Lucas do Rio Verde recebeu nesta quarta-feira (26), na sede do Sindicato Rural, o ex-ministro da Agricultura, Antônio Cabrera, em uma rodada técnica promovida pela Aprosoja que reuniu produtores rurais da região e lideranças do setor. O encontro, marcado por análises sobre o cenário global, projeções para o agronegócio e debates sobre desafios climáticos e econômicos, reforçou a necessidade de união e comunicação do setor, especialmente em um momento em que produtores convivem com incertezas e pressões externas.
Cabrera iniciou o diálogo destacando a força dos núcleos da Aprosoja visitados no dia e a importância da mobilização. “Há um velho ditado rural que diz: quem não defende o que tem, não merece ter o que tem. A maneira do setor se defender é essa união, esse diálogo, esse debate aberto”, afirmou. Para ele, o Brasil segue sendo “um país abençoadíssimo”, com vantagens naturais únicas que garantem ao agro uma base sólida, apesar das dificuldades. “Temos problemas, mas eles não são do país em si. Temos regime de chuvas, topografia, terras agricultáveis. Outros países têm 1% ou 2% de área útil. Nossas dificuldades dependem de nós. O Brasil vai mudar quando o brasileiro mudar.”
Ao analisar o cenário internacional e os reflexos no campo, Cabrera frisou que o agronegócio continua sendo a força central da economia nacional. “Metade das exportações brasileiras são produtos agrícolas. O que acontece no agro reflete no comércio local, na mesa das famílias”, citou. Ele reforçou que um dos maiores desafios atuais está na comunicação: “Se nós, agricultores, não contarmos a nossa história, alguém vai contar. E muitas vezes narram de forma enviesada. Os maiores fake news do Brasil hoje são sobre a Amazônia e sobre o agronegócio.”
A sustentabilidade também ocupou parte importante da fala de Cabrera. Segundo ele, o Brasil não é apenas um dos maiores produtores de alimentos, mas “o maior exportador de sustentabilidade do planeta”. Para o ex-ministro, nenhum país produz proteína animal ou vegetal de forma tão conservacionista quanto o Brasil faz hoje.
Ao comentar o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, Cabrera fez críticas à postura do governo brasileiro. “O Brasil tem hoje a tarifa mais alta. O governo não agiu. Vimos até o México negociar diretamente, enquanto nossa redução só aconteceu pela necessidade dos americanos, que enfrentam inflação e têm carne muito mais cara que a nossa”, explicou.
A presença do ex-ministro foi enaltecida pelo prefeito de Lucas do Rio Verde, Miguel Vaz, que destacou a relevância do debate para uma região que tem no agro sua base econômica. “É uma satisfação receber alguém com conhecimento global. A experiência dele agrega muito e traz informações fundamentais para o nosso agronegócio”, afirmou o prefeito.
Rodada técnica
O delegado da Aprosoja em Lucas do Rio Verde, Gilberto Eberhardt, destacou o caráter técnico da rodada e a abertura ao diálogo. “Ele traz informações sobre mercado, política e comportamento do agro brasileiro. Isso direciona o produtor”, disse. Ele lembrou que, mesmo em um ano marcado por falta de chuva, a entidade tem atuado com informações e suporte ao produtor. “Aprosoja faz um ótimo trabalho levando dados, necessidades e acompanhando demandas do dia a dia.”
Para o presidente do Sindicato Rural, Tiago Cinpak, a participação de lideranças com experiência política amplia a visão estratégica do produtor. “É importante ouvir quem já ocupou cargos e manteve rede de contato. Isso ajuda o produtor a entender perspectivas e desafios globais em um momento de instabilidade, tarifaço nos EUA e guerra na Ucrânia”, avaliou. Cinpak lembrou ainda que a falta de chuvas trouxe impacto irregular no estado. “Lucas teve de 10% a 15% das áreas com déficit hídrico, mas a chuva recente amenizou bastante. Ainda assim, há perdas em manchas. A fase atual da soja exige atenção máxima.”

A delegada da Aprosoja, Taísa Botton, reforçou que a presença de Cabrera é estratégica, sobretudo diante da reforma tributária. “Ele é um expoente do agro e já viveu diversas adversidades. Hoje, a gestão é o ponto central. Quem não tiver organização vai enfrentar dificuldades”, disse. Ela observou que, embora a chuva tenha retornado, há impactos preocupantes no estado. “Mato Grosso ainda tem regiões com déficit. Atrasos no plantio vão refletir na colheita de janeiro, que deve ocorrer com altos volumes de chuva, o que pode comprometer entregas já contratadas.”
O encontro terminou marcado pela convergência das falas: comunicar mais, unir mais e preparar-se melhor para um ciclo que promete desafios intensos — de clima, mercado e política — mas também oportunidades para quem souber se adaptar. Em Lucas do Rio Verde, o diálogo aberto mostrou que, apesar das incertezas, o agro segue firme como motor da economia e protagonista das transformações em curso no país.

















