Cotas impulsionam debate sobre monitoramento de egressos na Uerj

Pesquisadores defendem que o acompanhamento dos ex-cotistas é decisivo para medir os efeitos das ações afirmativas e orientar ajustes na política pública.

Fonte: CenárioMT

Cotas impulsionam debate sobre monitoramento de egressos na Uerj
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Especialistas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro defendem a criação de grupos permanentes para monitorar a trajetória de egressos das ações afirmativas, iniciativa considerada essencial para avaliar o impacto real da política. O sociólogo Luiz Augusto Campos, referência na área, participou da organização da obra Impacto das Cotas: Duas Décadas de Ação Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro, que revisita os resultados da medida após 20 anos.

Campos destaca que a Lei de Cotas funciona como um instrumento para reduzir desigualdades e que sua eficácia depende dos efeitos no mercado de trabalho. Para ele, o acompanhamento de ex-alunos é a via mais concreta para medir esses resultados, razão pela qual a mobilização recente da universidade é vista como um avanço relevante.

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Com a adoção pioneira das cotas em 2003, a instituição enfrenta agora o desafio de atualizar critérios para a pós-graduação. Diferentemente de universidades federais, a Uerj combina autodeclaração racial e limite de renda familiar, fixado em R$ 2.277 por pessoa. O valor é considerado baixo e tem restringido o acesso de candidatos pretos e pardos aos programas de mestrado e doutorado.

Segundo Campos, estudantes classificados como carentes dificilmente avançam para a pós-graduação e, ao receber bolsas, deixam de se enquadrar no critério socioeconômico, o que evidencia falhas no modelo atual.

No encontro realizado no fim de novembro, cotistas egressos defenderam a revisão do corte de renda para ampliar a presença de pessoas pretas e pardas nos níveis mais altos da formação acadêmica. Dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos mostram que pretos representam apenas 4,1% dos mestres e 3,4% dos doutores no país, enquanto pardos chegam a 16,7% e 14,9%. A presença indígena é ainda menor, inferior a 0,3% em ambos os casos, e títulos continuam majoritariamente concentrados em pessoas brancas.

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A Lei 8.121, que rege as ações afirmativas na Uerj, só será revisada em 2028. Até lá, Campos sugere que as instituições utilizem sua autonomia para flexibilizar editais e evitar entraves jurídicos. Para ele, critérios mais abrangentes ajudariam a garantir que a política cumpra seu papel social.

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Gustavo Praiado é jornalista com foco em notícias de agricultura. Com uma sólida formação acadêmica e vasta experiência no setor, Gustavo se destaca na cobertura de temas relacionados ao agronegócio, desde insumos até tendências e desafios do setor. Atualmente, ele contribui com análises e reportagens detalhadas sobre o mercado agrícola, oferecendo informações relevantes para produtores, investidores e demais profissionais da área.