireta, alta e regressiva, que segue intocada e recai de maneira desproporcional sobre os mais pobres — encarecendo da cesta básica ao transporte.
Ou seja: a reforma do IRPF é um avanço, mas está longe de ser o fim da discussão. O Brasil ainda precisa enfrentar a tributação sobre consumo, patrimônio e herança para construir um sistema verdadeiramente equilibrado.
Especialistaem Mato Grosso, os efeitos da reforma serão sentidos de forma especialmente particular, dada a combinação entre forte presença do agronegócio, crescimento empresarial acelerado e desigualdades regionais ainda expressivas.
TRABALHADORES E CLASSE MÉDIA: ALÍVIO E DINAMIZAÇÃO ECONÔMICA
A ampliação da isenção até R$ 5 mil beneficia diretamente trabalhadores do comércio, serviços, educação, setor público e indústrias locais — justamente o segmento que sustenta o consumo diário nas cidades mato-grossenses.
Em municípios menores, onde a renda média é inferior à nacional, essa faixa representa um avanço ainda mais significativo. Mais renda disponível significa:
- Maior circulação de capital local;
- Fortalecimento do comércio;
- Estímulo a pequenos empreendedores;
- Melhoria na qualidade de vida das famílias.
- Setor empresarial e agronegócio: reorganização e cautela
Por outro lado, empresários e produtores rurais que recebem dividendos acima de R$ 50 mil mensais sentirão diretamente o impacto da nova tributação. Embora grandes conglomerados do agro já possuam estruturas sofisticadas de planejamento tributário, a taxação tende a exigir ajustes, especialmente entre:
- Empresas familiares;
- Pequenos e médios produtores;
- Negócios em expansão acelerada;
- Holdings patrimoniais típicas de regiões como sinop, sorriso, lucas do rio verde e primavera do leste.
Nessas cidades, onde o lucro empresarial é expressivo e a economia gira em ritmo acelerado, a reorganização societária deve crescer — não como reação exagerada, mas como necessidade de adaptação.
Se, por um lado, trabalhadores ganham fôlego, por outro, setores de alta renda precisarão reorganizar modelos e estratégias. Mato Grosso, portanto, não sentirá os efeitos de forma homogênea.
O desafio será manter o que faz do estado um dos maiores motores econômicos do país: a combinação entre dinamismo empresarial, expansão do agronegócio, abertura de novos mercados e crescimento populacional — sem sacrificar justiça fiscal e competitividade.
Os analistas financeiros acreditam ainda que a reforma do Imposto de Renda não é apenas uma mudança tributária; é um recorte profundo da forma como o Brasil enxerga sua estrutura de distribuição de renda e desenvolvimento. Em Mato Grosso — onde riqueza e desigualdade convivem lado a lado — o impacto será ainda mais visível.
O país avança em direção à justiça social, mas enfrenta o desafio de sustentar o crescimento econômico sem gerar insegurança. No fim das contas, a pergunta que fica é: seremos capazes de equilibrar justiça fiscal, estímulo econômico e desenvolvimento regional?
Jornalista: Laiza Rubim – DRT 0003506


















