A diretora do Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), Sinara Rúbia, relembra sua caminhada marcada por ativismo, cultura e resistência, desde sua infância no interior do Rio de Janeiro até o comando de uma das principais instituições dedicadas à valorização das narrativas negras. Ligada ao Candomblé e formada em artes e educação, ela reforça o papel do museu como espaço vivo e quilombola, dedicado tanto ao acervo material quanto ao patrimônio imaterial afro-brasileiro.
A trajetória de Sinara inclui episódios de racismo, acolhimento pelo movimento de mulheres negras e a criação da performance inspirada no Partido dos Panteras Negras, nascida no Grupo Cultural Balé das Iyabás. A performance estreou no carnaval de 2014, com referências simbólicas à ancestralidade e às lutas negras, e ganhou projeção nacional em 2015, durante a I Marcha das Mulheres Negras, em Brasília, quando as imagens viralizaram.
A ativista lembra que trocou a representação de uma metralhadora por uma espada, símbolo de Oyá, para respeitar mães negras que associavam armas à violência. “Eu sou uma pantera negra do meu tempo, educadora e ativista”, afirma, destacando sua atuação na formação de professores e no trabalho com tradição oral.
Na marcha de 2015, marcada por defesa de direitos e denúncias de violência, o ato foi interrompido por tiros disparados por policiais civis. Uma década depois, Sinara aponta que mulheres negras seguem na base das desigualdades, apesar de avanços individuais. Mestra, doutoranda e autora de seis livros, ela pesquisa o trabalho de erveiras e dedica sua gestão no Muhcab à reparação histórica e cultural.
À frente do museu, contribuiu para fortalecer a narrativa sobre a redescoberta do Cais do Valongo e consolidar o espaço como referência de memória, identidade e protagonismo. Inspirada pela ideia de “nós ganhando”, Sinara valoriza expressões como capoeira, samba, maculelê e quilombos.
Na véspera do Dia da Consciência Negra, inaugurou com a arquiteta Gisela de Paula o Espaço Berê, uma galeria dedicada à arte negra que busca conectar afeto, ancestralidade e comunidade. Para ela, questionar acervos coloniais e fortalecer museus negros é parte essencial da reparação.
O próximo passo será em Brasília, no dia 25, quando volta a empunhar a espada de Iansã em mais uma ação de mobilização. Para Sinara, os ventos seguem soprando a favor.






















