Lucas do Rio Verde (MT) — A política de transição energética brasileira ganhou, nesta quarta-feira (10), um de seus movimentos mais relevantes da década. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou R$ 384,3 milhões para viabilizar o primeiro projeto de captura e estocagem geológica de dióxido de carbono (CO₂) do país, uma iniciativa inédita desenvolvida pela FS Indústria de Biocombustíveis em Lucas do Rio Verde, no médio-norte de Mato Grosso.
A operação integra o programa BNDES Mais Inovação e permitirá à empresa construir uma unidade equipada para comprimir, injetar e armazenar CO₂ em grandes profundidades da Bacia dos Parecis, estrutura sedimentar com formações salinas apropriadas para a estocagem permanente de carbono.
O avanço reforça o protagonismo do agronegócio mato-grossense na agenda global de sustentabilidade. Para acompanhar mais conteúdos sobre desenvolvimento regional, acesse Lucas do Rio Verde e Agro.
BECCS: como funciona a tecnologia que pode revolucionar o setor
O projeto adotará a tecnologia Bioenergy with Carbon Capture and Storage (BECCS), que adapta o conceito tradicional do CCS ao setor de biocombustíveis. O mecanismo captura o CO₂ emitido na produção de etanol, comprime o gás e o envia para camadas geológicas profundas, onde permanece aprisionado.
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Com a nova unidade, a FS estima capturar 100% de suas emissões na planta de Lucas do Rio Verde, o equivalente a 423 mil toneladas de CO₂ por ano. O resultado colocaria a empresa entre as produtoras de combustível de menor pegada de carbono do planeta.
Além da captura geológica, a companhia adotará insumos de baixo impacto, como milho de segunda safra e biomassa renovável, ampliando o saldo de carbono negativo — atributo cada vez mais valorizado em mercados internacionais.
BNDES: financiamento alinhado à transição energética
Para o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o financiamento reflete o compromisso do governo com a descarbonização e com o fortalecimento do mercado brasileiro de carbono.
“A remoção de 423 mil toneladas de CO₂ por ano contribui diretamente para o compromisso assumido pelo Brasil no Acordo de Paris. O projeto está totalmente alinhado à agenda nacional de transição energética”, afirmou.
Setor privado vê avanço estratégico
Segundo o CEO da FS, Rafael Abud, a implementação da tecnologia BECCS representa uma virada de chave para o setor de etanol e para a posição do Brasil no cenário energético global.
“O BECCS é decisivo para alcançarmos referência internacional em combustível de carbono negativo. A tecnologia abre portas para novos mercados, como o de créditos de carbono, e coloca o Brasil na vanguarda da transição energética”, destacou.
FS: pioneirismo consolidado no etanol de milho
Pioneira na produção de etanol 100% de milho no Brasil, a FS opera três unidades industriais em Mato Grosso — Lucas do Rio Verde, Sorriso e Primavera do Leste — com capacidade superior a 2,6 bilhões de litros ao ano. Além do biocombustível, a empresa fabrica coprodutos para nutrição animal, óleo de milho, bioeletricidade e mantém estrutura robusta para a comercialização agrícola.
A companhia sustenta seu crescimento sobre compromissos de sustentabilidade alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e às metas do Acordo de Paris. Entre os objetivos até 2030, destacam-se eficiência energética, redução de emissões e avanços em economia circular.
Impacto regional e nacional
Instalado em uma das regiões agrícolas mais produtivas do país, o projeto também deve beneficiar cadeias produtivas locais ao gerar empregos, movimentar serviços especializados e atrair novas tecnologias para a indústria mato-grossense.
A iniciativa reforça a posição de Mato Grosso como referência nacional em inovação no setor de biocombustíveis e fortalece o papel de Lucas do Rio Verde como polo estratégico da economia de baixo carbono no Brasil.
O aporte do BNDES marca um divisor de águas para a transição energética brasileira. Com o primeiro projeto de captura e estocagem geológica de CO₂ do país, o Brasil entra no mapa global das tecnologias de carbono negativo e cria bases sólidas para ampliar seu protagonismo em sustentabilidade, energia e competitividade internacional.
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