Pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostram que a “Média Brasil” do preço do leite cru fechou a R$ 2,2996/litro em outubro, recuo real de 5,9% frente a setembro. Na comparação anual, a diminuição é de 21,7% em termos reais (deflacionamento pelo IPCA de outubro/25). Esta é a sétima baixa consecutiva nas cotações do leite no campo. Apesar da consistente desvalorização real de 14,1% no acumulado de 2025, o excesso de oferta ainda sustenta a expectativa de agentes de mercado de que o movimento de queda deve persistir até o final do ano.
A oferta, no campo, vem sendo favorecida pelos investimentos realizados no ano passado e pelo clima – que estimulam a produção no Sudeste e Centro-Oeste e limitam a queda sazonal no Sul. De setembro para outubro, o ICAP-L (Índice de Captação de Leite) subiu 1,65% na Média Brasil, puxado pela alta média de 3,7% no Sudeste e Centro-Oeste. No acumulado do ano, a elevação é de 13,6%. Resultados prévios do IBGE estimam que a captação industrial de leite cru soma 7,01 bilhões de litros no terceiro trimestre deste ano, 10,3% acima da registrada no mesmo período de 2024. O Cepea projeta que o ano se encerre com aumento médio de 7% na captação industrial, atingindo recorde de 27,14 bilhões de litros.
Além do avanço da produção, a disponibilidade de lácteos também vem sendo reforçada pelas importações. Em outubro, foram adquiridos 214,73 milhões de litros em equivalente leite (Eql), 8,4% a mais que em setembro. As exportações, por sua vez, recuaram 23,2%, somando 4,55 milhões de litros Eql. No acumulado de janeiro a outubro, as importações somaram 1,86 bilhão de litros Eql e as exportações, 54,48 milhões de litros Eql – respectivas quedas de 3,9% e de 34,8% na comparação anual.
Com o mercado abastecido, indústrias de laticínios seguem encontrando dificuldade nas negociações com canais de distribuição, que pressionam por cotações mais baixas dos lácteos. O levantamento realizado pelo Cepea, com apoio da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), mostra que, em outubro, o queijo muçarela, o leite UHT e o leite em pó negociados no atacado paulista registraram desvalorizações de 4,08%, 5,62%, 2,9%, respectivamente (valores deflacionados pelo IPCA de outubro/25), com as médias de outubro passando para R$ 30,05/kg, R$ 4,03/litro e R$ 29,37/kg, na mesma ordem.
As quedas nas cotações dos lácteos e do leite cru vêm comprimindo as margens do produtor. Pesquisas do Cepea apontam que o Custo Operacional Efetivo (COE) voltou a subir (0,52%) entre setembro e outubro, na “média Brasil”, influenciado principalmente pela valorização de defensivos agrícolas. O aumento dos preços dos grãos também deteriorou o poder de compra do produtor: em outubro, foram necessários 28,4 litros de leite para adquirir um saco de 60 kg de milho, altas de 7,1% frente a setembro e de 2,3% em relação à média dos últimos 12 meses (27,8 litros). Os resultados indicam a perda de rentabilidade e cautela crescente nos investimentos – o que deve, por sua vez, provocar desaceleração gradual da produção.
Contudo, no curto prazo, o mercado deve continuar abastecido, e agentes do mercado esperam que as cotações no campo possam se recuperar apenas a partir do segundo bimestre de 2026.



















